Essa semana fiquei muito impactada com o depoimento de 3 alunos ao dar uma aula sobre ESG em um MBA de Gestão Empresarial.
O primeiro aluno foi taxativo e disse, não. Minha empresa não tem práticas ESG e, isso aqui, não funciona.
Está certo e até concordo quando Einstein afirma “que os problemas não possam ser resolvidos pelo mesmo nível de consciência que os criou”.
Significa dizer que o capitalismo até então pregado, o capitalismo de shareholder – na qual a única função da empresa é gerar lucros para os acionistas -. ou o modelo de gestão 3G Capital – obcecado por cortar custos, incentivar o cumprimento de metas agressivas e acostumado com o achaque de fornecedores – não são mais condizentes com o estágio atual de degradação planetária e muito menos de maturidade social.
O primeiro ponto é que com 3 crises planetárias – aquecimento global, perda da biodiversidade e poluição e, tendo o planeta batido recordes recorrentes de temperatura, vira insanidade não mais ouvir as considerações de especialistas do IPCC – Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas. Até porque, nem nós e nem as empresas existem em um vácuo.
Para começar a fazer sua parte, no mínimo, é importante o monitoramento das emissões de CO2 de sua empresa, a partir do entendimento/compreensão do impacto que as atividades da companhia geram ao longo do processo produtivo e no seu entorno.
Então, ao comentar que isso não funciona no Brasil, a pessoa está assumindo que o país não precisa se preocupar com o aquecimento global, mesmo depois da Tragédia do Rio Grande do Sul e outras notícias recorrentes de eventos climáticos extremos, seja por excesso de chuva, ou seca extrema.
Para mudar essa mentalidade, é preciso mudar o foco de maximização de valor aos acionistas, para a criação de valor compartilhado para todas as partes interessadas – capitalismo de stakeholders. Uma cultura de cuidado 5 P – prosperidade, pessoas, planeta, paz e parcerias.
A segunda aluna deu um depoimento comovente sobre como a “escada é quebrada” para que mulheres ascendam a cargos de lideranças, em virtude do acúmulo de funções no trabalho e em casa, como se fosse da mulher a única função de cuidados com os filhos. Nisso, comenta que um colega, ao levar o filho ao médico, não conseguiu o atestado, pois o atestado só seria dado às mães, como se levar filho ao médico fosse exclusividade materna.
Ora, esse descolamento da realidade médica, pelo machismo estrutural, é acompanhado pela disparidade de compromisso das empresas em estender a licença paternidade. Como se 5 dias bastassem para o reconhecimento e adaptação do novo ser ao meio familiar. Daí, não à toa, muitas mulheres são demitidas após retornarem de sua licença maternidade, em virtude de suas novas demandas, independentemente de ser mãe solo ou não.
Filhos são feitos por homens e mulheres e ambos devem dividir as obrigações de cuidado e essa percepção pode mudar, a partir do momento que as empresas estenderem a licença paternidade, bem como permitirem que mulheres participem de processos de mentoria, participem de diretorias e estejam dentro de conselhos.
Essas práticas, além de humanizarem o trabalho, ajudam no clima organizacional, à medida que homens e mulheres se sintam pertencentes e respeitados em suas capacidades, independentemente do gênero. E, não mais precisem abdicar de um sonho, em virtude de outro.
Por fim, o terceiro e último aluno, felizmente mostrou-se orgulhoso em fazer parte de uma empresa que não só incentiva a equidade de gênero, como incentiva grupos de afinidades para os grupos minorizados – mulheres, negros, LGBTQIA+.
Não apenas como uma “fotografia” a ser colocadas nos relatórios de sustentabilidade, mas como parte da cultura corporativa, em que CEOs, diretores participam, incentivam e impulsionam tais ações. Não, porque é um favor, mas porque contribui para o clima organizacional, pois assim, os colaboradores ao se sentirem representados, produzem mais e melhor, simplesmente, por se sentirem pertencentes.
Isso aumenta a criatividade, a inovação, ao mesmo tempo que diminuem o absenteísmo, cuidam da saúde mental de seus colaboradores e evitam o burnout.
ESG não existe fórmula pronta e nem linha de chegada, é um processo, que faz um ‘filme’ mais bonito, quando a empresa integra a agenda de sustentabilidade a estratégia de negócios. Ou seja, não são duas agendas distintas. Repito: é a agenda ambiental integrada à estratégia de negócios.
ESG é um acrônimo que interessa ao mercado financeiro, mas a saúde planetária, o bem-estar dos colaboradores e as boas práticas de governança corporativa são importantes para a sustentabilidade de longo prazo das empresas.
Ao gerenciar adequadamente seus riscos, mitigar seus impactos negativos, aumentar seus impactos positivos e criar valor compartilhado para um conjunto de partes interessadas, as organizações tendem a superar financeiramente seus pares, atrair e reter talentos, aumentar a produtividade, criar vantagem competitiva, melhorar a reputação, garantir maior fidelidade de seus clientes e manter sua licença social.
Mas não se engane, isso só será possível se a organização mantiver uma cultura de integridade e transparência ao assumir compromissos com uma parcela mais ampla da sociedade. Caso contrário, como diria Peter Drucker, “a cultura comerá estratégia no café da manhã”.