Por Camila de Lira.
A sigla ESG, que embarca nas ações ambientais, sociais e de governança das empresas, ganhou novos significados ao longo dos últimos anos.
A emergência climática trouxe urgência para adoção da agenda ESG pelo mundo e especialmente no Brasil. O que esperar de 2024 quando o tema é ESG no país?
1. Hora de enfrentar a crise climática
Em 2024, as companhias terão que enfrentar “apenas” o maior desafio que a humanidade já encarou: conter o caos climático. A urgência da pauta climática pede ações diretas das companhias.
“A palavra que se destaca é enfrentamento. Enfrentamento às mudanças climáticas. Como consequência, as pessoas cobrarão ações concretas e prevenção ágil por parte dos governantes e das empresas”, afirma a especialista em estratégia criativa, pesquisadora, professora da Fundação Dom Cabral e coautora do Radar da Antifragilidade, Erlana Castro.
Em 2024, o tema, que já era bastante central nas discussões sobre sustentabilidade, se tornará essencial para todas as áreas – da produção aos recursos humanos.
A crise climática vai ser contabilizada como risco financeiro por parte das grandes companhias, mas ainda não deve mudar a mentalidade de longo prazo de muitos gestores, afirma Fabio Alperowitch, fundador da Fama re.capital, primeira gestora de fundos sustentáveis do país.
“Talvez as pessoas entendam que a mudança climática existe porque vão ver catástrofes, mortes, e vão passar calor. Marginalmente ajuda, mas muito longe da velocidade necessária”, afirma.
O cenário menos otimista pintado por Alperowitch também faz parte daquilo que as companhias precisarão encarar em 2024.
2. Biodiversidade na agenda
Assim como a mudança climática, a biodiversidade começará a ser assunto dos conselhos de administração e das empresas. Segundo o fundador da Fama re.capital, a preservação de biomas e de biodiversidade entrará nas rodas de discussões de investidores.
Estimativas do Fórum Econômico Mundial mostram que mais da metade das produções globais são, pelo menos, moderadamente dependentes da biodiversidade.
“A emergência climática trouxe urgência para adoção da agenda ESG pelo mundo e especialmente no Brasil”.
A possibilidade do colapso de biomas apresenta uma série de riscos sistemáticos tão abrangentes quanto às mudanças climáticas. Questões como a desertificação de algumas áreas ou os incêndios de alta proporção são conectadas à degradação de biomas.
Segundo a consultoria MSCI, o cálculo do impacto na biodiversidade mudará o foco das discussões sobre ESG da emissão de carbono para o impacto nos ecossistemas. Ou seja, no lugar de analisar apenas o quanto emitem de CO2, as análises vão contabilizar a maneira como as empresas usam os recursos naturais.
Essa tendência também aponta para maior investimento em soluções baseadas na natureza e em biomimética.
3. Inteligência artificial no radar do ESG
O uso da inteligência artificial generativa será também assunto da agenda ESG em 2024. Especialmente no tocante à cibersegurança. Na opinião da codiretora executiva do Olabi (organização dedicada a diversificar a cena de tecnologia e inovação), Sil Bahia, a proteção de dados e de informações das empresas entrará na discussão quando se trata de IA generativa.
“Vimos muitas demonstrações de aplicações da IA nos últimos dois anos. Em 2024, as empresas vão discutir a questão da cibersegurança, sobre como darão conta de lidar com a segurança digital dentro do ambiente da IA generativa”, afirma Sil.
4. Menos greenwashing
Em 2024, o consumidor deve exigir mais ações efetivas. É o que a consultoria MSCI chama de “protopia”, ou seja, medidas práticas para enfrentamento da crise climática e social.
Embora seja pouco otimista em relação a muitos pontos da agenda ESG nas empresas brasileiras, Alperowitch acredita que haverá menos greenwashing por conta desse olhar mais atento da audiência e dos investidores.
“O uso da IA generativa será também assunto da agenda ESG em 2024, especialmente no tocante à cibersegurança”.
Para Erlana Castro, a exigência será para que as marcas sejam cidadãs e com ativismo. Segundo a especialista, a tendência é de que os relatórios de ESG sejam cada vez mais um espaço de comunicação e educação sobre a agenda do que apenas de demonstração de números.
A preocupação com o bem-estar e com a diversidade dos funcionários também fará parte da agenda, acredita Mafoane Odara, diretora de pessoas, cultura e transformação da Zamp, máster franqueada do Burger King e do Popeyes no Brasil. A executiva bate na tecla da transparência – que, de certa forma, é o “anti-greenwashing”.
“No tema de governança corporativa, a transparência e a integridade na gestão serão aspectos críticos, especialmente com a crescente cobrança da sociedade às empresas para uma atuação mais propositiva e de impacto social positivo”, afirma Mafoane.
5. 2024 só termina em dezembro de 2025
Em 2025, o Brasil vai sediar a Conferência do Clima (COP30). Pela primeira vez, o evento será sediado na Amazônia – mais especificamente, em Belém do Pará. Além de espaço para debates, a conferência servirá ainda como uma vitrine para os negócios brasileiros.
O evento vai movimentar as empresas já em 2024 e servir como incentivo a ações em áreas como redução de emissões de carbono, uso de energia renovável e gestão de resíduos. Para Mafoane, o Brasil ser sede do “mais importante evento internacional sobre o clima” significa que os negócios do país não poderão fugir das questões climáticas.
Em outras palavras, as ações em 2024 só vão acabar depois da COP30. “Será um ano muito importante para a consolidação da pauta ESG e só vai terminar depois da COP de Belém, lá em dezembro de 2025”, diz Erlana.
Fonte: Fast Company Brasil.