Existe uma história antiga, mas que continua sendo muito atual. Um fabricante de calçados, desejoso por conquistar novos mercados, enviou dois vendedores para explorar uma nova região. Após viagem de reconhecimento, o primeiro disse: esqueça essa região, lá ninguém usa sapato. O segundo disse entusiasmado: é uma grande oportunidade, lá ninguém usa sapato.
Nós somos definidos por nossos hábitos, são eles que definem o nosso comportamento, nossas reações diante do mundo. E boa parte delas se dá de forma automática, sem permitir uma segunda chance.
Outro dia ouvi a expressão “corno job”. A pessoa estava reclamando que só estava fazendo trabalho de corno, daí a expressão “corno job”.
Não pude evitar um paralelo com minha carreira pelo mundo corporativo. Tendo começado como analista financeiro, alcancei a mais alta posição dentro das organizações no Brasil. Trabalhei muito, tive ajuda de pessoas chaves que acreditaram e apostaram em mim e o principal é que estava no lugar certo no momento certo.
Tudo começou quando a empresa foi comprada por uma multinacional europeia e teve início um grande processo de reestruturação. Redução de despesas, corte de pessoal, mudança de processos, revisão de produtos e tudo mais vocês possam imaginar. E lá, estava eu, no meio desse tiroteio. Trocaram-me de área. Saí de uma posição em que já estava bastante confortável e assumi uma nova posição que era totalmente desconhecida para mim, reportando diretamente ao presidente, o que aumentava ainda mais a responsabilidade. A ideia dos novos acionistas era colocar alguém que não tivesse vícios do passado.
O clima era de terra arrasada. A empresa estava cortando benefícios, pessoas e a grande maioria não acreditavam no projeto. Quando o mais sensato parecia ser procurar um outro emprego, escolhi ficar.
Olhando o passado a partir do presente, alguém pode dizer que fui uma pessoa de visão etc e tal, mas a verdade é que eu também não tinha a menor certeza de que o projeto daria certo. O que vi foi uma oportunidade. Eu tinha disposição e capacidade para aprender uma nova atividade, mas o que me faltava era tempo. Então tive de correr para ganhar tempo. Cerquei-me de pessoas com talento que me economizaram tempo.
Algumas vezes me pergunto se eu tivesse iniciado minha carreira numa empresa estruturada, com todos os processos consolidados, se teria conseguido atingir as posições que atingi? Tendo a pensar que teria sido muito mais difícil.
É onde existem problemas que as oportunidades aparecem para quem está atento.
Interessante observar como temos desejos antagônicos. Desejamos progresso profissional, mas não gostamos de problemas; queremos viver, mas não queremos morrer.
Somos feitos de hábitos e, se estou acostumado a ver o copo meio vazio, não há como enxergar as oportunidades. Reclamaremos das pessoas andarem descalças.
E o hábito de reclamar trás embutido uma outra armadilha. Inconscientemente ele nos exime das responsabilidades. Após reclamar, já não nos sentimos responsáveis pela resolução do problema. Não significa que não iremos fazer nada, mas como já terceirizamos a responsabilidade, o nível de comprometimento será aquém do possível. O mercado valoriza os resolvedores de problemas, não os despachantes.
Eu não acredito em sorte ou azar. São minhas ações e reações diante dos fatos que definirão meu futuro. É minha escolha ver copo meio cheiro ou meio vazio, é minha escolha ver como “corno job” ou “golden opportuniity”. São nossas escolhas que definem nosso futuro, não tem nada a ver com sorte ou azar.