A Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), em parceria com a Faperj, inauguraram oficialmente no dia 26 de junho o V2Lab – Laboratório de Tecnologias em Comunicações Veiculares, marcando o lançamento do projeto MobiCrowd. A iniciativa pioneira visa criar um sistema que recompensa motoristas por dirigir de forma mais eficiente e emitir menos poluentes, com foco em segurança e privacidade de dados.
O novo laboratório, instalado no campus da UFF e equipado com infraestrutura de ponta, incluindo uma antena 5G e sistemas de coleta de dados em tempo real, reúne cientistas, empresas e estudantes na busca por cidades mais sustentáveis, tráfego mais seguro e o desenvolvimento de novos modelos de negócio.
O projeto MobiCrowd contou com a participação de mais de 20 estudantes da UFF e do Inmetro, que atuaram em diversas frentes de pesquisa, juntamente com pesquisadores das duas instituições e parcerias estratégicas com empresas de tecnologia como CPqD, Embeddo e VS Telecom. A próxima fase do projeto prevê um investimento de R$3 milhões para a validação comercial da tecnologia e a formação de parcerias com os setores público e privado.
Raphael Machado, coordenador do projeto MobiCrowd, destaca a criação de um ecossistema onde o carro se torna um agente ativo para cidades mais sustentáveis e motoristas mais conscientes, com tecnologia nacional e segurança. O V2Lab desenvolveu um sistema capaz de monitorar em tempo real o desempenho e a segurança de veículos conectados, propondo melhorias na condução. Testes realizados com veículos monitorados percorreram mais de 200 km em áreas urbanas, gerando 200 GB de dados brutos que alimentam modelos matemáticos e de inteligência artificial para calcular emissões e outros dados relevantes.
Pesquisadores explicam que a estimativa de emissões considera toda a cadeia de produção, desmistificando a ideia de “emissão zero” para veículos elétricos, já que a geração de eletricidade também gera impacto. O estudo aponta que motores a combustão utilizando biocombustíveis podem se aproximar das taxas de emissão de veículos elétricos. Em números, veículos elétricos apresentaram taxas de emissão entre 7% e 17% das de veículos a gasolina, enquanto veículos com biocombustíveis podem chegar a 20%. Essas informações, antes restritas a grandes empresas, poderão estar acessíveis aos motoristas, impactando o planejamento urbano, políticas públicas e a consciência ambiental.
O projeto também implementou uma plataforma de monetização de dados, baseada em blockchain, onde motoristas podem compartilhar informações sobre consumo, estilo de direção e eficiência energética em troca de recompensas financeiras de até R$ 0,10 por litro de combustível economizado. O sistema testa bonificações por participação, condução defensiva e redução de emissões, com os motoristas acompanhando seus ganhos através de um aplicativo gamificado.
Wladmir Chapetta, pesquisador do Inmetro, ressalta que a iniciativa inaugura uma nova lógica, valorizando o motorista como agente ativo da mobilidade inteligente, recompensado por dirigir melhor e contribuir para o meio ambiente, com total controle sobre seus dados, protegidos por tecnologias de ponta como blockchains permissionados e criptografia homomórfica. Cerca de 25 milhões de veículos no Brasil já possuem a tecnologia OBD-II necessária para a conexão ao sistema, demonstrando o grande potencial de escala do projeto.
Machado conclui que o Brasil demonstra sua capacidade de liderar a mobilidade do futuro com tecnologia própria e um compromisso com o bem coletivo, transformando veículos em aliados do meio ambiente e da inteligência urbana.