De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos de câncer no mundo deve aumentar em 77% até 2050, tornando a doença uma das maiores cargas de saúde global, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares. O diagnóstico tardio continua sendo um dos principais obstáculos para o sucesso do tratamento. Este é um desafio que a deeptech Huna pretende ajudar a solucionar, aplicando Inteligência Artificial aos resultados de exames de sangue simples, como o hemograma, ajudando na detecção precoce da doença.
A startup desenvolveu uma tecnologia exclusiva e patenteada, em parceria com os principais laboratórios e hospitais oncológicos do país, para identificar os riscos da presença de diferentes tipos de câncer, através de uma plataforma que apoia gestores de saúde, públicos e privados, com uma triagem mais inteligente. Segundo os primeiros resultados, a tecnologia da Huna pode antecipar em até 16 semanas o diagnóstico de câncer, reduzindo o tempo até o início do tratamento e aumentando a eficiência operacional das instituições de saúde.
“Há anos trabalho com diversos tipos de dados de saúde, como laudos de tomografias, raios X, biópsias e outras imagens. No entanto, os dados sanguíneos me chamaram atenção, pois percebi que exploramos pouco o potencial de um exame de sangue”, afirma Daniella Castro, PhD em Inteligência Artificial, CTO e Cofundadora de Huna. Foi dela a ideia de começar a Huna ao lado de Vinicius Ribeiro e Marco Kohara, com quem dividiu alguns anos de experiência participando de uma série de projetos de pesquisa em áreas como predição da Doença de Alzheimer, diagnóstico da Covid-19 e prognóstico clínico de outras doenças. Os três cofundadores da Huna vieram da Kunumi, empresa pioneira em inteligência artificial no Brasil, recentemente adquirida pelo Bradesco.
“As inovações em saúde costumam ser caras, gerando custos elevados para um setor historicamente pressionado. Nosso diferencial é a aplicação de tecnologia de ponta para reutilizar exames, potencializando o valor dos dados já disponíveis nas instituições de saúde”, complementa Vinicius, CEO da empresa.
Dois anos após sua primeira captação, a equipe da Huna já soma 17 artigos científicos publicados, uma dezena de prêmios nacionais e internacionais conquistados, e uma das maiores bases de dados do mundo – com mais de cinco milhões de exames – consolidada.
Recentemente, a Huna levantou aproximadamente US$1,5 milhão em uma extensão de investimento pré-seed entre fundos de venture capital e investidores-anjo. A rodada foi liderada pela Kortex Ventures e contou com a participação adicional dos investidores iniciais big_bets e Niu Ventures. Também atraiu a New Ventures Capital, gestora especializada em investimentos de impacto na América Latina. Além dos fundos, a Huna chamou a atenção de nomes relevantes dos setores de saúde e tecnologia, incluindo empreendedores seriais internacionais e médicos americanos que se tornaram investidores-anjo. Entre eles, destaque para Bebeto Nogueira, scout da a16z no país.
Com o início de suas atividades em 2023, a Huna focou esforços na pesquisa e validação clínica de seu primeiro algoritmo, voltado para o câncer de mama. O trabalho rendeu uma publicação na revista Nature, uma das mais conceituadas do mundo, tendo sido destaque entre os Top 100 artigos sobre câncer em 2024.
“Em menos de dois anos, testamos a tecnologia em mais de meio milhão de hemogramas nas saúde pública e suplementar, comprovando que conseguimos transformar um dos exames mais simples e baratos do mundo em uma ferramenta poderosa para acelerar o diagnóstico de câncer. Encontramos centenas de casos de câncer – muito mais do que em uma triagem tradicional, tudo isso só reaproveitando dados já disponíveis”, afirma Vinicius. “Estamos enfrentando um desafio global, e os dados sanguíneos podem ser o melhor vetor para desenvolver e escalar tecnologias que contribuam para sua solução. A Huna está criando tecnologias para ampliar o acesso a esse recurso, levando em conta as particularidades de cada sistema de saúde e, acima de tudo, as necessidades dos pacientes”, conclui.
O foco da nova rodada é expandir o portfólio de pesquisa, mirando uma plataforma “multi-câncer” para mais quatro tipos de câncer e ampliar a capacidade de processar dados de diferentes parceiros do sistema de saúde. O objetivo é oferecer ao setor soluções para os principais tipos de câncer recomendados para rastreamento por sociedades médicas.
A estratégia da Huna segue a mesma metodologia usada no desenvolvimento do algoritmo para câncer de mama, buscando tornar o rastreamento mais eficiente em escala global. Já foram gerados novos algoritmos para câncer de colo de útero e colorretal, com trabalhos aprovados para apresentação na edição de maio da Conferência da ASCO – American Society of Clinical Oncology (Sociedade Americana de Oncologia Clínica), uma das mais prestigiosas do mundo.