Os acontecimentos mundiais das últimas semanas, me fizeram lembrar de dois livros. O primeiro deles é de um autor italiano, historiador de economia chamado Carlo M. Cipolla e o nome do livro é o que dá título a esta coluna.
Ele classifica os seres humanos em quatro categorias básicas: o inteligente o vulnerável, o bandido e o estúpido.
O inteligente é aquele cuja ação promove ganho para si e para outro, enquanto o vulnerável é aquele cuja ação proporciona ganho para outro mas perda para si. O bandido é aquele cuja ação promove ganho para si em detrimento do outro. E, por fim, o estúpido, aquele cuja ação causa prejuízo ao outro sem contrapartida de ganho para si.
A sua primeira lei nos diz que: “Todo mundo subestima, sempre e inevitavelmente, o número de estúpidos em circulação”.
E, de acordo com a sua quarta lei: “Pessoas não estúpidas sempre subestimam o poder de causar danos dos indivíduos estúpidos. Em particular, pessoas não estúpidas se esquecem constantemente de que todo momento e lugar, e sob qualquer circunstância, lidar e/ou se associar com pessoas estúpidas resulta infalivelmente em um erro altamente custoso”.
Seria somente embaraçoso se estas pessoas, por diferentes motivos, não ocupassem posições que lhes confere poder. Seja por nascimento, casamento, arranjos burocráticos, movimentos políticos, a quantidade de pessoas estúpidas em posições de comando é maior do que uma pessoa racional possa supor.
O complicado é que pessoas racionais e sensatas têm enorme dificuldade em entender comportamentos irracionais, o que faz com que quando estes confrontam com pessoas estúpidas, cometam erros, o que torna os estúpidos mais perigosos que o bandidos.
A segunda obra é de uma historiadora americana, Barbara W. Tuchman, intitulada “A marcha da insensatez”.
Nesta obra, fazendo uma releitura de diferentes momentos históricos com os dados disponíveis naquele período, ela mostra como os governos e instituições são capazes de tomar decisões que vão contra aos seus interesses.
Ela começa analisando a derrota de Troia para os gregos, no evento conhecido por Cavalo de Troia. De acordo com a religião e os líderes religiosos, o portal da cidade nunca deveria ser desmontado. Cavalo era um animal que não bem quisto pelos religiosos, assim como os gregos não eram considerados confiáveis.
Quando os gregos decidem se retirar, deixam de presente um cavalo gigante de madeira para os troianos, com soldados escondidos no seu interior. Para que o cavalo pudesse adentrar à cidade, tiveram due desmontar o portão, contrariando suas crenças religiosas. Bom, o resto da história é conhecida.
O último evento histórico que a autora analisa é o envolvimento do exército americano na guerra do Vietnã. Relatórios da CIA, antes do envolvimento americano, diziam que a guerra não poderia ser vencida. Com a determinação do presidente Lyndon Johnson pela participação americana, o teor dos relatórios foi sendo alterado, de modo a justificar a intervenção americana.
Uma decisão que custou mais de 50 mil vidas de soldados americanos, uma crise social interna, primeira derrota militar do exército americano e os gastos com a guerra, acabaram fazendo com que fosse insustentável, para os EUA, manter o padrão ouro.
Essas lições não se aplicam somente a Estados; elas podem e devem ser aplicadas no nosso dia a dia. Sempre que estamos numa posição de comando, devemos ter inteligência e bom senso para termos alguém no time com senso crítico e coragem, para indicar quando não concorda com nossa posição. Erro comum de alguns chefes é ter somente pessoas “dóceis” ao seu redor. No curto prazo pode ser confortável, mas o preço virá no médio/longo prazo. Como dizia Nelson Rodrigues, “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com unanimidade não precisa pensar ”.
Por fim, nunca subestime a capacidade destrutiva de um estúpido. Eles são instáveis e irracionais, tornando qualquer medida de defesa extremamente difícil. “…contra a estupidez os próprios deuses lutam em vão” ( frase do Schiller, extraído do livro do Cipolla).