A Amazon (AMZN.O) acaba de garantir um importante endosso para seu negócio de nuvem, a Amazon Web Services (AWS), ao fechar um acordo de US$ 38 bilhões com a OpenAI para serviços de computação. Este contrato é visto como um momento crucial para a gigante do comércio eletrônico, após enfrentar contratempos recentes, como a perda de participação de mercado para concorrentes e uma interrupção de serviço que afetou amplamente a internet.
Por anos, a AWS liderou o setor de computação em nuvem, sendo a principal fonte de lucro da Amazon. Contudo, a empresa observou rivais como Microsoft (MSFT.O) e Google (GOOGL.O), da Alphabet, abocanharem contratos milionários ao equiparem suas nuvens com recursos avançados de Inteligência Artificial (IA). Como resultado, a liderança de mercado da AWS caiu de 34% para 29% em setembro, em comparação com meses antes do lançamento do ChatGPT em 2022, segundo dados do Synergy Research Group.
Muitos investidores consideravam a Amazon uma “retardatária” na corrida da IA, tanto por ter lançado tardiamente seu próprio modelo de linguagem de grande porte de referência, quanto por não oferecer um chatbot voltado para o consumidor, como o ChatGPT da OpenAI.
No entanto, a Amazon tem intensificado drasticamente seus investimentos em IA. No mês passado, inaugurou o Projeto Rainier, um centro de dados de IA de US$ 11 bilhões em Indiana, dedicado ao treinamento de modelos da startup Anthropic usando os chips Trainium desenvolvidos pela própria Amazon. Analistas e investidores agora veem o acordo de US$ 38 bilhões com a OpenAI, um cliente de alto perfil, juntamente com os fortes resultados trimestrais do ano passado, como sinais de que a AWS está recuperando o ritmo na competição.
“Embora seja pequeno em comparação com outros acordos que a OpenAI fez com outros provedores de nuvem, representa um primeiro passo fundamental no esforço da Amazon para firmar parceria com uma empresa que investirá mais de um trilhão de dólares em poder computacional nos próximos anos”, analisou Mamta Valechha, analista da Quilter Cheviot.
A reação do mercado foi imediata: as ações da Amazon subiram 5% após o anúncio do acordo, atingindo um recorde histórico. Este movimento é particularmente relevante, visto que as ações da Amazon haviam permanecido praticamente inalteradas durante a maior parte do ano, ficando atrás dos ganhos observados em outras grandes empresas de tecnologia impulsionadas por contratos de nuvem com startups de IA avaliados em centenas de bilhões de dólares.
Na semana anterior, a Microsoft havia anunciado um compromisso de US$ 250 bilhões com a OpenAI para seus serviços de nuvem Azure, e a Oracle fechou um contrato de US$ 300 bilhões com a startup. O Google, por sua vez, possui um acordo de chips no valor de dezenas de bilhões com a Anthropic, entre outras parcerias estratégicas. Os esforços da Amazon foram, inclusive, prejudicados pela perda de executivos-chave; um vice-presidente importante no desenvolvimento de IA generativa deixou a companhia para um concorrente em junho.
Para manter a competitividade e financiar os dispendiosos centros de dados necessários para suportar essa tecnologia, o CEO Andy Jassy tem implementado uma política rigorosa de redução de custos. Jassy tentou cortar os níveis hierárquicos da gestão e chegou a criar uma linha de denúncias anônimas para identificar ineficiências. A empresa anunciou na semana passada o corte de cerca de 14 mil funcionários corporativos, uma das maiores demissões de sua história, ao mesmo tempo em que aumenta o investimento em inteligência artificial.
A Amazon prevê um gasto de capital de cerca de US$ 125 bilhões este ano, com projeção de ser ainda maior no ano seguinte. Esse investimento supera os US$ 93 bilhões planejados pela Alphabet e está alinhado com as expectativas de Wall Street para os gastos da Microsoft neste ano. Analistas veem no acordo com a OpenAI um caminho viável para a Amazon rentabilizar esses pesados investimentos. Brian Pitz, analista da BMO Capital Markets, estima que o contrato pode aumentar a carteira de pedidos da AWS em cerca de 20% no quarto trimestre (que se encerra em dezembro), partindo de uma base de US$ 200 bilhões no final de setembro.









