Os futuros do café arábica negociados na ICE atingiram nesta sexta-feira uma máxima em dez dias, impulsionados pela preocupação dos investidores com a potencial imposição de tarifas de 50% sobre as importações brasileiras pelo governo dos Estados Unidos. A ameaça de retaliação por parte do Brasil também contribuiu para a volatilidade do mercado. No entanto, os preços recuaram no final do pregão, encerrando o dia em baixa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta sexta-feira sua intenção de buscar uma solução diplomática para a disputa tarifária com os EUA. Contudo, o presidente brasileiro também afirmou que o Brasil responderá na mesma proporção caso as tarifas americanas entrem em vigor em 1º de agosto.
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, e os Estados Unidos são seu principal cliente, além de serem os maiores consumidores globais da bebida. Estima-se que um terço de todo o café consumido nos EUA seja proveniente do Brasil.
Fontes do setor cafeeiro alertam que a nova tarifa, se implementada, pode praticamente paralisar as exportações de café brasileiro para os Estados Unidos. Segundo especialistas, o país americano teria dificuldades em encontrar fornecedores alternativos com volumes e preços semelhantes.
Analistas também apontam que as tarifas brasileiras, em resposta, podem gerar um efeito altista de curto prazo para os contratos futuros de café negociados na bolsa ICE, que servem como referência global de preços. Isso ocorreria devido à criação de demanda nos EUA por estoques certificados pela bolsa, o que tende a elevar os preços quando os estoques diminuem, indicando uma possível escassez de oferta.
Os contratos futuros de café arábica na ICE de Nova York chegaram a atingir US$ 2,9760 por libra-peso, ampliando a alta de 1,3% da véspera. Contudo, fecharam o dia com uma queda de 1,3 centavo, ou 0,5%, cotados a US$ 2,865 por libra-peso. Negociadores mencionaram o ritmo acelerado da colheita no Brasil como um dos fatores que contribuíram para a reversão dos preços.
Em contrapartida, os futuros do café robusta, negociados em Londres, mantiveram a tendência de queda, recuando 3,1%, para US$ 3.216 por tonelada. O contrato acumulou uma perda de 13% na semana e atingiu sua mínima em um ano nesta sexta-feira. No longo prazo, especialistas acreditam que as tarifas dos EUA sobre o Brasil podem ter um efeito baixista nos preços mundiais, pois podem significar uma maior disponibilidade de oferta para o mercado global de exportação.
No mercado de outras commodities agrícolas negociadas na ICE, o açúcar bruto registrou uma alta de 1,9%, alcançando 16,57 centavos de dólar por libra-peso, enquanto o açúcar branco apresentou pouca variação, sendo negociado a US$ 483,70 por tonelada.
O mercado de açúcar parece ter ignorado a ameaça tarifária de Trump, possivelmente devido ao fato de que o Brasil, apesar de ser o maior produtor mundial de açúcar, não exporta grandes volumes para os Estados Unidos. O cacau em Londres permaneceu praticamente estável, cotado a 5.289 libras por tonelada, enquanto o cacau em Nova York subiu 1,5%, atingindo US$ 8.177 por tonelada.