Hoje, dia 05 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente, data comemorativa criada pela ONU em 1972 para refletirmos sobre a necessidade de preservação do meio ambiente e a responsabilidade dos países em preservá-lo.
Será que nós brasileiros estamos fazendo nossa parte?
Não, não adianta falar que a Europa não pode criticar a política ambiental brasileira, pois a Europa só possui 3% de mata nativa, segundo a Agência Ambiental Europeia (EEA) (Época, 2019). Afinal, um erro não é um passaporte livre para outros também errarem.
No mais, em pleno século XXI, com o avanço da ciência, é esperado que aumente o grau de consciência das civilizações atuais para a compreensão de que nem nós e nem nossos processos produtivos existimos em um vácuo.
Com três crises planetárias – aquecimento global, perda da biodiversidade e poluição – precisamos de uma nova economia, na qual o meio ambiente passa a impor limites. Limites impostos pela capacidade de suporte ambiental, já que o sistema econômico é um subsistema do sistema ambiental e, não, o contrário.
Por décadas, extraímos recursos naturais, destruímos habitats críticos e geramos poluição. Com as três crises planetárias, essa relação de mão única se mostrou insustentável.
Agora, é chegada a hora de reconhecer o valor da natureza, de modelos de negócios que reduzem seus impactos negativos e se propõem a gerarem impactos socioambientais positivos.
Questão das escolhas que fazemos. E o que o Brasil faz?
Propõe um Projeto de Lei que afrouxa as regras para o licenciamento ambiental, no ano em que o país sediará a 30ª Conferência das Partes, em Belém, no meio da floresta Amazônica, contrariando as atuais medidas e os compromissos assumidos pelo governo para estabelecer expectativas claras para as empresas em relação à sua responsabilidade de respeitar os direitos humanos, bem como em relação às ações ambientais e climáticas.
Segundo argumentos de vários grupos de trabalho da ONU:
“A alteração, o enfraquecimento e a eliminação das salvaguardas ambientais e dos mecanismos de supervisão estabelecidos pelo atual processo de licenciamento ambiental levariam a impactos graves sobre o meio ambiente, comprometendo o ar limpo, a água sustentável e saudável, alimentos produzidos de forma sustentável, ecossistemas e biodiversidade saudáveis, ambientes não tóxicos e clima seguro, todos essenciais ao direito a um meio ambiente saudável” (Poder 360, 2025).
Como o país poderá negociar um acordo comercial com a União Europeia – um acordo que prevê a eliminação ou redução de tarifas de importação entre os blocos – principalmente devido a exigências ambientais da União Europeia capitaneadas pela França?
O país pressiona para que o acordo não seja implementado sem que haja garantias concretas de cumprimento do Acordo de Paris, tratado global sobre a mitigação das mudanças climáticas estabelecido em 2015.
Macron defende que os produtos do Mercosul só possam entrar na UE se seguirem as mesmas regras de sustentabilidade que regem os produtores europeus. Segundo ele, seria anticompetitivo para a UE aceitar produtos sem rígida regulação ambiental, enquanto o bloco aprova regras mais severas internamente (Veja Negócios, 2024).
O agronegócio nacional será o maior prejudicado.
Na véspera do Dia Mundial da Água, dia 22 de março, o MapBiomas divulgou números sobre as águas no Brasil. Os dados não são nada bons. A área do território brasileiro coberta por água apresentou nova redução em 2024, sendo 2,2% menor do que em 2023 e 3,2% menor do que a média histórica, iniciada há 40 anos, em 1985 (ClimaInfo, 25/03/2025).
Esse cenário contribuiu para a intensificação da seca, que afetou severamente a agricultura, as pastagens e os níveis dos reservatórios de água. Porém, a situação de seca se agravou no início de 2025, com os meses de janeiro e fevereiro apresentando condições ainda mais críticas de estiagem (Couto, 24/03/2025).
Com isso, os modelos econômicos devem levar em consideração a conta das mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, a diminuição natural de recursos e seu impacto na sociedade.
Por meio de decisões integradas, o novo sistema de contabilidade deve levar em consideração as interligações e dependências entre meio ambiente e economia.
Não é porque mudamos as nossas leis que as leis ambientais irão se adaptar às nossas necessidades de ganhos de curto prazo.
20 anos de estragos: de 1999 a 2018, 12 mil eventos climáticos extremos causaram 495 mil mortes e US$ 3,54 trilhões em prejuízos.
Fonte: Index Global de Risco Climático 2020 / GermanWatch apud Sabesp, 2021.
Ademais, o Banco Mundial estima que a economia global poderá perder US$ 2,7 trilhões até 2030 se serviços ecossistêmicos chave entrarem em colapso. Em países emergentes, o PIB poderá cair 10% ao ano, em média, com perdas maiores para as nações mais dependentes de recursos naturais.
Nesse sentido, não integrar o capital natural aos negócios implica em risco operacional e estratégico, que pode interromper operações e tirar empresas do mercado (Pereira, 2024).
Logo, ecossistemas únicos deveriam autorizar unicamente aquelas utilizações que fossem compatíveis com sua preservação.
Pergunta:
“O que é evolução para você? É destruir a Amazônia e o meio ambiente a ponto de que você mesmo não tenha futuro? Em nome de uma evolução que é só destruição?
Ou é buscar o equilíbrio, de saber conviver com a floresta, e dela tirar o equilíbrio do clima, que serve para todo mundo, ter uma economia que seja sustentável?”
Esta é a reflexão que Ivaneide Bandeira Cardozo, da Associação de Defesa Etnoambiental, nos convida a fazer.
“A maioria das pessoas, sobretudo aquelas que não estudaram ciências biológicas, manifesta muito frequentemente uma tendência de situar o Homem em confronto com a natureza, ou mesmo, em oposição a ela. O erro de tal posicionamento antropocêntrico é que o Homem não se admite, simplesmente, como parte integrante da natureza. O Homem tornar-se-á vítima da natureza à medida que desejar ser o seu rei!”
— Jean Friedel, cientista e filósofo francês, em 1921
Referências Bibliográficas:
- Barifause, R. Como a Europa multiplicou suas florestas (e porque isso pode ser um problema). Época: 03/11/2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/epoca/como-europa-multiplicou-suas-florestas-por-que-isso-pode-ser-um-problema-24059574
- Barros, C. Porque a França se opõe ao acordo entre Mercosul e União Europeia. Veja Negócios: Economia 18/10/2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/por-que-a-franca-se-opoe-ao-acordo-entre-mercosul-e-uniao-europeia/
- ClimaInfo. Brasil perdeu mais de 3% da superfície de água nos últimos 40 anos. 23/03/2025. Disponível em: https://climainfo.org.br/2025/03/23/brasil-perdeu-mais-de-3-da-superficie-de-agua-nos-ultimos-40-anos/
- Couto, G. Meteorologistas fazem alerta para o pior cenário de estiagem da história em 2025. Campo Grande News: Meio Ambiente, 24/03/2025. Disponível em: https://www.campograndenews.com.br/meio-ambiente/meteorologistas-fazem-alerta-para-o-pior-cenario-de-estiagem-da-historia-em-2025
- Pereira, H. Capital Natural: riscos e geração de valor. Way Carbon: 26/09/2024. Disponível em: https://blog.waycarbon.com/2024/09/capital-natural-riscos-e-geracao-de-valor
- Poder 360. ONU envia carta ao governo com críticas ao PL do licenciamento ambiental. 29/05/2025. Disponível em: https://www.poder360.com.br/poder-congresso/onu-envia-carta-ao-governo-com-criticas-ao-pl-do-licenciamento-ambiental/
- SABESP. Estratégias Resilientes. Capítulo 1. PDF. Data: 10/2021