A certeza de uma renda estável é um pilar fundamental para uma vida digna, contudo, essa ainda é uma realidade distante para milhões de indivíduos no planeta. O relatório “Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo: Tendências 2024″, desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma agência da ONU, alerta que a desigualdade de renda tem se aprofundado, com a inflação erodindo o poder de compra da população. Essa defasagem, historicamente sentida de forma mais intensa em zonas rurais, tanto limita o acesso a serviços essenciais como saúde e educação quanto compromete o bem-estar e as perspectivas de futuro dessas pessoas.
No Brasil, para os pequenos produtores, que representam a base da fabricação de alimentos do país, esse cenário é ainda mais crítico. A volatilidade dos preços, a falta de acesso a insumos de qualidade e a ausência de garantia de compra para suas safras torna o planejamento financeiro de longo prazo uma tarefa complexa. Nesse contexto, é essencial sugerir formas de intervenção, como prometem os debates da COP30, em Belém (PA), em novembro próximo, a fim de oferecer segurança monetária e social.
Para a Agropalma, empresa brasileira reconhecida mundialmente como referência na produção sustentável de óleo de palma, propor abordagens que tenham como foco principal a geração de oportunidades é um dos caminhos mais eficientes. O ponto de vista é baseado na prática, uma vez que a companhia reúne um longo histórico em iniciativas de impacto socioambiental na região amazônica, no Pará.
Em 2002, a Agropalma foi pioneira no lançamento do Programa de Agricultura Familiar e Integrada, direcionado a atender pequenos produtores que até então viviam da agricultura de subsistência e do extrativismo, e contribuir com o fortalecimento da economia local e a melhoria da qualidade de vida. No início, cerca de 50 famílias eram atendidas. Hoje, a iniciativa já conta com 439 agricultores familiares e 66 produtores integrados.
Para Antonio Jorge Brandão, gerente do Programa de Agricultura Familiar e Produtores Integrados, o sucesso longevo da iniciativa está na assertividade das ações, baseadas em necessidades reais. “Há mais de duas décadas entendemos que os agricultores não precisam de doações – e, sim, de oportunidades. Eles são o elo mais vulnerável do sistema produtivo e não podem ser tratados como um experimento. Precisamos chegar até eles com projetos concretos, estruturados e viáveis se quisermos gerar resultados de verdade”, afirma.
O programa consiste em viabilizar oportunidades de trabalho, fornecendo acesso aos melhores materiais de plantio e insumos agrícolas, além de aconselhamento, apoio técnico e treinamento contínuo sobre práticas de sustentabilidade e requisitos legais.
Foi por meio do projeto, por exemplo, que a companhia apresentou aos parceiros a proposta dinâmica de cultivar palma, em consórcio com outras culturas, como a mandioca e a pimenta-do-reino, que contam com um ciclo de produção mais curto. Isso significa que, enquanto os produtores aguardam o período necessário de 24 a 28 meses para colher os primeiros frutos da palma, há a opção de garantir a renda com essa outra colheita cultivada nos mesmos hectares do dendê.
Diante desse panorama, a Agropalma assegura a compra de 100% dos frutos da palma produzidos pelas famílias, independentemente da variação do mercado, seguindo uma política justa de precificação. Esse é um dos principais diferenciais da companhia e permite aos agricultores a sustentação da parceria no longo prazo. Como resultado, 23,3% dos frutos processados na fábrica da produtora têm como origem as plantações de produtores parceiros. Em contrapartida, a iniciativa colaborou com o aumento de 528% da renda dessas pessoas.
“É gratificante notar que uma ação que começou atendendo muitas famílias em situação de vulnerabilidade extrema, hoje já carrega histórias de sucesso. As pessoas se converteram em donas do próprio negócio e, somado a isso, as mulheres ganharam autonomia. Famílias passaram a ter qualidade de vida, ao passo que pais e mães vislumbram um amanhã mais digno para seus filhos, seja no meio urbano ou rural. São os frutos do campo”, celebra André Borba, diretor Agrícola da Agropalma. “Essa iniciativa legitima que somos a mudança que queremos ver no mundo e que esse futuro começa agora com o envolvimento de diversas partes.”
Dona Iracema Pinto ingressou no projeto em 2005. Com 8 hectares dedicados apenas ao plantio de palma, a matriarca coordena toda a estrutura e operação, que conta com a família inteira. “Meus filhos cuidam do trabalho braçal. Eu assumo outras funções, porém quando é preciso vou com eles para o campo”, destaca. Como resultado do envolvimento com o programa no longo prazo, Iracema conquistou o sonho da casa própria e ajudou os filhos a alcançarem metas pessoais.
Outra produtora que lidera a cultura de palma é Ângela Maria Santos, que já construiu sua casa e adquiriu um carro. Ângela diz que não há segredos para conseguir crescer com o dendê. “Você só não precisa ter medo de trabalhar. Lembro que quando comecei ia de domingo a domingo. Agora, me dou folga aos finais de semana. Hoje, eu contrato pessoas para ajudarem minha família”, ressalta.
Esses relatos são um exemplo de que iniciativas bem estruturadas podem não somente proporcionar geração de renda, que consequentemente auxiliam para ter uma qualidade de vida melhor, como também possibilitar o protagonismo de grupos política e socialmente desfavorecidos. A crescente presença feminina no campo, em particular, é uma tendência nacional: o último Censo Agropecuário do Brasil (2017) já apontava mais de 6 milhões de mulheres em atividade no setor, e indicadores recentes, como o do Programa de Aquisição de Alimentos, segundo o qual mais de 63% dos fornecedores são agricultoras, confirmam esse crescimento.
Refletindo esse movimento, o Programa de Agricultura Familiar e Integrada da Agropalma também já conta com uma ampla participação feminina: 26,19% dos produtores envolvidos e beneficiados pela iniciativa são mulheres. O percentual é superior à média nacional apresentada pelo Censo, que indica que 19% dos estabelecimentos rurais são dirigidos por mulheres. Esse é um importante indicativo de que ações como a da companhia tem colaborado para combater a invisibilidade rural deste grupo social.
“Nós acreditamos que um agronegócio justo e produtivo é, por natureza, sustentável. E a chave para atingir esse equilíbrio é a pluralidade. Ao impulsionar o avanço feminino no campo, estamos ativamente erguendo um futuro para o mercado onde as decisões integram, desde o início, os pilares econômico, ambiental e social com um único objetivo: construir um setor mais próspero, resiliente e equitativo para todos”, defende Monica Neves, gerente de Responsabilidade Socioambiental da Agropalma.