Cada vez mais companhias estão adotando a estrutura de liderança compartilhada com dois CEOs, em um movimento associado à expansão, diversificação e complexidade de suas operações.
Entre os exemplos de maior destaque, a Comcast anunciou nesta terça-feira a nomeação de Michael Cavanagh como seu primeiro co-CEO, com início em janeiro de 2026. Ele dividirá o comando com o atual presidente-executivo, Brian Roberts, e também assumirá assento no conselho da companhia.
Na indústria do streaming, a Netflix já havia implementado o modelo em 2020, quando Ted Sarandos passou a dividir o posto com o cofundador Reed Hastings. Em 2023, após a saída de Hastings, Greg Peters foi promovido para atuar ao lado de Sarandos — que segue responsável por conteúdo, marketing e assuntos jurídicos, enquanto Peters lidera tecnologia, produtos e operações.
No setor de private equity, a KKR nomeou Joseph Bae e Scott Nuttall como co-CEOs em 2021, sucedendo os fundadores Henry Kravis e George Roberts. Bae foca em mercados privados e na expansão asiática, enquanto Nuttall lidera crédito, seguros e mercados de capitais.
Outras companhias seguiram caminho semelhante. A construtora americana Lennar é comandada por Stuart Miller e Jon Jaffe, que dividem a formulação estratégica e a supervisão das operações, incluindo fusões e aquisições. No campo da arquitetura, a Gensler passou em 2024 a ser liderada por Elizabeth Brink e Jordan Goldstein, sucedendo a dupla Andy Cohen e Diane Hoskins.
O modelo também chegou a empresas de menor porte e setores emergentes. A Seres Therapeutics nomeou em julho Thomas Desrosier e Marella Thorell para substituir Eric Shaff, que permaneceu no conselho. Já a SharpLink Gaming, de marketing online, colocou Joseph Chalom ao lado do cofundador Rob Phythian na liderança, enquanto a mineradora de Bitcoin IREN é chefiada desde a fundação pelos irmãos Daniel e Will Roberts.
Entre as companhias de consumo, a Monster Beverage optou em 2021 por uma gestão compartilhada entre Rodney Sacks e Hilton Schlosberg. A tendência reforça a busca das corporações por dividir responsabilidades, aumentar a especialização da gestão e criar maior resiliência em mercados cada vez mais competitivos.
A principal vantagem está na possibilidade de dividir responsabilidades, permitindo que cada executivo se concentre em áreas específicas e estratégicas, como tecnologia, operações, marketing ou expansão internacional. Esse arranjo também reforça a resiliência organizacional, já que a liderança não fica concentrada em uma única pessoa, além de sinalizar ao mercado uma postura colaborativa e inovadora.
Por outro lado, o formato apresenta desafios relevantes. A coexistência de dois líderes pode gerar conflitos de poder e dificultar a tomada de decisão em momentos críticos. A falta de clareza sobre “quem decide o quê” pode confundir equipes, investidores e parceiros, além de fragmentar a cultura interna em torno de lideranças distintas. Também há um custo adicional para manter duas estruturas executivas no topo da hierarquia.