A carreira não é linear; é essencial estar sempre preparado para os percalços.

Conheça a história de Alessandro Baldoni - Vice-presidente sênior na PIMCO

Divulgação

O meu apreço pelo mercado financeiro despontou quando eu ainda era bastante jovem, o que me proporcionou delinear um plano de carreira bem-estruturado. Dediquei-me com afinco e disciplina no início da minha trajetória profissional para alcançar os meus sonhos e, desta maneira, consegui me posicionar como um executivo de sucesso. Sempre amparado pela ética e por relações robustas sou, desde 2016, vice-presidente sênior na PIMCO e atuo na empresa desde 2014.  

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Nasci em 25 de dezembro de 1980, e vivi no Rio de Janeiro até os 26 anos de idade, em uma família de classe média, sem muitos luxos, mas sem que nada me faltasse. Meu pai era gaúcho e minha mãe cearense. Cada um saiu de um extremo do Brasil e acabaram constituindo família no Rio de Janeiro.

Estudei a vida toda no Colégio Santo Agostinho, instituição muito prestigiada, forte e exigente. Desde jovem, acalentava o sonho de ser bem-sucedido e, por esta razão, buscava ler bastante, principalmente revistas sobre negócios, com destaque para a Exame. Sem dúvida, tal iniciativa ajudou a me inspirar em pessoas que alcançaram êxito em suas trajetórias, e logo notei como o mercado financeiro – à época o mais dinâmico – se tratava de uma área especial, a qual abrangia a maior quantidade de profissionais vitoriosos.

Amparado pela ambição de ingressar nesse segmento, optei por realizar Administração de Empresas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), onde me graduei em 2002. Contudo, formei-me em uma fase na qual o mercado estava bastante ruim, com o dólar atingindo nível recorde e as oportunidades de trabalho eram escassas. Contava com um currículo bom, inclusive por ter estagiado na Shell, mas demorei para lograr o meu espaço. 

Participei de inúmeros programas de trainee e acabei sendo aprovado na KPMG, empresa de consultoria e auditoria, conhecida como uma das Big Four, as quatro maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo. Iniciei como trainee, e cheguei até consultor sênior. Neste período, trabalhei muito e assimilei aprendizados valiosos, durante os cinco anos em que permaneci na companhia, até enfim conseguir migrar para o mercado financeiro.

Durante todo o periodo em que estive na KPMG, busquei oportunidades no mercado financeiro. Busquei me aprimorar academicamente ao iniciar o mestrado em Engenharia de Produção na Universidade Federal Fluminense e conciliava o trabalho com os estudos, algo complexo, porém responsável por me guarnecer uma base sólida.

O início da trajetória no concorrido mercado financeiro

Em setembro de 2007, surgiu a tão aguardada oportunidade de ingressar no mercado financeiro, como Analista de Equities na Kinea Investimentos – que na época estava começando, mas hoje é uma organização gigantesca. Como a Kinea fica baseada em São Paulo, eu tive que abandonar o mestrado. Foi uma decisão difícil, mas se provou um dos maiores acertos da minha carreira. Saliento como significou como o meu primeiro turning point

Pontuo como o aprendizado contínuo é fundamental para conseguir se destacar no mundo corporativo. No mercado financeiro, as coisas mudam o tempo todo, então só sobrevive quem está constantemente estudando e aprendendo. Além disso, valido como os diplomas são muito importantes no início da carreira, mas à medida que o profissional cresce, a performance torna-se o principal diferencial. Sempre trabalhei em multinacionais, ou seja, dominar o inglês é imprescindível. Estudei espanhol, italiano e francês, mas na prática, o idioma do mundo dos negócios é o inglês. Não basta falar inglês, é necessário falar muito bem.

Ressalto como o mercado financeiro é bastante restrito, então, considero prioritário correr atrás de uma chance desde jovem, com energia. Na Kinea, passei a ganhar três vezes mais e a ficar exposto – as pessoas começaram a me conhecer melhor, a notar o meu potencial. Trabalhava demais, sempre entregando algo a mais, a milha extra, com sangue nos olhos, característica que considero como um pré-requisito.

Pouco tempo depois, em junho de 2008, recebi a proposta para migrar rumo ao Morgan Stanley, um dos maiores bancos de investimentos do mundo, o que marcou outro grande salto na carreira, dobrando o que ganhava. Em menos de um ano, eu passei a ganhar seis vezes mais. Sendo que, com tal movimentação, entrei no circuito deste mercado de vez.

Desafios complexos e aprendizados essenciais para crescer

Todavia, em setembro de 2008, houve a crise financeira, com o colapso do mercado global e precisei me desdobrar. Havia, inclusive, o risco de o sistema financeiro americano colapsar. Nesta época, trabalhava arduamente todos os dias. Durante os últimos quatro meses de 2008, eu trabalhei todos os dias, incluindo todos os sábados, domingos e feriados. Virei inúmeras noites no escritório. Naquela época não existia opção. Era trabalhar e não reclamar. Em 2009, a situação foi se apaziguando aos poucos e entrei em uma fase fantástica, porque havia sobrevivido à tormenta, prosseguia performando muito bem, assumindo mais responsabilidades. 

Contudo, diria que, pouco depois, cometi o meu primeiro erro. Como havia crescido muito rápido na carreira, acabei me deixando levar por uma certa arrogância. Assim, em 2011, quando estava com 30 anos, recebi uma proposta do Deutsche Bank e resolvi aceitar, para liderar um time maior, com novas possiblidades de crescimento e exposição. Obtive excelentes resultados na instituição, inclusive, estava muito bem colocado no institutional investor, um ranking que avalia os melhores profissionais de equities do mercado. Porém, o banco entrou em crise na matriz e teve que cortar drasticamente o tamanho em diversas subsidiárias, incluindo o Brasil.

Casei-me em outubro de 2012 com a Michelle, com quem estou casado até hoje. Ao retornar da nossa lua de mel, meu chefe do Deutsche Bank me chamou para comunicar a minha demissão. Encontrava-me no auge e, repentinamente, tudo desmoronou. Foi um momento extremamente difícil de superar, além de ter coincidido com o mercado brasileiro novamente em baixa. Amparado pela resiliência, voltei a procurar por oportunidades, ciente de que, estando desempregado, não contava com o poder de barganha na hora de negociar cargos e salários.

Permaneci quase cinco meses fora do mercado, até obter uma vaga no Santander Asset Management, em maio de 2013, porém, para ganhar bem menos, em uma posição inferior. Enfim, fui obrigado a dar um passo para trás na carreira para conseguir me recompor pacientemente.

A ascensão à posição de vice-presidente sênior na PIMCO

A minha grande virada ocorreu em agosto de 2014, quando surgiu a oportunidade de ingressar na PIMCO, minha atual empresa, configurando o meu maior “pulo do gato” como profissional. A companhia não é tão conhecida no Brasil, mas trata-se de uma potente gestora de recursos, com centenas de fundos de investimentos, com quase dois trilhões de dólares sob gestão no mundo inteiro.

A PIMCO é uma das maiores gestoras de recursos do mundo, bastante relevante e influente. Somos os maiores investidores em diversas empresas do Brasil e do mundo. 

É uma empresa dificílima para ingressar; o meu processo foi trabalhoso e demorou meses. Na fase final, tive de viajar para a Califórnia, onde fica a sede, para realizar uma série de entrevistas. A PIMCO realiza um processo de diligência muito forte, pelo fato de ser uma das instituições mais desejadas para se trabalhar.

Sem dúvida, todo o empenho foi recompensado, haja vista como entrei em uma das instituições mais sólidas do segmento, sendo que no começo a empresa me alocou na Califórnia durante alguns meses para me adaptar à cultura da instituição.

Permaneci essa temporada na Califórnia, inteirando-me acerca dos processos, mas devidamente contratado para trabalhar no Brasil. Assim, regressei para trabalhar no escritório situado no Rio de Janeiro. Enfrentamos e superamos com sucesso a crise de 2015 e 2016, época de forte recessão no país.

Nessa época, nasceu meu primeiro filho, Gustavo, em junho de 2016.

No começo de 2018, eu tive a oportunidade de me mudar para Londres. Originalmente, minha função na PIMCO era head de research para a América Latina. Em Londres, eu me envolvi também com o time de investimentos estruturados e virei o point person dessa estratégia para a América Latina. Passei três anos em Londres, o que foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida – tanto do lado profissional quanto do lado pessoal. Em Londres nasceu minha filha caçula, Laura.

Por questões familiares, resolvemos retornar ao Brasil. Após minha família se sacrificar pela minha carreira, enfrentando tantas mudanças, era chegada a hora de eu me sacrificar pela minha família. Em função de ser uma empresa global, eu preciso viajar constantemente – é algo que faz parte do processo e provém vivências muito interessantes.

Saliento como respeitamos o ESG. As práticas começaram na Europa e nos Estados Unidos antes mesmo de ser uma pauta reconhecida no Brasil e, como praticamente sempre trabalhei em empresas estrangeiras, tive contato direto com as diretrizes muito antes de elas chegarem ao Brasil. Dentro da PIMCO, possuímos diversos fundos dedicados ao ESG, e contamos também com um time de análise focado nisso.

O excesso de confiança pode estagnar ou encerrar a carreira

Ao ser indagado sobre a principal armadilha do mundo corporativo, costumo destacar como o excesso de confiança pode se tornar perigoso. Quando se combina juventude com crescimento muito rápido, isso pode ocasionar em erros. Os aprendizados demandam maturidade, tempo para assimilar conhecimentos. No meu caso, tomei uma decisão, de trocar de emprego para acelerar a minha carreira, e acabei dando um passo para trás. Com isso aprendi que a paciência é uma virtude fundamental. Às vezes precisamos esperar o tempo certo para fazer uma movimentação.

Além disso, compreender como a carreira não é linear retrata um aspecto primordial na etapa de planejar a jornada. Sempre nos depararemos com momentos bons e ruis e o importante é não se deixar abater, seguindo adiante, sem jamais desistir. E nas fases boas, requer atuar com humildade, ciente de que está bem, evitando ser consumido pela arrogância. São processos cíclicos, pois quando somos novos, pensamos que a carreira funciona como em uma planilha, mas tal pensamento não se confirma na prática.

Existem determinados aspectos que não ficam sob o controle, portanto, requer estar preparado, já atento ao que pode vir a acontecer. Enfim, trata-se de controlar o que é possível, disposto, mas sem sofrer por antecipação. Em determinado momento, caso haja dedicação, disciplina e comprometimento, certamente as coisas irão melhorar.

Valorize as relações interpessoais e atue sempre com ética

O mundo está ficando cada vez mais digital, com os processos acontecendo no mundo virtual, mas, no mundo dos negócios, as relações interpessoais continuam sendo muito importantes, incluindo todos os níveis, como a interação com subordinados, pares, lideranças e clientes.

É fundamental continuar sempre tendo e valorizando as relações, com diálogos assertivos. Ressalto como o líder atual deve saber ouvir, principalmente prestar atenção aos colaboradores, pois são eles que de fato sentem o momento da empresa. Quanto mais a pessoa cresce, ela necessita motivar a equipe a executar as funções, direcionando de forma adequada, provendo certo grau de autonomia.

Ao aconselhar os jovens, tendo em vista a questão dos valores, sequer hesito em destacar como o ponto principal, a importância de se amparar em princípios sólidos, especialmente a ética. E não é demagogia nenhuma, é pragmatismo puro. Como o meu primeiro chefe no Morgan Stanley disse “Não existe negócio bom com gente ruim”. Não dá para contar com os “espertinhos”, que querem passar por cima dos outros em busca de ascensão a qualquer custo. Pondero como é exatamente o oposto, guarnecendo confiança, imbuído por boas intenções.

Assevero também a força da flexibilidade como uma habilidade essencial, inclusive, abarcando a temática do aprendizado contínuo. É comum, quando se sai da faculdade, haver a percepção de conhecer sobre tudo. Isso é inverídico, pois os aprendizados mais preciosos são amealhados durante a trajetória profissional. Enfim, requer disposição e conseguir atuar em diferentes posições, com a capacidade de se reinventar quando necessário. O indivíduo pode ser um gênio, mas primeiramente ele precisa se adaptar à empresa, galgar paulatinamente as posições, para, enfim, implementar as suas ideias.

Outro ponto remete ao sangue nos olhos, ou seja, precisa querer muito, se dedicar ao que se propõe a realizar com enorme apreço. A formação acadêmica é importante, mas a dedicação ao propósito surge como fator prioritário em termos de crescimento, de estar alinhado com os propósitos e metas da organização.

Eu me lembro de ter lido uma entrevista de um ex-CEO de um banco global, em que ele disse “não importa quão alto você esteja, sempre tem alguém acima de você”. Se você for CEO, o conselho de administração está acima. Se for chairman do conselho, os acionistas estão acima.

Analisando a minha carreira, dentro de uma organização gigantesca, penso como ainda tenho muito a crescer. Obviamente, é válido pensar grande, tendo metas claras, motivado pela ambição sadia. É muito relevante ressaltar como todo ano preciso performar bem, lutar, com foco, junto à equipe. E isso requer estar sempre atento, preparado para ajudar o time, caso alguém não esteja entregando os resultados esperados. O objetivo é esse: sempre há espaço para subir, desde que as tomadas de decisões estejam alinhadas com os propósitos de vida.

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O mercado financeiro exige comprometimento e preparo

Batalhe pelos seus objetivos, pois nada vem fácil. Além disso, jamais se deixe abalar por percalços. Mantenha o objetivo em mente, batalhe, lute, com dedicação, para alcançar as suas metas, sem se limitar, mas sim, apostando na milha extra.

Existem novos campos – como no caso da tecnologia – repletos de oportunidades. O mercado financeiro continua sendo uma área de enorme protagonismo, porém, requer saber se preparar, com estratégia, para garantir seu espaço, pois é um segmento extremamente concorrido.

Por fim, reitero a valia de se edificar a construção da carreira sem jamais cruzar a linha da ética. E invista em um sólido networking. Contei como a ajuda de muita genteem fases distintas da carreira – ninguém faz nada sozinho, é importante contar com o apoio de pessoas que acreditem em você, vislumbrem o seu potencial.”

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