O mercado global de food service — que engloba desde restaurantes e bares até serviços de catering e redes de fast food — está prestes a passar por um ciclo de forte expansão nos próximos anos. De acordo com um levantamento da consultoria Fortune Business Insights, o setor deve avançar de US$ 4,02 trilhões em 2025 para US$ 6,81 trilhões em 2032, o que representa uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 7,79% no período.
Esse crescimento robusto, segundo especialistas, exigirá atenção redobrada dos empreendedores. A competição mais acirrada e o comportamento cada vez mais exigente dos consumidores devem forçar mudanças estratégicas profundas, com foco em inovação, experiência e diferenciação.
Um dos que acompanham de perto esse movimento é Gustavo Cardamoni, vice-presidente da Associação Pizzarias Unidas do Brasil (Apubra), entidade que há 23 anos atua como referência na disseminação de informações sobre o mercado de pizzarias. Ele esteve presente na edição 2025 da NRA Show, maior feira de food service das Américas, realizada em Chicago, e destacou que o cenário já começa a redesenhar o futuro do setor.
“Com a quantidade de opções disponíveis, o consumidor não aceita gastar dinheiro em qualquer lugar. Ele se pergunta onde vale a pena investir, e o desafio é oferecer uma experiência que responda a isso de forma clara e encantadora”, afirma Cardamoni.
Entre as tendências apontadas pelo executivo, quatro devem nortear o desenvolvimento do food service nos próximos anos: automação com inteligência artificial, hospitalidade, opções plant-based e cardápios autorais com novas influências gastronômicas.
A incorporação de tecnologia de ponta no dia a dia dos negócios de alimentação não é apenas uma possibilidade — é uma exigência para quem quer se manter competitivo. Um estudo da TNS Research, divulgado em novembro de 2024 pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), revelou que empresas que investem em tecnologia crescem cerca de 60% mais do que as que negligenciam essa área.
No caso das pizzarias e restaurantes, a automação com IA já aparece em diferentes frentes: fornos combinados e de última geração, máquinas automáticas para produção de pizzas, processadores, cafeteiras e churrasqueiras inteligentes, além de equipamentos para abertura de massas. Softwares integrados aos pontos de venda (PDV) já permitem análises detalhadas de dados de consumo e desempenho.
“Robôs no atendimento ao público e na logística estão se tornando cada vez mais comuns, e a IA também começa a transformar treinamentos, identificando oportunidades de melhoria na performance das equipes”, explica Cardamoni.
Se oferecer um bom atendimento sempre foi importante, agora a expectativa do cliente vai além. Segundo o Anuário do Gestor: CX Trends 2025, elaborado pela Octadesk em parceria com a OpinionBox, 78% dos consumidores preferem comprar de marcas que proporcionam uma boa experiência.
Para Cardamoni, a palavra de ordem no food service nos próximos anos será “hospitalidade”. “Não basta atender bem: é preciso fazer o cliente se sentir realmente especial. Isso envolve desde a recepção calorosa até a limpeza impecável do ambiente, um cardápio fácil de navegar e um atendimento cordial e humanizado”, pontua o executivo.
O movimento em direção a uma alimentação mais sustentável e saudável continua a ganhar força. De acordo com dados da Meticulous Research, o mercado global de alimentos plant-based — produtos à base de vegetais — deve alcançar US$ 113 bilhões até 2031.
Essa tendência já influencia diretamente os cardápios no Brasil. “Os consumidores estão mais conscientes sobre o impacto ambiental e de saúde de suas escolhas. Por isso, restaurantes e pizzarias estão ampliando seu portfólio de sabores para incluir alternativas plant-based”, diz Cardamoni.
Por fim, a busca por experiências gastronômicas únicas está moldando novas direções para o setor. De acordo com o relatório Review of June 2025 Flavour Trends, consumidores estão migrando para sabores mais ousados e criativos, guiados pela nostalgia, pela preocupação com a saúde e pelo desejo de novidades.
Cardamoni aponta que o uso de ingredientes exóticos, como o chocolate de Dubai, e a incorporação de influências como a culinária coreana estão ganhando espaço. “O consumidor quer vivenciar algo memorável. Cardápios autorais, menus degustação e até drinks não alcoólicos exclusivos vão se tornar diferenciais importantes”, afirma.
Com um mercado trilionário em franca expansão, o food service global entra em uma fase em que inovação, personalização e consciência ambiental deixam de ser opcionais e se tornam pilares essenciais para a sobrevivência e o crescimento dos negócios. A corrida já começou — e quem souber unir tecnologia, experiência e autenticidade terá mais chances de conquistar o paladar (e a lealdade) do consumidor.