Agentic AI avança no Brasil e acende alerta sobre decisões autônomas

Imagem: Steve Johnson

Uma nova geração de inteligência artificial começa a operar de forma discreta em grandes empresas brasileiras, com potencial para transformar o processo de decisões automatizadas. Conhecida como Agentic AI, essa vertente rompe com o modelo tradicional da IA generativa ao não apenas reagir a comandos, mas agir de forma autônoma: define metas, aprende com o ambiente e executa planos continuamente.

Para Luis Molla Veloso, especialista em inovação digital e integração de tecnologias financeiras, o avanço exige atenção das lideranças e do setor público. “Ao contrário dos modelos anteriores, a Agentic AI não apenas responde: ela age. Isso levanta uma série de questões éticas e operacionais, como a responsabilidade por decisões equivocadas, a transparência dos algoritmos e os limites da autonomia concedida a sistemas que tomam decisões por humanos”, afirma.

Startups de logística, bancos digitais e plataformas de marketing já utilizam agentes autônomos em seus sistemas, mesmo sem regulamentação específica em vigor no Brasil. A aplicação abrange desde rotas inteligentes até recomendações de produtos com base no comportamento do usuário, tudo sem intervenção humana direta.

Um relatório de julho de 2024 da consultoria Gartner projeta que, até 2026, mais de 20% das empresas globais devem adotar formas de IA autônoma em processos operacionais e estratégicos. Os chamados AI Agents, softwares capazes de agir com base em metas, estão entre as três principais tendências de inovação para o biênio 2025-2026. Apesar disso, apenas 4% das organizações atualmente possuem governança adequada para lidar com esse tipo de autonomia.

O uso da Agentic AI amplia os desafios técnicos, legais e éticos. Em junho, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um parecer recomendando que países-membros adotem princípios como responsabilização, supervisão humana e explicabilidade algorítmica no desenvolvimento de agentes autônomos, sobretudo em setores como saúde, crédito, justiça e mobilidade.

A consolidação da Agentic AI no ambiente corporativo já começa a pressionar estruturas jurídicas e modelos de governança que ainda não estão preparados para a autonomia das máquinas. “Estamos diante de um salto de complexidade. Esses agentes tomam decisões, ajustam comportamentos e impactam diretamente consumidores, mercados e vidas. O debate regulatório precisa acompanhar esse ritmo para evitar abusos e garantir segurança jurídica às empresas”, avalia Veloso.

O especialista alerta ainda que a busca por eficiência pode acelerar a adoção da tecnologia sem o respaldo legal necessário. “A inovação é necessária, mas não pode ser desgovernada. Transparência, supervisão humana e accountability devem ser princípios norteadores no uso da inteligência artificial autônoma”, completa o especialista.

Com a regulação europeia de IA prestes a entrar em vigor e discussões em andamento no Congresso Nacional, o Brasil pode se tornar um dos próximos campos de teste para legislações voltadas à IA autônoma. Por ora, especialistas como Veloso defendem que a adoção dessas tecnologias seja acompanhada por comitês de ética e governança, especialmente em setores com impacto direto sobre dados sensíveis e consumidores.

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