Segundo uma pesquisa realizada pela Rivool Finance, fintech da web3, ao longo de três anos, o crescimento de 10% no volume total de crédito colaborou diretamente para o aumento de 1,8% na produção do agronegócio. Isso equivale a um crescimento de 4,88% na produção, em resposta a um desvio padrão no crédito total, demonstrando claramente o efeito estimulante do crédito no setor. A descoberta destaca o papel crítico da disponibilidade de crédito no impulsionamento do crescimento da produção agrícola, evidenciando a importância do suporte financeiro para o desenvolvimento sustentável do setor.
A análise cobriu 4.618 municípios de 2013 a 2021, o estudo utilizou uma metodologia econométrica, especificamente estimando um modelo de Vetores Auto-regressivos com dados em painel, para investigar a relação entre a expansão do crédito e o crescimento da produção agrícola.
O estudo da Rivool analisou os diferentes tipos de crédito (custeio, investimento, comercialização e industrialização), destacando que o aumento do volume de crédito destinado a investimento foi responsável por aproximadamente 0,7% do crescimento observado na produção agrícola. Os demais tipos de crédito não demonstraram ter impacto significativo do ponto de vista estatístico.
A pesquisa faz parte do Market Review da fintech, conduzido por Cristiano Oliveira,head of research da Rivool Finance e professor da Universidade Federal do Rio Grande. “Vivemos uma importante mudança no cenário do agronegócio brasileiro. Tradicionalmente, os recursos de crédito rural no Brasil provinham em grande parte do orçamento público, por meio de fundos constitucionais e principalmente de recursos direcionados de depósitos à vista e poupança rural. As restrições orçamentárias públicas e os recursos limitados disponíveis nas instituições financeiras tradicionais começaram a representar sérios desafios à dinâmica e capacidade de expansão do setor”, destaca Oliveira.
Em resposta a esse desafio, o Brasil testemunhou a implementação de mudanças legislativas fundamentais, promulgando a Lei 13.986/2020 e a Lei 14.421/2022, respectivamente, Agro 1 e Agro 2. Através das informações do estudo da Rivool, fica evidente que essas leis representam um marco na história do crédito rural no país, estabelecendo um novo paradigma no financiamento do agronegócio. O impacto das leis no agronegócio brasileiro foi significativo, permitindo que o setor continuasse sua trajetória de expansão alinhada ao crescimento da demanda global.
Essas mudanças, aliadas à possibilidade de securitização de recebíveis em moeda estrangeira trazida pela Lei 13.986/2020 e à criação da Fiagro pela Lei 14.130/2021, efetivamente abriram o agronegócio brasileiro para o mercado de capitais nacional e internacional. A nova realidade fica evidente nos números. Desde a promulgação da Lei Agro 1, em 2020, as CPRs mais do que tentaram aumentar seu volume em apenas três anos, enquanto outros ativos, com um volume razoável delas lastreados em CPRs, especialmente ativos financeiros, também tiveram crescimento significativo nesse curto período.
O agronegócio representa cerca de um quarto do PIB brasileiro, cerca de R$ 2,6 trilhões. Há ainda demanda por recursos volumosos para todas as etapas da produção, bem como por investimentos, por exemplo, no armazenamento e recuperação de áreas de pastagem, o que permitirá, entre outras coisas, expandir a fronteira agrícola sem a necessidade de utilizar áreas de mata nativa ou florestas. Portanto, contribui para o desenvolvimento sustentável da atividade e do país.
No curto prazo, é possível vislumbrar um cenário em que fundos que reúnem recursos de diversos investidores para investir em ativos relacionados ao agronegócio, seja em propriedades rurais ou atividades do setor, terão protagonismo por sua capacidade de atrair investidores nacionais e internacionais que não são profundos conhecedores do funcionamento do agronegócio brasileiro. Além disso, as fintechs podem contribuir para reduzir as assimetrias de informação que ainda existem e, dessa forma, tornar esse mercado cada vez mais democrático para produtores rurais e investidores.