A Amazônia enfrenta os efeitos de uma seca histórica que reduziu drasticamente os níveis dos principais rios da região, como o Rio Negro e o Rio Solimões, levando as águas ao ponto mais baixo em mais de 120 anos. Em Manaus, o Rio Negro registrou o menor nível já observado, com apenas 12,66 metros. A crise climática alterou profundamente o cotidiano de milhares de comunidades ribeirinhas, que dependem dos rios para obter água, alimentos e transporte. Segundo a Defesa Civil do Amazonas, mais de 767 mil pessoas foram impactadas. Esse cenário ultrapassa questões logísticas, afetando diretamente a sobrevivência dessas populações e exigindo medidas estruturais de longo prazo para evitar a repetição dessa situação.
Mario Veraldo, CEO da empresa de logística MTM Logix, destaca a gravidade do cenário e cobra ações urgentes para mitigar a crise. “O Rio Amazonas, uma artéria vital para inúmeras comunidades, viveu uma seca sem precedentes. Hoje, essas comunidades ribeirinhas estão lidando com a escassez de água potável, insegurança alimentar e isolamento geográfico, com muitas vias fluviais inavegáveis”, afirma Veraldo.
A seca interrompeu o transporte de mercadorias essenciais, incluindo alimentos, combustíveis e medicamentos. Veraldo aponta que a pesca, uma das principais fontes de subsistência e renda das comunidades, foi severamente prejudicada pela escassez de peixes e a dificuldade de acesso às áreas de pesca. “Vemos famílias enfrentando fome e dificuldades financeiras. Em algumas regiões, vilarejos estão completamente isolados porque os barcos não conseguem mais chegar, resultando em uma verdadeira crise humanitária”, explica o executivo.
Além disso, os desafios climáticos agravaram as condições de saúde nas comunidades. As águas estagnadas se tornaram criadouros de mosquitos, elevando o risco de doenças como malária e dengue. Sem acesso a serviços médicos, essas crises de saúde se intensificam.
Soluções estruturais e o papel da logística
Com as mudanças climáticas intensificando eventos extremos como essa seca, a situação pode se tornar um problema sistêmico para a Amazônia, demandando uma resposta robusta e coordenada. Veraldo defende que, para enfrentar esses desafios, são necessárias mudanças estruturais profundas. “Precisamos desenvolver redes de transporte multi-modais que integrem transporte fluvial, rodoviário e aéreo, garantindo a continuidade da logística mesmo em condições climáticas adversas”, propõe.
Ele também destaca a necessidade de infraestrutura resiliente, como a construção de estradas e pontes adaptadas para condições extremas, e sistemas de gestão de água, incluindo captação de chuva e purificação de fontes, para assegurar o abastecimento nas comunidades mais isoladas. “A colaboração entre governos, ONGs e o setor privado é essencial para implementar soluções de longo prazo que não apenas melhorem a logística, mas também a qualidade de vida nas regiões afetadas”, ressalta.
Obstáculos e oportunidades
Apesar da urgência, Veraldo reconhece que existem obstáculos significativos para a implementação dessas soluções. “Os desafios geográficos da Amazônia tornam qualquer projeto de infraestrutura caro e complexo. Além disso, restrições orçamentárias e a falta de coordenação entre agências governamentais dificultam uma resposta rápida à crise”, afirma.
Ainda assim, o CEO da MTM Logix acredita que há oportunidades para o desenvolvimento de soluções inovadoras que possam reduzir os impactos das mudanças climáticas na logística e nas comunidades locais. “Estamos explorando o uso de drones para entrega de suprimentos em áreas inacessíveis e veículos anfíbios para manter as rotas de transporte. Além disso, a criação de infraestrutura flutuante pode ser uma alternativa eficaz para manter escolas, clínicas e até fábricas operacionais durante os períodos de seca”, sugere.
A seca histórica na Amazônia deixa um legado de desafios que vão além da logística, atingindo dimensões humanitárias. Para Veraldo, é fundamental que as respostas a essa crise climática sejam abrangentes e inovadoras. “Estamos enfrentando uma nova realidade climática, que exige planejamento estratégico, investimento em infraestrutura resiliente e, acima de tudo, ações coordenadas que priorizem as comunidades mais vulneráveis”, conclui.