Stephen Kanitz, que é mestre em Administração pela Harvard e bacharel em Contabilidade pela USP, acredita que a redução salarial seria um dos primeiros efeitos colaterais
Em discussão na Câmara dos Deputados, a extinção da jornada de trabalho 6×1 (ou seja, de seis dias de trabalho para um de folga) vem gerando debates nos mais variados fóruns, desde aqueles que debatem questões administrativas e contábeis até os de socialização e saúde mental.
Para o consultor de empresas e conferencista Stephen Kanitz, o fim impositivo da jornada 6×1 traria uma série de malefícios para a economia brasileira e para os próprios trabalhadores.
O primeiro reflexo, diz Kanitz, seria uma diminuição do salário. “Os trabalhadores inevitavelmente receberão menos, já que agora trabalharão menos. A curto prazo, isso pode não ser evidente, mas a longo prazo os salários diminuirão.”
Além disso, segundo o consultor, a maioria dos trabalhadores afetados acabaria buscando trabalhos extras nos outros dias livres, caso houvesse a obrigatoriedade de uma jornada 4×3, por exemplo.
“Provavelmente 70% deles seguiriam esse caminho, mas em atividades de produtividade muito menor do que sua ocupação principal – como pintores improvisados, quando, na verdade, são torneiros mecânicos”, diz.
Por fim, explica Kanitz, as empresas teriam de contratar um novo turno no formato 2×5, já que as máquinas não podem ficar paradas. “Com isso, seriam dobrados os custos com recursos humanos, treinamento e gestão, o que acarretaria aumento no preço final dos produtos, prejudicando o consumidor”, ressalta.
Para Kanitz, o cerne da discussão está em uma concepção paternalista da esquerda brasileira que pensa que sabe mais sobre o trabalhador brasileiro que ele próprio. “Os trabalhadores não precisam mais da tutela do Estado para decidir qual regime de trabalho consideram mais adequado. Nós somos suficientemente maduros para saber o que queremos. Uma mudança nacional para uma jornada de trabalho 4×3 é mais uma forma de autoritarismo da esquerda”, finaliza.
EXPERIÊNCIA
Stephen Kanitz, 78 anos, é consultor de empresas e conferencista, mestre em Administração de Empresas pela Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP). Foi articulista da Revista Veja e da Exame, onde criou, em 1974, o prêmio Melhores e Maiores, primeira iniciativa de benchmark do jornalismo brasileiro.
Foi assessor do Ministério do Planejamento durante o governo José Sarney, em 1988, mas deixou o cargo por divergências sobre a renegociação da dívida externa. Foi um dos líderes que disseminaram o conceito de responsabilidade social das empresas, ao criar o primeiro site de voluntariado, o voluntários.com.br, e de doações na internet brasileira, o filantropia.org.
Também foi criador do Prêmio Bem Eficiente, que ajudou a colocar o terceiro setor na agenda jornalística do país. Criou ainda o Think Thank mentesbrilhantes.org e tem apoiado o ecossistema dos Think Tanks brasileiros, organizações que pensam e recomendam políticas públicas com impactos, por meio do thinkers-brasil.org.
É autor de diversos livros, como “O Brasil que Dá Certo”, “Família Acima de Tudo” e “A Missão do Administrador”. Em seu blog pessoal, blog.kanitz.com.br, escreve sobre contas públicas, administração de empresas, capitalismo, desenvolvimento pessoal, família e sociedade.