O mercado financeiro brasileiro registrou mais um dia de fortes oscilações nesta semana, marcado pela disparada do dólar, que fechou a R$ 6,26, renovando o recorde histórico pelo terceiro dia consecutivo. Essa foi a maior alta diária da moeda norte-americana em dois anos. Ao mesmo tempo, a bolsa de valores registrou uma queda expressiva, reforçando o cenário de instabilidade.
O movimento ocorreu em um contexto de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos. O Fed anunciou que realizará apenas mais dois cortes adicionais na taxa de juros, o que geralmente favorece países emergentes ao atrair investimentos externos. No entanto, no caso do Brasil, o dólar continuou em alta, contrariando as expectativas.
Crise fiscal e desconfiança do mercado
Analistas atribuem parte da turbulência à desconfiança do mercado em relação à eficiência do pacote de ajuste fiscal proposto pelo governo brasileiro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que pode considerar novos ajustes caso sejam necessários e sugeriu que a recente valorização do dólar possa estar relacionada à especulação financeira. Ele também demonstrou confiança em uma possível estabilização no curto prazo.
O cenário fiscal do Brasil tem gerado preocupações de longo prazo. Embora o governo tenha apresentado uma série de medidas para controle das contas públicas, os investidores continuam atentos à capacidade de zerar o déficit e controlar o crescimento da dívida pública. Até o momento, a dívida líquida do governo está em 63% do PIB, com tendência de alta influenciada pelo aumento da taxa básica de juros (Selic) e pelo déficit público.
Previsões revisadas e dados econômicos
O Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, mostra que as expectativas para a economia brasileira melhoraram em alguns aspectos nos últimos meses. A previsão de crescimento do PIB para 2024 subiu de 1,6% em janeiro para 3,42% na última edição. Da mesma forma, o déficit primário foi revisado para baixo, de 0,8% para 0,5% do PIB.
Apesar disso, a dívida bruta do governo geral permanece alta, atualmente em 78,6%, considerando INSS, governos estaduais e municipais. Esse valor tende a crescer enquanto a Selic, que estava prevista para encerrar o ano em 9% no início do ano, permanece elevada.
Medidas em discussão
Na tentativa de conter os impactos da crise fiscal, a Câmara dos Deputados concluiu nesta quarta-feira (18) a análise da primeira proposta do pacote de controle de gastos do governo federal. Outras três medidas enviadas pelo Ministério da Fazenda ainda aguardam votação. O conjunto das iniciativas tem como meta economizar R$ 375 bilhões até 2030.