Executivos experientes têm se voltado cada vez mais para uma reflexão sobre como equilibrar ambição profissional e bem-estar pessoal. Com o passar dos anos, o questionamento sobre o uso do tempo e a relevância das motivações pessoais na carreira ganha importância, o que coloca em evidência uma nova abordagem nos negócios.
Uma pesquisa da Deloitte destaca essa mudança recente, mostrando que atualmente 61% dos executivos priorizam o bem-estar como um valor central. Além disso, 84% dos entrevistados afirmaram que melhorar sua saúde mental, física e financeira é uma prioridade máxima. Esses dados refletem a busca por uma vida profissional mais integrada, em que o sucesso não está apenas nas metas atingidas, mas também em uma relação mais harmoniosa com o tempo e com a própria trajetória.
O cenário contrasta com o de uma década atrás, quando apenas 25% das empresas tinham programas voltados à saúde integral e a saúde mental raramente entrava na pauta corporativa. A pandemia acelerou essa mudança, conectando o desempenho das empresas ao bem-estar dos funcionários.
Andrea Eboli, estrategista de negócios com mais de 25 anos de experiência, comenta sobre essa mudança de perspectiva. “O amadurecimento traz uma nova visão sobre o que significa realmente conquistar. Não é mais só sobre bater metas, mas sobre viver de forma alinhada aos próprios valores e interesses, mantendo um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”, afirma Eboli.
Redescobrindo o valor do tempo
A forma como os executivos percebem o tempo também muda com a maturidade. Para muitos, o conceito vai além das horas de trabalho e passa a englobar a percepção de oportunidades pessoais deixadas de lado. Esse entendimento marca o início de uma nova fase, onde se procura valorizar o tempo de forma mais consciente e estratégica.
Andrea Eboli destaca essa transição como um momento de reavaliação pessoal. “Essa segunda fase permite aos profissionais resgatarem partes de si que foram deixadas de lado em prol do trabalho. Esse processo é um convite à autodescoberta e ao autoconhecimento. As pessoas percebem suas vidas como uma estrutura de vários pilares e eles precisam estar alinhados para ela fique de pé da forma adequada”, observa Eboli.
Líderes que abraçam essa visão tendem a repensar suas escolhas e metas. Muitos que investiram décadas na construção de suas carreiras agora buscam expandir suas atividades, explorando momentos de lazer ou novos interesses. Esse equilíbrio gera benefícios tanto na vida pessoal quanto no ambiente corporativo, em que líderes mais conscientes tendem a trazer estímulos de qualidade de vida para suas equipes.
Uma vida integral como pilar da liderança
Executivos que atravessam essa transição na carreira relatam uma mudança em seu estilo de liderar. Andrea Eboli acredita que, ao priorizar o bem-estar, esses líderes criam uma cultura mais acolhedora e produtiva nas empresas.
“Liderar a partir de uma visão de vida mais integral, além do trabalho, gera uma conexão mais humana com a equipe, e esse impacto positivo se reflete em resultados. É uma liderança que vai além da gestão de processos e busca uma transformação no dia a dia”, ela explica.
Para que essa abordagem se concretize, os executivos podem começar revisitando seus valores e identificando quais aspectos da vida precisam de mais atenção. Priorizar atividades que estejam em sintonia com essas prioridades é um primeiro passo para manter um equilíbrio saudável. Incorporar práticas diárias, como meditação, exercícios físicos ou momentos de reflexão também pode auxiliar a reduzir o estresse e aumentar a capacidade de liderança, preparando-os para decisões mais conscientes.
Além disso, é importante que os líderes se permitam desenvolver interesses fora do ambiente de trabalho. Dedicar tempo a hobbies ou atividades paralelas enriquece sua perspectiva e contribui para um bem-estar mais completo. Também é benéfico fomentar uma cultura organizacional que valorize o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, com políticas como horários flexíveis ou apoio à saúde mental. Essas práticas beneficiam as empresas e enriquecem a vida dos líderes, que passam a encontrar um novo significado em suas trajetórias.
“No final, o tempo não é só o que já passou, mas também o que ainda temos à frente. A maturidade nos ensina a usá-lo com mais consciência, em busca de uma vida e uma carreira que realmente façam sentido”, conclui Eboli.