Desde a realização do Fórum de Sustentabilidade empresarial da Rio+20, em 2012, empresas do mundo inteiro passaram a investir em iniciativas voluntárias de sustentabilidade, tendo como base a agenda sustentável de negócios desenvolvida para as próximas décadas. “É perceptível a evolução desse compromisso ao longo desses anos. Contudo, a velocidade e amplitude das medidas encontram-se aquém do que o planeta e seus habitantes necessitam”, explica Renato Barros Frascino, head de agronegócio da Opea, líder em securitização no Brasil.
Segundo ele, no Brasil esse cenário se repete com o desenvolvimento de diversas iniciativas que unem práticas sustentáveis e a atratividade financeira dos projetos, tanto para tomadores como para provedores de recursos. Renato explica que, para solucionar essa equação, uma alternativa de captação de recursos junto a investidores internacionais para produtores do agronegócio comprometidos com determinadas metas de sustentabilidade para seus negócios é o CRA verde em dólar.
Renato explica que os CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) são títulos já amplamente utilizados pelas empresas do setor no Brasil, contudo, duas características se destacam do ponto de vista de atratividade para investidores estrangeiros. A primeira diz respeito a compromissos assumidos pelos produtores (os tomadores de recursos) de cumprirem com práticas sustentáveis de produção, preservação de reservas naturais, entre outras ações. “Estes compromissos são monitorados por empresas especializadas e o seu cumprimento é o que garante a captação de recursos a taxas inferiores àquelas comumente praticados no mercado”, esclarece. A segunda característica é o fato do CRA poder contar com uma remuneração atrelada à variação cambial acrescida de uma taxa de juros. “Esta possibilidade torna-se fundamental para a viabilidade das operações, uma vez que a sua não existência ensejaria a contratação de operações de derivativos para proteção contra o risco cambial, o que elevaria os custos da operação, reduzindo o interesse de ambas as partes”, resume.
Segundo o especialista, em geral, as empresas do agronegócio com práticas sustentáveis na condução dos seus negócios podem buscar esta alternativa de captação de recursos. Entre os exemplos de práticas sustentáveis que poderiam fazer parte deste programa estão iniciativas como a preservação de reservas naturais, compra de áreas degradadas onde serão desenvolvidas atividades sustentáveis de produção, desenvolvimento de atividades agroflorestais, ou até mesmo incentivo a produtores que tenham selos ou certificações como o RTRS (Associação Internacional de Soja Responsável), Rainforest Alliance, dentre outros.
Renato explica que para a emissão de um CRA o ideal é que a empresa tenha um faturamento anual mínimo de R$100 milhões, mas produtores com faturamento menor podem se unir a outros produtores para realizar a captação. “Esse cenário vale para empresas e produtores de soja, milho, algodão, assim como produtores de café, de cacau ou pecuaristas. Todas as culturas estão aptas para a emissão de um CRA Verde em dólar, desde que haja a presença do componente de sustentabilidade em sua atividade”, explica ele.
Os CRA são lastreados em CPR-Fs (Cédula de Produtor Rural Financeira), também referenciadas em dólar, que são emitidas por pessoas físicas ou jurídicas, ou mesmo por cooperativas. Renato ressalta que o número de emissões de CRA no Brasil segue em evolução e deve crescer exponencialmente em 2024, tornando o CRA uma alternativa de captação de recursos cada vez mais importante para o setor.
”O agronegócio brasileiro é muito grande e sua capacidade de atrair investimentos externos está só no início. Com o surgimento de novos veículos internacionais focados em investimentos sustentáveis acreditamos que o desenvolvimento sustentável das atividades do agronegócio brasileiro tomará um impulso considerável nos próximos anos”, finaliza.