A Organização Mundial da Saúde (OMS) caracteriza a insegurança alimentar como a condição vivida pelas populações que não possuem acesso permanente ou temporário a alimentos próprios para o consumo, contexto vivenciado por mais de 2 milhões de brasileiros em 2022. Esse cenário, gerado principalmente por questões econômicas, se torna, em conjunto, um agravante de uma crise sanitária envolvendo a intoxicação alimentar, que causa a morte de mais de 600 mil brasileiros por ano, segundo estudo realizado pela OMS em 2024.
O nutrólogo Plínio Cesar, que atende no Centro Clínico do Órion Complex, em Goiânia, explica que o leite ou derivados contaminados, destacando o leite cru, sem a pasteurização é um dos maiores vetores de infecções alimentares. “Consumir essa classe de alimentos sem o devido manuseio pode gerar doenças como tuberculose, brucelose, listeriose, salmonelose, campilobacteriose, hepatite A ou E”, explica o doutor.
Popularmente, o leite cru é visto como mais saudável em relação ao leite longa vida. Porém, é importante saber que mesmo após o ritualístico processo de fervura antes do consumo do leite in natura, o risco de contaminação ainda existe a depender das condições de armazenamento.
O processo de envase do leite longa vida também é conhecido como UHT, uma abreviação do inglês para ultra-high temperature, ou seja: tratamento do leite com altas temperaturas. Na Marajoara Laticínios, indústria alimentícia do interior de Goiás, em Hidrolândia, com mais de 30 anos de história, o leite in natura é recolhido de produtores rurais parceiros e armazenado em tanques com isolamento térmico. Imediatamente após a chegada do leite, uma amostra do carregamento é submetida à testagem de qualidade.
“Caso o produto esteja dentro dos padrões, a descarga do leite a partir do caminhão é feita num tanque de resfriamento físico, e depois é encaminhado para a sala de pasteurização, onde são eliminadas 85% das bactérias presentes no leite”, explica Vinícius Junqueira, diretor de marketing da Marajoara.
Após esse processo, o alimento é direcionado para a sala de esterilização, onde são eliminados os outros 15% das bactérias que permaneceram após a pasteurização. “Não há conservantes”, esclareceu Vinícius.
Depois, o leite já é direcionado para o envase na caixa asséptica, sem contato com as bactérias do ambiente. De acordo com Vinícius Junqueira, esse é o motivo de o leite durar 4 meses dentro da embalagem: “como no envase são eliminadas 99,9% das bactérias, aquele leite só será contaminado depois que a embalagem for aberta. Após a violação do lacre, aquele produto tem validade de dois dias, já que teve contato com o ar e com as bactérias do ambiente”, diz Vinícius.
De acordo com o diretor, todo o processo é feito respeitando as normas de biossegurança para minimizar os riscos de contaminação e de contágio de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs). Para o nutrólogo Plínio Cesar, conhecer a procedência dos alimentos, assim como estar atento às datas de validade impressas nas embalagens, são de crucial importância para a prevenção contra as DTAs. “Nós temos mais de 250 tipos de doenças que podem ser transmitidas por alimentos, sendo que podem ser doenças que apresentam um quadro mais leve e passageiro, mas também tem doenças que levam a casos mais graves levando até um risco de morte para a pessoa. Por isso é importante saber a procedência e a origem daquele alimento, bem como a qualidade, o que vale para alimentos naturais e industrializados”, conclui o doutor.