Com a proximidade da COP30 — Conferência da ONU sobre mudanças climáticas — que será sediada no Brasil em 2025, especialistas reforçam a urgência de rever modelos de desenvolvimento urbano e investir em soluções sustentáveis que combinem resiliência climática, inclusão social e inovação.
Para Mariana Pontes, diretora-presidente da Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES), o protagonismo do Brasil no evento global exige mais do que compromissos simbólicos. “Com a COP30 se aproximando, o Brasil tem a chance histórica de liderar o debate climático global com ações concretas e inspiradoras”, afirma.
Segundo Mariana, as cidades, onde vivem mais da metade da população mundial, são simultaneamente grandes emissores de gases de efeito estufa e territórios vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. “A adaptação climática urbana não pode se restringir a abordagens técnicas ou de engenharia. Trata-se, antes de tudo, de um imperativo político e social”, destaca.
Ela lembra que o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou atenção para a necessidade de uma “supernova de ambição climática”, cobrando avanços mais significativos de países, cidades e setores. “Progressos pequenos não serão suficientes para o enfrentamento da grande problemática ambiental”, ressalta Mariana, alinhando-se ao apelo das Nações Unidas.
O relatório internacional, Global Snapshot 2024 destacou que as cidades brasileiras necessitam de US$ 86 bilhões para implementar projetos climáticos urbanos eficazes. O financiamento climático local precisa ser ampliado, com a mobilização de pelo menos US$ 800 bilhões anualmente até 2030, enfatizando a importância do envolvimento do setor privado e da cooperação entre governos locais e nacionais.
O Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima) aprovou, para 2025, R$ 11,2 bilhões em investimentos destinados a projetos de mitigação e adaptação que visam proteger a população dos efeitos da emergência climática em todo o país, dado que reafirma a necessidade de ampliar ainda mais o escopo de soluções e ideias inovadoras, especialmente em nível municipal.
Para enfrentar os desafios climáticos com eficácia, é essencial que cidades brasileiras invistam em projetos sustentáveis que combinem infraestrutura verde, tecnologia e inclusão social. Isso inclui desde iniciativas de baixo custo, como jardins de chuva e telhados verdes, até sistemas integrados de monitoramento climático e mobilidade urbana de baixa emissão. A criação de ambientes urbanos mais resilientes exige não apenas recursos financeiros, mas também colaboração entre governos, setor privado, universidades e comunidades locais.
Soluções baseadas na natureza ganham destaque
Entre as estratégias apontadas por Mariana, estão as Soluções Baseadas na Natureza (SbN), que vêm ganhando força como alternativas viáveis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas nas cidades. Um exemplo concreto citado por ela é o jardim filtrante instalado no Recife, que atua na filtragem da água, mitigação de alagamentos e regulação microclimática.
A especialista também menciona casos internacionais bem-sucedidos, como os “corredores verdes” de Medellín, na Colômbia, que conseguiram aliar sustentabilidade urbana, inclusão social e requalificação ambiental. “Essas iniciativas demonstram que é viável associar sustentabilidade urbana à inclusão social e à requalificação ambiental”, diz.
Planejamento de longo prazo e participação social
Para que essas transformações sejam efetivas, Mariana defende planejamento urbano de longo prazo e mecanismos efetivos de participação social. “É fundamental que a agenda climática seja inserida com prioridade nas políticas públicas”, reforça.
Ela conclui que, diante de eventos extremos cada vez mais frequentes, as cidades precisam ser repensadas como territórios estratégicos para um futuro mais justo, resiliente e seguro. “A adaptação climática deve ser vista como oportunidade de transformação estrutural — e não como um custo — no caminho para cidades mais sustentáveis.”