Por Fabiana Monteiro
No ambiente corporativo, nem toda reunião acontece na sala de reuniões. Algumas ficam engasgadas nos corredores, atravessam os e-mails, pairam nas mensagens não enviadas. São aquelas conversas que pesam — porque tocam em temas sensíveis, envolvem feedbacks difíceis, decisões impopulares ou conflitos entre colegas.
É compreensível. Conversas difíceis geram medo, insegurança e desconforto. Por isso, muitas vezes optamos por evitar: seguimos adiante sem dizer o que precisa ser dito, fingindo que o tempo vai resolver. Mas será que o silêncio constrói relações saudáveis? Ou apenas nos afasta, minando a confiança e o trabalho em equipe?
Evitar o conflito pode parecer mais seguro — mas é justamente o que alimenta ruídos, desentendimentos e ressentimentos. Quando deixamos de conversar com clareza e honestidade, abrimos espaço para suposições. E suposições, no mundo corporativo, são terreno fértil para desconfiança e desalinhamento.
Segundo a Harvard Law School, evitar conversas difíceis pode parecer uma estratégia de curto prazo, mas tende a piorar os conflitos e intensificar os mal-entendidos. A recomendação é desenvolver habilidades de escuta e comunicação para transformar esses momentos em oportunidades de fortalecimento das relações profissionais (Harvard PON, 2025).
Já a pesquisa “Superficial Harmony and Conflict Avoidance” indica que o desejo de manter uma harmonia aparente pode levar a comportamentos evitativos, que resultam em estresse emocional, menor engajamento e perda de confiança nas equipes (ResearchGate, 2017).
Além disso, o relatório global do CPP Inc. aponta que profissionais perdem, em média, um dia de trabalho por mês lidando com conflitos mal resolvidos. Evitá-los só transfere o problema, muitas vezes gerando quedas na produtividade e aumento de rotatividade.
Conversas difíceis não precisam ser confrontos. Elas podem (e devem) ser encontros. Espaços de escuta ativa, empatia e respeito mútuo. Falar com transparência sobre um problema, um comportamento ou uma decisão não é sinal de fraqueza — é sinal de maturidade profissional e compromisso com o coletivo.
Em times de alta performance, o feedback flui, os ruídos são resolvidos e a comunicação é tratada como um ativo. Silenciar o incômodo não evita o conflito — apenas o adia e, muitas vezes, o amplia.
Coragem, no mundo do trabalho, também é saber falar — com respeito, mas sem rodeios. Porque quem evita a conversa difícil, evita também a oportunidade de crescer, alinhar expectativas e fortalecer vínculos.
Algumas conversas pesam. Mas o silêncio constante pesa mais. E nenhum time saudável se sustenta sem confiança e diálogo.
📚 Fontes utilizadas:
- Program on Negotiation, Harvard Law School (2025): pon.harvard.edu
- CPP Global Human Capital Report (2008): shop.themyersbriggs.com
- “Superficial Harmony and Conflict Avoidance” – ResearchGate (2017): link
- University of Wisconsin-Green Bay – Small Business Development Center: uwgb.edu