Agronegócio já responde por 29% da energia consumida no Brasil, diz FGV

Agronegócio brasileiro se consolida como protagonista na oferta de energia renovável, aponta estudo da FGV

O agronegócio brasileiro, tradicionalmente um grande consumidor de energia, vem se firmando como um dos principais fornecedores de energia renovável no país. Um estudo divulgado nesta terça-feira (24) pelo Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV) revela que o setor foi responsável por 29,1% de toda a energia ofertada no Brasil em 2023, e sua contribuição alcança 60% da matriz energética renovável nacional.

De acordo com Luciano Rodrigues, coordenador do núcleo de bioenergia do Observatório da FGV, a importância do agronegócio para a transição energética vai além da simples oferta de combustíveis limpos. “Esse protagonismo não se restringe à quantidade de energia ofertada no país ou à presença dos biocombustíveis no transporte – ele também se reflete nos destinos da bioenergia do agro, que se coloca como principal origem da matriz energética de vários setores industriais”, afirma.

O estudo da FGV destaca que, sem a contribuição energética do agronegócio, a participação de fontes renováveis na matriz brasileira cairia de 49% para aproximadamente 20%, um patamar próximo à média mundial, atualmente em 15%. Essa base sustentável diferencia o Brasil de outras potências agroindustriais.

A energia agropecuária no Brasil provém principalmente da cana-de-açúcar (13,7%), lenha e carvão vegetal (8,5%), lixívia (resíduo da celulose, com 5,2%), biodiesel (1,6%) e biogás e outras fontes (0,2%), conforme dados do Balanço Energético Nacional (BEN) de 2023. Essa diversificação teve início nos anos 1980 com o Proálcool e se consolidou a partir de 2003 com o crescimento da bioeletricidade gerada a partir do bagaço de cana e da silvicultura energética. Um destaque é o aumento da produção de lixívia, que triplicou nas últimas duas décadas, acompanhando a expansão do setor de papel e celulose.

A indústria é o principal destino da energia agropecuária (50%), com destaque para os segmentos de alimentos e bebidas, papel e celulose, cerâmica e ferroligas. O setor de transportes também é um grande consumidor (35%), impulsionado pelo etanol e biodiesel. O restante da energia é utilizado na cogeração e autoprodução de energia térmica e elétrica, principalmente em usinas e plantas industriais.

Apesar de sua forte atuação como fornecedor de energia limpa, o agronegócio brasileiro ainda depende significativamente de combustíveis fósseis. Em 2022, 73% da energia utilizada diretamente no setor veio de fontes não renováveis, especialmente o diesel, tornando-o vulnerável às oscilações no preço do petróleo e a choques externos. “O agro brasileiro tem clima favorável, elevada produtividade por hectare, mais de uma safra por ano, uso eficiente de tecnologia e menor necessidade de irrigação. Mas essa vantagem convive com uma vulnerabilidade: a dependência do diesel”, explica Rodrigues.

O estudo também analisou a eficiência energética do agronegócio brasileiro, que apresentou um índice de 1,9 GJ/USD1000 em 2022, próximo à média mundial (1,7 GJ/USD1000) e superior a muitos países desenvolvidos. Na produção de alimentos, o Brasil registrou 2,0 GJ/USD1000, um desempenho competitivo em comparação com outras potências do setor.

A FGV conclui que a bioenergia do agronegócio se tornou um pilar fundamental da transição energética nacional. A composição da oferta de energia do setor mudou radicalmente desde os anos 1970, com a ascensão de novas fontes como a cana-de-açúcar, biodiesel, biogás, bioeletricidade e subprodutos industriais, consolidando o agronegócio como um agente crucial para uma matriz energética mais limpa e integrada no Brasil.

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