Desafios da nova liderança – impulsionando o espírito heroico dos negócios

Parece claro o reconhecimento da responsabilidade de todas as empresas, independentemente do porte, setor ou de onde operam, de que as empresas precisam cumprir toda a legislação relevante, manter os padrões mínimos reconhecidos internacionalmente e respeitar os direitos universais.

Contudo, com tantas crises ambientais, sociais e humanitárias, surge uma nova demanda, a esperança de uma nova visão que possa curar a desagregação de nossa sociedade, gere riqueza e façam uma diferença positiva no mundo. 

Como?

Enriquecendo a vida de todas as partes interessadas, transformando a vida dos colaboradores, com valores mais sustentáveis e solidários, na crença de que empresas podem e devem ajudar a curar os males da sociedade.

Mas isso não é fácil, bem como também não existe fórmula mágica. Mas parece claro que, se os líderes não passarem por um processo de autoconhecimento capaz de identificar quais são suas forças e os gatilhos que os fazem agir em prol de um bem maior, além do lucro, isso não acontece.

Não estou falando que o lucro não é importante, pois sem o lucro uma empresa não sobrevive, mas este lucro faz sentido, se vier acompanhado de boas práticas condizentes com os desafios que os tempos atuais nos impõe. Não só para a perenidade dos negócios, mas para a própria sobrevivência da humanidade, em um planeta repleto de crises (emergência climática, perda da biodiversidade e poluição), reverberando em outras crises (hídrica, energética, sanitária, econômica, política e social).

Isso será mais difícil ainda, se os líderes não souberem seu papel, onde podem atuar em prol de uma liderança de impacto positivo, rumo a essa nova economia mais inclusiva, diversa e, principalmente, regenerativa para um planeta agonizante.

Dito isso, da mesma forma que na arena da vida, nem sempre precisamos estar no palco, muitas vezes precisamos desaprender, para reaprender com a mesma agilidade que o momento nos impõe, observando, equilibrando as polaridades a partir de um estado de presença e buscando a congruência na busca pelos resultados econômicos e consonância com os aspectos sociais, ambientais e de governança.

Então, troque o seja perfeito, seja útil, seja forte, seja rápido e seja bonzinho, por: seja você, mas escute os que os colaboradores têm a dizer, ouça os pares, pergunte, enxergue as dores, busque soluções conjuntas, ofereça serviços, transcenda os problemas e ofereça curas, em um processo contínuo de evolução.

A regra é não ter regras, para que se busque a flexibilidade do bambu e, nessa dança da vida, observe, questione o status quo, crie hipóteses. O líder que você é, é a pessoa que você é. Então, mantenha a mente aberta, o coração aberto e a vontade aberta para fazer a diferença. Nem sempre será fácil, mas quando tudo estiver confuso, tenha o seu propósito em mente e seus valores inegociáveis como um cajado, a te amparar no momento de maior turbulência.

Para ajudar, a Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e para a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal, com 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), sem deixar ninguém para trás. Diferentemente dos antecessores, os ODS explicitamente convocam todas as empresas a utilizar sua criatividade e inovação para resolver os desafios da atualidade. Eles foram acordados pelos governos, mas o seu sucesso depende demasiadamente das ações e colaborações de todos os setores.

Então, uma dica é: avalie os ODS, identifique oportunidades de negócios, de fortalecimento de relações com outros atores, de forma que possam contribuir na estabilidade de sociedades e mercados, com uma finalidade compartilhada.

Defina prioridades, pois nem todos os ODS serão igualmente relevantes para sua empresa. Então, mapeie sua cadeia de valor e identifique áreas de impacto, selecione indicadores e colete dados para que possa definir as prioridades de sua empresa.

Definida as prioridades, estabeleça metas, considerando cuidadosamente o nível de ambição de sua empresa com relação às metas. Metas ambiciosas geram maiores impactos e um desempenho melhor que metas modestas. Mas analise se são factíveis para que não haja o desencorajamento.

Torne essas metas públicas para inspirar e engajar funcionários e sócios comerciais, além de fornecer uma boa base para o diálogo construtivo com outras partes interessadas.

Faça a integração tendo claro que a liderança ativa do CEO e dos gerentes seniores é a chave para o sucesso de qualquer tipo de mudança organizacional significativa. O apoio e a propriedade de funções corporativas são a chave para a incorporação da sustentabilidade na estratégia comercial, cultural e de operações da empresa.

Dedique-se também às parcerias para que as questões de sustentabilidade não sejam conduzidas isoladamente.

Por fim, relate e comunique. É importante que as empresas utilizem os padrões internacionalmente reconhecidos para os relatórios de sustentabilidade, tais como os padrões abrangentes oferecidos pela GRI (Global Reporting Initiative) ou CDP (Carbon Disclosure Project), entre outros.

Empresas podem e devem ajudar a curar os males da sociedade, mas como diz Sônia Consiglio (SDG Pioner), “a mudança é principalmente, de mindset, da forma de entender o mundo, o novo funcionamento das economias e dos negócios. O aspecto puramente financeiro não é mais suficiente para os desafios atuais. É preciso visão estratégica e entendimento de que os fatores ambientais, sociais e de governança são igualmente importantes. Estamos falando do mundo EESG – Economic, Environmental, Social & Governance. Para fazermos essa transformação é preciso boas referências, bons guias, boas métricas”.

É um novo estágio da consciência, organizações como veículos para a colaboração humana, com novas maneiras de restaurar nosso relacionamento com o planeta e os danos que causamos. Isso é uma grande realização – de ordem cognitiva, psicológica e moral. Abrindo mão de velhas certezas e experimentando uma nova visão de mundo, o que exige coragem. Frederic Lalox (Reinventando as organizações, 2017).

Sair da versão mobile