Banco Master: Da Ascensão Relâmpago à Queda Após Suspeitas de Crimes Financeiros

A trajetória meteórica de Daniel Vorcaro — do empresário jovem ao banqueiro bilionário — terminou em prisão e na liquidação do Banco Master após indícios de irregularidades, operações arriscadas e alerta do Banco Central.

A prisão que desmontou um império financeiro

O Banco Master, instituição que ganhou notoriedade nos últimos anos por sua agressiva estratégia de captação e investimentos de alto risco, foi liquidado pelo Banco Central após um conjunto de indícios de crimes financeiros e deterioração acelerada de sua saúde econômica.
A decisão extrema veio horas depois da prisão de Daniel Vorcaro, dono e controlador do banco, detido no Aeroporto de Guarulhos quando se preparava para deixar o país em um jato particular.

A prisão ocorreu no âmbito da Operação Compliance Zero, da Polícia Federal, que investiga a emissão de títulos de crédito falsos por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional.


A construção de um império: fé, família e negócios

Nascido em Belo Horizonte, Daniel Vorcaro cresceu em uma família marcada pela forte influência da Igreja Batista da Lagoinha. Seu avô, Serafim Vorcaro, imigrante italiano e pastor convertido ao protestantismo, exerceu grande influência sobre Henrique, pai de Daniel, conduzindo a família para uma vida mais disciplinada e próxima da igreja.

Henrique prosperou como corretor de imóveis — e tornou-se um dos grandes doadores da Lagoinha, contribuindo para a compra, em 1997, da Rede Super de Televisão. Ali, o jovem Daniel ganhou espaço: apresentou um programa musical chamado Supersônica.

A relação com a família Valadão — especialmente com o pastor Márcio Valadão e seu filho André — aproximou ainda mais os Vorcaro da instituição religiosa, criando laços que, anos depois, seriam lembrados em festas luxuosas patrocinadas por Daniel, já banqueiro bilionário.


Primeiros negócios: sucesso ou fracasso?

O primeiro empreendimento de Daniel foi na área de educação. Aos 19 anos, recebeu do pai a gestão de um curso de ensino médio (PQS Empreendimentos Educacionais) e de uma empresa de livros didáticos.

Embora Vorcaro afirme que reestruturou a empresa e a vendeu com lucro, ex-funcionários relatam que a gestão foi confusa e pouco eficaz, resultando na venda da escola a outra rede de Belo Horizonte.

Aos 21 anos, passou a integrar os negócios imobiliários da família, até se aproximar dos irmãos Antonio Augusto e Vicente Conte, de São Paulo — relação que definiria seu futuro no mundo financeiro.


Da construção civil ao controle de um banco

O trio Vorcaro-Conte se envolveu em 2011 na tentativa de construir o hotel Golden Tulip, em Belo Horizonte, com incentivos da prefeitura para a Copa de 2014. Apesar do investimento de mais de R$ 200 milhões, a obra foi interrompida por falta de recursos.

O fracasso afastou os Conte do setor imobiliário, mas a parceria seria retomada em 2016, quando surgiu a oportunidade que transformaria Daniel em banqueiro: a aquisição do problemático Banco Máxima, de Saul Sabbá, inabilitado pelo BC por gestão fraudulenta.

Em 2019, após intensa negociação com o Banco Central, Vorcaro obteve autorização para assumir o controle da instituição. Dois anos depois, rebatizou o banco como Banco Master.


Estratégia de risco extremo: o modelo Master

Desde sua reformulação, o Banco Master passou a operar fora dos padrões tradicionais do sistema financeiro:

1. Captação agressiva

O banco pagava até 130% do CDI em seus CDBs — uma taxa extremamente acima do usual (que varia entre 95% e 98% do CDI). Isso atraiu bilhões em depósitos.

2. Alavancagem no limite

Enquanto bancos tradicionais operam com alavancagem de até 6 vezes o capital próprio, o Master atuava no limite máximo permitido pelo BC: 10 vezes.

3. Portfólio de ativos considerados “esquisitos” pelo mercado

A instituição direcionava grande parte dos recursos para empresas em dificuldades, como:

Por que os ativos do Banco Master eram considerados arriscados

Light S.A.
Concessionária de energia do Rio de Janeiro, sofria com perdas bilionárias, furtos de energia e inviabilidade operacional. Entrou em recuperação judicial.

Ambipar Group
Empresa de gestão ambiental com dívida crescente após aquisições agressivas. Mercado questionava a capacidade de gerar caixa suficiente para honrar compromissos.

CVC Corp
Maior operadora de turismo do Brasil, fragilizada após a pandemia, abalos na governança e múltiplas renegociações de dívida.

Oi S.A.
Envolvida no maior processo de recuperação judicial da história do país, com dificuldades de executar seu plano e manter operações lucrativas.

Gafisa S.A.
Construtora marcada por disputas societárias, perdas operacionais e dificuldade de captar recursos para novos empreendimentos.

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