O mercado brasileiro de Tecnologia da Informação (TI) enfrenta um desafio crescente com a escassez de profissionais qualificados. Dados da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais) apontam que entre 2019 e 2024, o mercado de TI precisou de 665.403 profissionais, enquanto apenas 464.569 se formaram entre 2018 e 2023. Isso significa que a demanda cresceu 30,2% acima da oferta de novos profissionais, ampliando ainda mais o déficit no setor.
Além disso, um estudo realizado pelo Google for Startups, em parceria com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), prevê que, no mundo, 85 milhões de empregos na área de tecnologia não serão preenchidos por falta de pessoas para ocupá-los até 2030. No Brasil o cenário é ainda mais alarmante. A projeção é que até o final do ano tenhamos mais de 53 mil profissionais se graduando anualmente, enquanto a demanda é de 800 mil novos talentos. É esse descompasso que tem impactado diretamente no desenvolvimento tecnológico e na competitividade do país.
Além do número de formandos na área que não acompanha a necessidade do mercado, a falta de profissionais qualificados pode ter múltiplas causas. Entre elas estão: a competitividade internacional, que agrava a situação, uma vez que muitos talentos brasileiros são recrutados por empresas estrangeiras, atraídos por salários mais altos – que chegam em cerca de 10 mil dólares, ou quase 60 mil reais mês, em alguns casos – e oportunidades de trabalho remoto; e a baixa diversidade no setor, que ainda enfrenta desafios para a inclusão de mulheres e profissionais negros.
Segundo Sylvestre Mergulhão, CEO da Impulso, People Tech que, há 14 anos, é orientada ao aumento de capacidade e produtividade de médias e grandes empresas, “todo ano faltam bons profissionais em TI, e a culpa não é só da escassez de qualificação. O mercado correu, a formação ficou. Tem muita faculdade ensinando tecnologia como se ainda estivéssemos nos anos 2000”, questiona.
A carência de mão de obra qualificada tem impactos significativos no mercado. Empresas de diversos setores relatam dificuldades para preencher vagas estratégicas, o que pode atrasar projetos de inovação e comprometer o crescimento do setor de tecnologia. Além disso, a alta demanda por talentos tem inflacionado os salários, tornando o recrutamento e a retenção de profissionais outros desafios para as empresas brasileiras.
Uma das soluções mais urgentes para mitigar essa escassez é o investimento em educação e capacitação. Ampliar programas de formação profissional em tecnologia, criar incentivos para cursos técnicos e universitários na área e fortalecer parcerias entre empresas e instituições de ensino são algumas das estratégias apontadas como fundamentais para reduzir o déficit.
Além da formação, a retenção de talentos também é essencial. “Empresas querem reter talento no Brasil, mas continuam apostando nas mesmas velhas fórmulas: plano de carreira engessado, benefícios genéricos e um discurso batido sobre inovação. O problema não é só falta de talento, é falta de motivação pra ficar”, afirma Mergulhão.
Diante desse cenário, a necessidade de medidas urgentes para solucionar a escassez de profissionais de TI se torna evidente. Caso contrário, o Brasil pode perder competitividade no mercado global, comprometendo seu avanço tecnológico e o crescimento de sua economia digital. “Formar pessoas é só o início. Sem um ambiente que motive e retenha, o talento vai embora.”, conclui