Essa semana saiu o anuário, preparado pela Bells & Bayes Rating Analytics, que consolida os resultados constatados acerca do reporte (ainda voluntário) de práticas ESG por parte do conjunto de empresa adotantes de práticas superiores de governança corporativa no Brasil, conhecido como Novo Mercado da B3 (Bolsa – Brasil – Balcão).
Nesse documento estão cobertas 191 empresas, o que representa mais de 98% do número de empresas listadas no estrato superior de governança da bolsa brasileira (B3). E, dentre os principais achados tem-se:
– 24% das Companhias informaram que consideram aspectos ESG na remuneração da alta administração;
– 127 Companhias (mais de 66%) alegam divulgar Matriz de Materialidade e respectivos KPIs;
– Mulheres estão ausentes da Diretoria em 50% das Companhias, no Conselho estão ausentes em 27%.
– 156 (82%) das Companhias informaram não possuir, ou não mencionaram objetivos específicos de diversidade de participantes na alta administração.
– 121 (63%) das Companhias publicaram algum tipo de documento a título de Relatório de Sustentabilidade, mas apenas 29% utilizaram auditoria ou asseguração externa.
– 61 (32%) das Companhias não reportam ou não consideram os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) materiais para o seu negócio.
– 4% é a parcela de pardos ou negros na Diretoria executiva, 3% é a parcela de assentos ocupados nos conselhos de administração.
– 135 (70,7%) informaram considerar oportunidades ESG em seu plano de negócios, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).
– Em termos de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) 52,9% das Companhias alegaram monitorar os escopos 1 e 2. Já o escopo 3 aparece como monitorado em 46% dos casos.
Não é à toa que, faltando apenas 6 anos para o fim da Agenda 2030, o progresso atual está muito aquém do que é necessário. Além de apenas 17% das metas estarem no caminho certo, quase metade apresenta progresso mínimo ou moderado e mais de um terço está estagnado ou regredindo. (Nações Unidas, 2024).
Isso que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar da paz e de prosperidade, diminuindo as desigualdades. São 17 objetivos ambiciosos e interconectados que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo.
Para Carlo Pereira, CEO da Rede Brasil Pacto Global, “não vamos construir um futuro em Marte” e, ao falar da importância do setor privado na transição para uma nova economia, ele afirma “Somos 60% do PIB, 80% do fluxo de capitais e 90% dos empregos. Escolhemos fazer essa transição porque é o correto”, afirma o executivo. Para Sanda Ojiambo, CEO Global do Pacto, “business as usual” não é uma opção. Ou o setor empresarial se transforma, ou será engolido pelos efeitos das mudanças climáticas e das convulsões sociais decorrentes desse processo. (Exame, 2022).
O relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF), The Global Risk Report, 2024 afirma que, nos próximos dois anos, além da desinformação e informação errada, teremos eventos climáticos extremos, polarização social, insegurança cibernética, conflito armado interestadual, falta de oportunidade e econômica, migração involuntária, queda econômica e poluição.
Para os próximos 10 anos, além de todos esses, chama a atenção que dos top 10 riscos, 5 são ambientais – eventos climáticos extremos, mudança original nos ecossistemas terrestres, perda da biodiversidade e colapso do ecossistema, escassez de recursos naturais e poluição.
Então, estamos esperando mais o quê?
Que estas empresas deem mais atenção a Resolução CVM (Comissão de Valores Mobiliários) n.º 59 que altera as regras do Formulário de Referência, ampliando as exigências de divulgação de informações sobre os aspectos ambientais, sociais e de governança, à exemplo de seu item 1.9, o qual indica:
– Se o emissor divulga informações ESG em relatório anual ou outro documento específico para essa finalidade;
– A metodologia ou padrão seguidos na elaboração desse relatório ou documento;
– Se esse relatório ou documento é auditado ou revisado por entidade independente, identificando essa entidade, se for o caso;
– Se o relatório ou documento produzido considera a divulgação de uma matriz de materialidade e indicadores-chave de desempenho ESG, e quais são os indicadores materiais para o emissor;
– Se o relatório ou documento considera os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas e quais são os ODS materiais para o negócio do emissor;
– Se o relatório ou documento considera as recomendações da Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas às Mudanças Climáticas (TCFD) ou recomendações de divulgações financeiras de outras entidades reconhecidas e que sejam relacionadas a questões climáticas;
– Se o emissor realiza inventários de emissão de gases do efeito estufa, indicando, ser for o caso, o escopo das emissões inventariadas e a página na rede mundial de computadores onde informações adicionais podem ser encontradas.
Ou, ao não o fazer, que o emissor explique o porquê.
“Dar certo, fazendo o certo, do jeito certo”. Fábio Barbosa, CEO da Natura.
Empresas que incorporam esses princípios em suas práticas operacionais buscam não apenas o sucesso financeiro, mas também a sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa. Essa abordagem se tornou cada vez mais relevante para investidores, consumidores, reguladores, de maneira geral.
Ao adotar tal abordagem podem se beneficiar com acesso ao capital, reputação da marca, resiliência operacional, conformidade regulatória. É importante ressaltar que a abordagem ESG não é apenas uma questão de marketing, mas sim, uma mudança de mindset, fundamental na forma como as empresas operam, incorporando considerações éticas e de sustentabilidade em seu núcleo (processos decisórios).
Referências Bibliográficas:
Bells & Bayes Rating Analytics. ESG Disclosure Yearbook Brasil 2024. 1.ª edição.
Exame. Nova agenda do Pacto Global da ONU pede salário digno e ambição climática
Nações Unidas Brasil. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável