A Geração Z, formada por aqueles nascidos entre o final dos anos 1990 e meados dos anos 2010, é considerada nativa digital e carrega um jeito peculiar de se comunicar. Se as gerações anteriores não dispensam uma ligação como forma de se comunicar a distância com amigos, os mais jovens preferem fazer uso de redes sociais com mensagens curtas, emojis e áudios. No entanto, essa nova forma de interagir tem gerado desafios no mercado de trabalho, onde a clareza na escrita, a argumentação bem estruturada e a capacidade de comunicação interpessoal são fundamentais para o crescimento profissional.
Um relatório do Ecossistema Great People & GPTW aponta que 51,6% das empresas enfrentam dificuldades na gestão de diferentes gerações no ambiente corporativo, sendo a Geração Z a maior fonte de desafios para 68,1% dos entrevistados. Em contraste, os Baby Boomers representam obstáculos para apenas 11,4% das companhias no mercado de trabalho, evidenciando uma discrepância significativa entre as gerações.
De acordo com Brunno Falcão, um dos maiores especialistas em comunicação do país, CEO da Science Play e autor do livro Zona Desconforto (Editora Gente), que tem previsão de lançamento para maio deste ano, o modo de se comunicar pode determinar o sucesso ou o fracasso de um profissional. “A Geração Z possui uma agilidade impressionante no consumo e compartilhamento de informações, mas muitas vezes falta profundidade na forma como se expressam. No ambiente corporativo, isso pode ser um obstáculo para a ascensão profissional, pois quem se comunica conquista mais oportunidades”, analisa.
Outro fator preocupante é a crescente dependência da comunicação digital para situações que exigem interação presencial, como entrevistas de emprego e apresentações de projetos. Além disso, o impacto da comunicação deficitária também se reflete na produtividade. A dificuldade em redigir e-mails formais, elaborar relatórios detalhados ou expressar opiniões de maneira clara pode gerar ruídos e retrabalho dentro das empresas. “A habilidade de se expressar bem não é apenas um detalhe, mas um fator crucial para evitar conflitos, melhorar a colaboração entre equipes e alcançar resultados significativos”, destaca Falcão.
Um estudo da Intelligent.com apontou que 60% dos gestores nos EUA demitiram recém-formados da Geração Z recentemente devido à falta de motivação, profissionalismo e habilidades de comunicação.
Transmitir uma mensagem de forma clara e objetiva é essencial. Evitar jargões e simplificar a linguagem aumenta a clareza do que se diz. Por exemplo, em vez de “escalar a solução de forma ágil”, diga “expandir a solução rapidamente”. Falcão afirma que “a Geração Z cresceu em um ambiente digital, mas a comunicação eficiente ainda exige clareza e concisão. Se você não consegue resumir sua ideia em poucas palavras, há um problema na mensagem”.
A escuta ativa é uma das habilidades mais importantes para quem deseja se comunicar bem. Ouvir com atenção evita mal-entendidos e demonstra interesse genuíno pelo outro, fortalecendo o diálogo e criando conexões mais verdadeiras. “Muitos jovens querem ser ouvidos, mas esquecem que a comunicação começa pela escuta. Praticar a escuta ativa melhora o diálogo e evita mal-entendido”, diz o especialista.
A comunicação não se limita às palavras. O corpo também transmite mensagens importantes, e estar atento à postura, aos gestos e ao tom de voz é fundamental para garantir que sua mensagem seja recebida de forma positiva. “A postura, o tom de voz e a linguagem corporal impactam tanto quanto as palavras. Preste atenção ao que seu corpo está comunicando e use isso a seu favor.”
As ferramentas digitais são grandes aliadas na comunicação, mas não substituem o valor do contato humano. Desenvolver habilidades de comunicação presencial é um diferencial que fortalece relações e amplia oportunidades profissionais. “Redes sociais e IA são ferramentas incríveis, mas a habilidade de se comunicar pessoalmente ainda é insubstituível. Quem sabe falar bem cara a cara tem uma vantagem enorme no mercado.”
Brunno Falcão é empreendedor, professor e referência em comunicação. Fundador e CEO da Science Play, ele é criador do Palestre•se, programa de imersão que transforma especialistas em palestrantes de alto impacto.