Em um ano marcado pela realização da COP 30 no Brasil, a combinação entre inteligência artificial (IA) e sustentabilidade tem ganhado protagonismo nas estratégias corporativas das companhias brasileiras. Para se ter uma ideia, de acordo com o estudo “Panorama 2024”, realizado pela Amcham Brasil em parceria com a Humanizadas, 60% dos empresários brasileiros identificam a IA como a tendência mais impactante para seus negócios em 2025, enquanto 51% apontam as práticas ESG (ambiental, social e de governança) como prioridade estratégica.
O movimento ocorre em um contexto de pressão crescente por parte de consumidores, investidores e reguladores para que as empresas adotem posturas mais sustentáveis, tornando a inteligência artificial a principal aliada para transformar compromissos ambientais e sociais em resultados concretos.
Para Vinicius Gallafrio, CEO da MadeinWeb, empresa referência em soluções digitais e inteligência artificial para grandes players do mercado, a IA tem um papel fundamental nas práticas ESG. “Mais do que uma ferramenta de eficiência, a IA torna as práticas ESG mais rastreáveis, inteligentes e acionáveis. Ao utilizar dados em tempo real, conseguimos antecipar riscos, identificar oportunidades e agir com mais agilidade”, destaca.
A afirmativa está de acordo com as tendências de mercado. O uso de IA em sustentabilidade tem se consolidado em diversas frentes e já caminham lado a lado nas decisões de boa parte das empresas. Segundo relatório da PWC, se o uso de IA for aprimorado, existe uma estimativa de redução na emissão de gases de efeito estufa de até 4,0%, uma quantidade equivalente a 2,4 Gt (bilhões de toneladas) de CO2 – valor equivalente às emissões anuais da Austrália, Canadá e Japão juntos.
No agronegócio, sistemas de IA voltados para agricultura de precisão têm ajudado a reduzir em até 25% o uso de fertilizantes e irrigação, segundo a McKinsey. Além disso, a expectativa é que o uso crescente da tecnologia possa contribuir para uma redução de até 4% nas emissões globais de gases de efeito estufa até 2030, segundo estimativas do Fórum Econômico Mundial.
É nesse contexto que a inteligência artificial deixa de ser apenas uma ferramenta de inovação e passa a ser uma aliada para transformar boas práticas ESG em ações concretas. A realização da COP 30 no Brasil também reforça essa tendência, ao colocar em evidência o papel das empresas na construção de um futuro mais sustentável.
“Com a COP 30 no Brasil, há uma oportunidade única de posicionar o país como referência em inovação verde. As empresas que conseguirem integrar tecnologia e impacto socioambiental certamente terão vantagem competitiva no cenário global”, diz Gallafrio.
Apesar dos avanços, o uso de IA nas práticas ESG ainda enfrenta barreiras, como a falta de padronização de métricas e de conhecimento técnico dentro das empresas. Exemplo disso são os dados apresentado pelo relatório global da Capgemini, que mostrou que apenas 12% das companhias que adotam IA generativa monitoram sua pegada ambiental.
Esse é um sinal de que ainda há um longo caminho para que a tecnologia seja plenamente integrada às metas sustentáveis. Ainda assim, o consenso é de que a combinação entre essas agendas será cada vez mais determinante para o desempenho empresarial nos próximos anos. O mesmo estudo aponta que cresce a consciência sobre essa necessidade, com muitas empresas já desenvolvendo estratégias para tornar o uso da IA mais responsável e alinhado às exigências ESG.
“A adoção responsável da IA será um divisor de águas para quem deseja se manter relevante em um mundo cada vez mais guiado por dados e compromissos sustentáveis. Integrar essas tecnologias às metas ESG pode ser definitivo para apontar as companhias que liderarão a próxima década”, conclui.