O Banco do Brasil (BBAS3), principal financiador do setor rural, desembolsou cerca de R$ 85 bilhões em financiamentos para o agronegócio na safra 2025/26, que teve início em 1º de julho. A cifra, que engloba crédito rural, títulos agrícolas (como CPRs), crédito agroindustrial e recursos para giro, refere-se ao período de julho ao fim de novembro e inclui renegociações de dívidas.
Apesar de ser um volume expressivo, o montante representa uma retração em relação aos R$ 105 bilhões verificados no mesmo período da safra anterior. A análise focada apenas nas operações de crédito rural também mostra essa queda, totalizando R$ 78,3 bilhões, contra R$ 96 bilhões reportados na temporada passada.
O vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do banco, Gilson Bittencourt, atribuiu a menor contratação à retração no apetite por novos investimentos por parte da agricultura empresarial (grandes produtores). Segundo ele, houve uma queda entre 35% e 40% nesse tipo de operação, um cenário esperado devido à combinação de juros elevados e a rentabilidade retornando aos níveis históricos. Bittencourt explicou que este é um momento de “reorganização do fluxo de caixa”, onde produtores buscam postergar investimentos na expectativa de uma futura queda na taxa Selic.
O custeio para a agricultura empresarial e a procura por crédito a taxas livres também estão abaixo do reportado na safra anterior, confirmando a diminuição da demanda por parte dos produtores.
Apesar da lentidão inicial, o BB mantém o otimismo em relação à meta total para a safra 2025/26, que é de R$ 230 bilhões, um valor 2% superior ao desembolsado na temporada anterior. O banco espera um melhor equilíbrio no desembolso até o fim da safra, em julho de 2026.
Do montante total ofertado: R$ 106 bilhões são destinados à agricultura empresarial, R$ 54 bilhões para a agricultura familiar e médios produtores, e R$ 70 bilhões para negócios da cadeia de valor do agro. Segundo Bittencourt, a esteira de pedidos em análise sugere que as linhas de crédito rural atingirão seus limites até o fim de dezembro, exigindo até mesmo remanejamentos entre as linhas. O vice-presidente garantiu que o desempenho na agricultura familiar e no Pronamp está dentro ou próximo do esperado, afirmando que o banco deve “cumprir com o Plano Safra nas taxas controladas”.
Em relação ao desenvolvimento da safra, o BB acompanha de perto os possíveis efeitos do fenômeno climático La Niña, mas avalia a situação como positiva para o progresso da produção de forma geral. O executivo citou as expectativas da Conab e do IBGE que apontam para a estabilidade da produção, com a maior parte da lavoura já plantada e sem diminuição expressiva de área.
Quanto aos preços, o BB observa que as cotações dos principais produtos agrícolas estão retornando aos níveis históricos, impactando a rentabilidade dos produtores. Essa conjuntura torna áreas com alto custo de produção “mais proibitivas”. A expectativa da instituição é que, em mais algumas semanas, se confirme se houve ou não redução no pacote tecnológico utilizado, o que poderia, potencialmente, afetar a produtividade das lavouras.
