Matheus Tait – Country Managing Director (CEO)
Sou Matheus Tait, tecnólogo, executivo e pai da Alice. Hoje, atuo na Espanha como CEO (Country Managing Director) de uma consultoria especializada em alta tecnologia, liderando centenas de pessoas de vários países e habilitando a transformação digital de grandes empresas globais.
Antes da Espanha, passei por vários outros países, sempre devido à minha trajetória profissional. Entre vivências mais longas e projetos curtos de poucas semanas, lembro-me de ter trabalhado no Brasil, Estados Unidos, México, Equador, Índia, Cingapura, Alemanha, Polônia, Finlândia e Romênia. Fui líder de negócios — e, modéstia à parte, com grande sucesso — em três deles: Brasil, Equador e Espanha. Muitas culturas e lugares nessa jornada.
Há algumas décadas, eu jamais imaginaria ter a oportunidade de vivenciar nem mesmo uma única experiência internacional. Nasci em Brodowski, uma pequena cidade no interior de São Paulo, em 1978. Minha família não tinha grandes posses, mas minha mãe, Aureluce, sempre foi uma verdadeira guerreira, criando quatro filhos e trabalhando na rede pública de ensino. Apesar dos desafios, ela sempre garantiu que tivéssemos tudo o que realmente importava, incluindo muito suporte, incentivo e motivação para os estudos. Aliás, sempre estudei na rede pública, incluindo o ensino médio e a universidade. Só depois de graduado e com um emprego estável foi que me permiti estudar em algumas instituições privadas. Hoje, tenho alguns nomes que chamam a atenção no meu histórico educacional, como Harvard Business School, MIT e The Wharton School, todos conseguidos já na vida adulta, depois de anos trabalhando e finalmente tendo um salário que me permitiu esse investimento.
Comecei a trabalhar bem jovem para ajudar a família, desde atendente em sorveteria até em videolocadoras – onde começou minha paixão por cinema e meu aprendizado de inglês, a partir dos filmes. Quando tive acesso a um computador para fazer diagramações, ajudando meu pai em seu trabalho, me conectei com o mundo da tecnologia. Eu me inseri nesse universo bem antes da internet, aliás. A partir dessa experiência, escolhi cursar Engenharia da Computação na Universidade de Campinas (Unicamp). Contudo, minha curiosidade sempre foi enorme, e não foi fácil escolher — cheguei a considerar Cinema ou Filosofia. No fim, optei pela computação pensando nas oportunidades futuras.
Entrar na universidade foi uma experiência marcante. Cresci em uma cidade pequena, estudando em escolas públicas, e algumas atividades que realizo hoje nem imaginava existirem. Ao olhar para trás, vejo esse ter sido um divisor de águas, ampliando meus horizontes e me permitindo aprender lições novas e explorar um mundo de outras possibilidades. Aproveitei ao máximo esse ambiente, cursando matérias de outras áreas, como Filosofia, Artes, Sociologia, Economia e Educação Física. Posteriormente, o conhecimento técnico adquirido, alinhado a essa abertura de visão e, por que não, o peso do diploma, me ajudaram muito a evoluir na minha carreira.
Algo constante em minha vida é ler bastante, especialmente ficção científica, porém sempre leio sobre tudo. Ultimamente, tenho me dedicado à neurociência, um assunto apaixonante e conectado a ser um profissional de alto desempenho.
Um Líder Tímido: É Possível?
Sempre fui muito tímido e introvertido, e ainda sou. Por um bom tempo, pensava: líderes não podiam ser assim. Nunca tive essa ambição; era algo que não passava pela minha cabeça.
Quando fui convidado para minha primeira experiência em liderança, foi um grande desafio e uma surpresa enorme. Mas, depois de um tempo, percebi estar enganado sobre o necessário para liderar. Decidi fortalecer minhas qualidades e aprendi ser possível me tornar um líder eficaz sendo tímido e introvertido. É uma questão de trabalhar respeitando meu próprio estilo, usar as fortalezas que possuímos da melhor maneira e contar sempre com nossos times.
Recentemente, li que cerca de 47% da população é introvertida. Desse modo, quando compartilho meus pensamentos com colegas de trabalho, descubro não estar sozinho, e isso é algo a permear meus artigos.
Encontrando Meu Caminho
Não existe uma “receita de bolo” para atingir nossos objetivos pessoais. É importante entender: as pessoas são diferentes e têm estilos distintos.
Algo que funcionou para mim — e insisto: diferentes pessoas chegam a esse papel de diferentes maneiras — foi que, ao longo da minha trajetória, sempre fiz questão de ser genuíno, demonstrar autenticidade e integridade. Além disso, agir com empatia e saber ouvir, pensando no bem do grupo e não apenas na ambição pessoal. Fazendo isso todos os dias, aos poucos, enquanto estudava e melhorava tecnicamente, o reconhecimento foi chegando.
Pode parecer contraditório, mas equilibrar a ambição pessoal com o trabalho em equipe foi o que me levou à liderança. Ou seja, ao não buscar esse papel, mas sim focar em ajudar minhas equipes de forma genuína, eventualmente fui convidado a ser líder. Foi uma história longa, porém no meu primeiro papel de liderança, fui escolhido pela própria equipe como líder em uma votação, quando nossa antiga líder saiu da empresa, lá pelos anos 2000. Acredito ter sido resultado de agir com princípios sólidos, como integridade, genuinidade e escuta ativa.
Estar aberto ao novo, incluindo novas culturas, também me parece essencial. Como tive o privilégio de viajar muito, viver várias culturas me tornou mais flexível para entender e respeitar o diferente, valorizando o que cada uma tem de bom.
Por fim, acredito que a curiosidade contribuiu muito. Sou muito curioso; sempre quero entender os acontecimentos. Por que estamos executando este projeto? Para quem? Quais as alternativas? Isso me ajudou muito a ter uma visão holística das coisas.
Também tive muita ajuda. Pessoas excelentes me auxiliaram com mentoria, e hoje procuro compartilhar meus aprendizados da mesma forma.
A Virada: Focando em Pessoas
No começo da carreira, quando desenvolvia softwares, os desafios eram um pouco mais técnicos. Eventualmente, quando mudei de papéis, tudo passou a ser sobre pessoas. Percebi ser muito mais importante focar em pessoas do que em tecnologia.
Liderar exige comunicação aberta, saber motivar, ajudar e engajar a equipe, entender os problemas a serem resolvidos e ser honesto ao assumir erros. Com o tempo, peguei gosto e descobri que adorava trabalhar com pessoas.
Foi difícil no começo, mas acredito que a maior barreira foi interna, de superar a síndrome do impostor e entender que eu poderia, sim, ser efetivo no novo papel.
Superando Limites com Autoconhecimento
Pelo que aprendi na minha carreira, acredito que as armadilhas reais são aquelas impostas por nós mesmos, como a síndrome do impostor — achar que não somos capazes. A ideia de que eu não tinha as ferramentas para liderar foi superada quando entendi: a missão é sobre pessoas. O autoconhecimento é essencial para nos aprimorarmos não só profissional, mas pessoalmente também, e enfrentarmos os maiores desafios.
Antes, isso para mim era mais intuitivo — descobria sobre mim mesmo, o que posso fazer, onde precisava melhorar, quase por acaso. Hoje, com 46 anos, sou bem mais intencional nisso. Pratico meditação, estou tentando voltar às artes marciais, faço terapia e mentoria. Também sou mentor de outras pessoas; às vezes, a melhor maneira de aprender é ensinando alguém, e ao compartilhar minha experiência, também cresço.
Integrando Valores à Carreira
Acredito que os valores devem sempre prevalecer em prol do coletivo e da sociedade. Sinto-me motivado e orgulhoso de trabalhar com tecnologia, contudo, sei que tenho uma grande responsabilidade, pois as inovações moldam a sociedade cada vez mais. Por isso, para mim, é importante integrar meus valores em tudo o que faço.
Por exemplo, quando recebemos uma missão de um cliente, sabemos que ele quer resolver um problema, e essa é nossa responsabilidade. Mas também penso em como podemos contribuir para a sociedade e trazer benefícios para o mundo ao fazer isso. Como um exemplo simples: posso criar um software que atinge os objetivos de negócio do cliente, mas também posso criar um recurso que atende às necessidades dele, enquanto é acessível e inclusivo a todas as pessoas, independentemente de necessidades especiais. Muitas vezes, essa escolha é nossa, da equipe de desenvolvimento. Podemos ou não incluir nossos valores em tudo que fazemos; eu escolho fazer isso.
Além dos produtos em si, esses valores também aparecem na gestão. Como exemplo, tenho orgulho de termos alcançado 49% de representatividade de mulheres em papéis técnicos na nossa operação aqui na Espanha.
Conselhos para o Futuro: Aprendizado constante, Equilíbrio e leveza
Li um artigo do Fórum Econômico Mundial afirmando: “as mudanças nunca serão tão lentas quanto são hoje”. Achei isso poderoso, porque parece que tudo está acontecendo muito rápido ultimamente, especialmente no mundo da tecnologia, e provavelmente, no futuro, as transformações serão ainda mais rápidas. As inovações tecnológicas estão cada vez mais aceleradas, e os intervalos entre elas são cada vez menores. Algumas análises preveem que a maior parte das profissões da próxima década ainda não existem hoje.
Se me pedirem algum conselho para quem está iniciando a carreira, começo com: curiosidade, criatividade e capacidade de se reinventar e aprender constantemente. Estas características serão essenciais. Isso inclui entender contextos diferentes, saber desaprender para reaprender e estar sempre antenado ao que está surgindo.
Meu segundo conselho é sobre autenticidade, equilíbrio e leveza. Autenticidade é ser você mesmo sempre que possível, encontrar o que gosta de fazer. Equilíbrio é pensar no futuro e trabalhar para alcançar seus objetivos, porém sem se esquecer de viver a vida enquanto isso.
Leveza é ter tranquilidade e saber que, se algo deu errado no caminho, tudo bem. A gente tenta de novo. Por exemplo, se tiver que tomar uma decisão hoje sobre qual curso seguir na faculdade, busque algo de que goste, onde possa ser você mesmo. Pense um pouco no futuro, claro, em como essas carreiras devem evoluir, mas também na sua jornada até lá. E, se por acaso não for isso que dê certo para você? Tudo bem, aprendemos algo com isso e tentamos de novo. Com essa mentalidade, é possível alcançar grandes feitos e fazer a diferença no mundo.
Além disso, nunca subestime o poder das conexões humanas. Cultive relacionamentos genuínos, tanto pessoais quanto profissionais. Não é apenas sobre contatos, mas sobre construir pontes que podem enriquecer sua vida de maneiras inesperadas.
Por fim, lembre-se de cuidar de si. Saúde mental e bem-estar são fundamentais para sustentar uma carreira e uma vida satisfatórias. Encontre tempo para hobbies, família e amigos. Esses momentos recarregam nossas energias e nos mantêm motivados.
Espero que minha jornada possa inspirar você a acreditar em si, seguir seus sonhos e nunca deixar alguma característica (como a timidez e a introversão foram no meu caso) seja obstáculos. Com autenticidade, equilíbrio e leveza, podemos alcançar grandes realizações e contribuir positivamente para a sociedade.