A TETO Brasil e o Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper divulgam o Panorama Climático das Favelas e Comunidades Invisibilizadas, amanhã (14), em Brasília. O estudo tem o objetivo de visibilizar a violação de direitos nestes territórios e subsidiar decisões do poder público com relação às políticas de enfrentamento das consequências da crise climática.
O Panorama Climático das Favelas e Comunidades Invisibilizadas é a segunda edição do estudo realizado pela TETO, em parceria com Insper. O objetivo é aumentar o volume de dados sobre comunidades que, dada sua precariedade, são frequentemente ignoradas por outros levantamentos. Em 2025, foram mapeadas 119 comunidades, em 51 municípios de todas as regiões do Brasil.
O evento de lançamento do Panorama Climático reunirá autoridades do governo federal, pesquisadores acadêmicos, lideranças comunitárias de diferentes Estados e representantes das organizações envolvidas no estudo. A apresentação dos principais resultados será seguida de debates entre os participantes e ocorre no auditório do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da UnB, em Brasília. O acesso ao espaço é gratuito, mediante inscrição prévia.
As favelas e comunidades invisibilizadas, são caracterizadas pela ausência de habitações minimamente dignas e seguras, infraestrutura de saneamento básico e acesso à água tratada, rede de fornecimento de energia elétrica, além de conviverem com riscos de deslizamentos, enchentes, animais peçonhentos e insetos.
Camila Jordan, diretora de Relações Institucionais e Incidência da TETO Brasil, explica que “este estudo traz uma visão e perspectiva inovadora e de extrema importância para a discussão das mudanças climáticas, que é como as comunidades e favelas mais afetadas percebem os impactos e quais soluções desenvolveram para a sua própria sobrevivência frente ao vazio do Estado”. Alguns dados apurados pelo estudo indicam o nível de vulnerabilização destes territórios. Por exemplo, 69% das comunidades não têm acesso à rede de saneamento básico e 70% dos territórios não possuem sistema de drenagem, deixando os habitantes mais expostos a doenças e enchentes.
Esse cenário prejudica diretamente as populações locais – impactos na saúde, segurança, alimentação e aspectos financeiros – e influencia indiretamente na questão da saúde mental dos moradores. O reflexo dos eventos enfrentados por essas comunidades ainda é incomensurável, mas o Panorama consegue revelar, por exemplo, que o medo de eventos climáticos, que aconteceram ao menos uma vez desde janeiro de 2024, é constante para 86% dos entrevistados. Os eventos apontados no estudo foram: ondas de calor intenso (71%), tempestades e vendavais (56%), enchentes (54%) e ondas de frio e falta de água (50%).
“Como podemos ver no estudo, é urgente escutar e trabalhar em conjunto com as lideranças comunitárias e comunidades”, detalha Camila. “Precisamos ir além de somente conhecer as realidades desiguais, precisamos trabalhar de forma coordenada e coletiva, buscando preparar as comunidades para a nova realidade climática, revertendo décadas de ausência de políticas públicas de maneira a garantir a dignidade e segurança para milhares de famílias que vivem em condições hiper precárias. Esperamos que o Panorama contribua para o debate e a ampliação e implementação de políticas públicas e ações de resiliência e adaptação aos desafios enfrentados pelas populações que residem nessas comunidades.”
Para Inês da Silva Magalhães, vice-presidente de Habitação, da Caixa Econômica Federal, e uma das palestrantes confirmadas no evento de lançamento, “o Panorama Climático é uma importante iniciativa para organizar e sistematizar informações, vozes e experiências de territórios, muitas vezes invisibilizados, mas altamente impactados pelas mudanças do clima. Trata-se de ferramenta com potencial de orientar políticas públicas e investimentos mais justos e eficazes.”
O panorama contou com a parceria acadêmica do Insper Cidades, que apoiou na metodologia, na revisão do documento e acompanhou o desenvolvimento do estudo. Segundo Hannah Arcuschin, coordenadora adjunta e pesquisadora do programa Cidade +2°C do Insper Cidades, “a resiliência das comunidades passa pela governança inclusiva e participativa”. Por isso, este estudo não poderia ser diferente: ele parte da ciência cidadã, da escuta de quem vive o risco, para que essas vozes sejam incorporadas na formulação das soluções”.
O estudo completo estará disponível no site da TETO e do Insper.