Em recuperação impressionante pós-pandemia, Turismo deve crescer 4,2% em 2024

Setor cresce com viagens corporativas, alcançando recorde histórico; previsão é de alta de 3,8% em 2025

Imagem: rawpixel.com

Um dos setores mais pujantes da economia brasileira pós-pandemia de covid-19, o Turismo deve faturar R$ 203,5 bilhões em 2024, segundo projeção da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O montante representa uma alta de 4,2% nas receitas em relação ao ano passado.

O número — um recorde absoluto da série histórica da Entidade (o melhor resultado anterior foram os R$ 198 bilhões registrados em 2014, no ano da Copa do Mundo no Brasil) — é reflexo de dois fenômenos paralelos e essenciais: o aumento dos investimentos de empresas, que, em correlação com o bom ritmo do Produto Interno Bruto (PIB), estão expandindo gastos em viagens corporativas, e a alta significativa da demanda de consumidores por serviços turísticos.

No primeiro caso, o crescimento de feiras e eventos em grandes centros do País, sobretudo em São Paulo, além dos outros objetivos das viagens corporativas, contribuirá para que os gastos das empresas nesses serviços subam pelo menos 6% neste ano, segundo cálculos da FecomercioSP e da Associação Latino-Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev). É, aliás, o mesmo patamar apontado recentemente por uma projeção da Global Business Travel Association (GBTA).

Dados como esse se verificaram, na prática, ao longo de 2024, com deslocamentos constantes de equipes inteiras de empresas e segmentos para conferências, congressos e encontros, além de grandes eventos, como a Feira do Empreendedor, organizada pelo Sebrae em outubro.

No entanto, é a demanda dos consumidores que melhor explica o cenário positivo para o setor. Essa procura, por sua vez, justifica-se pela conjuntura econômica, marcada por desemprego baixo (6,2%, no trimestre encerrado em outubro, segundo o IBGE) e, consequentemente, elevação da renda real. Sem falar das negociações salariais deste ano, que, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), fecharam em torno de 80% a 90% acima da inflação.

Há ainda um elemento fundamental nessa análise: a disponibilidade de crédito (que cresceu 9,6%, já com o desconto da inflação, segundo dados bancários), meio de preferencial de pagamento de viagens por parte dos turistas. Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), que integra o Conselho de Turismo da FecomercioSP, 65% das vendas de produtos turísticos no Brasil, neste ano, aconteceram por meio do cartão — o que se explica pela facilidade em parcelar as compras, sobretudo.

Em 2024, o grande gatilho para a melhora das receitas deve ser o segmento de locação de meios de transporte, com alta projetada de quase 12%. Em números absolutos, deve chegar a R$ 27,8 bilhões. Áreas tradicionais da experiência turística, como alimentação (alta de 7,6%), alojamento (7,3%) e atividades culturais, recreativas e esportivas (7%) também devem terminar o ano com porcentagens positivas.

ALTA MANTIDA PARA 2025

Se o ano que está perto de acabar já é histórico para o Turismo, o próximo não será diferente. A projeção da FecomercioSP é que o setor aponte um faturamento de R$ 211 bilhões em 2025, que significará, caso se realize, uma alta de 3,8% em comparação à previsão de 2024.

Na leitura da Federação, de um lado, a economia deve esfriar mais para o segundo semestre, com o novo ciclo de alta dos juros básicos, a Selic, além das incertezas quanto à política fiscal, que vão encarecer a economia novamente. Além disso, o dólar alto — uma variável que não deve mudar no médio prazo, dada a mudança de poder nos Estados Unidos e a discussão sobre o corte de gastos públicos no Brasil — é um impeditivo relevante nessa conta, pois impacta os custos das empresas.

Contudo, as condições atuais devem se manter pelo menos até a metade de 2025, estimulando tanto o mercado corporativo quanto as demandas dos consumidores. O dólar, por sua vez, deve impactar mais a escolha dos destinos por parte dos brasileiros (menos viagens ao exterior, por exemplo). Embora o País fique relativamente mais barato para estrangeiros, o custo dos serviços no Brasil ainda é caro, além das questões que limitam a vinda desse turista internacional, como a dificuldade do idioma, a distância e a imagem de insegurança.

O que pode se manter ao longo do ano que vem, porém, será o preço (alto) das passagens aéreas. Isso se explica pelo mesmo fator cambial: as companhias têm mais da metade (60%) dos seus custos na moeda norte-americana, como aluguel de aeronaves, combustível e peças. Assim, quando o dólar sobe, os tíquetes acompanham essa curva.

Nas projeções da Entidade, o segmento de locação de meios de transporte deve puxar o Turismo em 2025, crescendo 9,2% sobre os dados deste ano. Será um desempenho parecido com o de alimentação (8,5%), enquanto o segmento hoteleiro tende a diminuir o ritmo (2,3%).
 

DESAFIOS PARA O EMPRESARIADO

O Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), por exemplo, terá uma redução de atividades beneficiárias a partir do começo do ano, elevando o volume de impostos que essas empresas terão de pagar a partir de janeiro e, consequentemente, os preços para os clientes finais. A Federação lutou para que o Congresso mantivesse o programa no seu desenho original, mas, apesar de algumas vitórias — sendo a própria continuidade do Perse a principal —, foi ressecado.

A Reforma Tributária, ainda que não esteja totalmente em vigor, também tratará de manter os custos altos. Basta observar, por exemplo, que a alíquota do novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) será de 28%, uma das mais altas do planeta. O resultado será perda de competitividade no setor, considerando que países vizinhos, como Argentina, Colômbia e Uruguai, ou têm isenção para o Turismo ou dispõem de uma alíquota reduzida do IVA padrão.

Ainda mais impactante sobre o Turismo são as isenções de vistos para entradas de turistas de países como Canadá, Austrália e Estados Unidos. Com o retorno da exigência, a partir de abril, deve afetar a entrada dessas pessoas e tirar a competividade do Brasil. O ponto é que, nesse mercado, há muito interesse em atrair canadenses, australianos e estadunidenses, dado o perfil desses turistas (tíquete alto e estadias longas).

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