Fundo POP inicia repasses para organizações periféricas e marca inovação no terceiro setor

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Com o objetivo de fortalecer as organizações periféricas em diferentes regiões do país, o Fundo POP  — o primeiro fundo do país voltado exclusivamente ao fortalecimento institucional de organizações de periferias – selecionou dez organizações da sociedade civil (OSCs) de base comunitária para receber apoio. Fruto da parceria entre o Instituto ACP (IACP), um instituto de investimento social que busca fortalecer as Organizações da Sociedade Civil (OSC) no Brasil, e a Iniciativa Pipa, organização fundada por jovens de periferias e que tem por objetivo democratizar o acesso ao investimento social privado no Brasil, o Fundo pretende investir cerca de R$ 2 milhões nesta primeira etapa, que iniciou em 2024. 

Cada uma das organizações selecionadas está recebendo um investimento de R$ 150 mil, que serão distribuídos ao longo de três anos (R$ 50 mil anuais), além de participar de uma comunidade de aprendizagem com trocas, mentorias e formações especializadas voltadas ao fortalecimento institucional. O objetivo é garantir que essas organizações possam consolidar suas estruturas, ampliar sua atuação e gerar ainda mais impacto social em seus territórios. O Fundo conta com o apoio de cinco organizações coinvestidoras: Fundação Tide Setubal, Instituto Incube, Humanity United, Instituto Galo da Manhã e Sall Family Foundation.

O Fundo POP é uma resposta às barreiras enfrentadas pelas OSCs periféricas para acessar o chamado investimento social privado ou doações institucionais. “Historicamente, as periferias estão lidando com os piores problemas com recursos mínimos e condições nada ideais.  O Fundo POP foi criado para mostrar que pode e precisa ser diferente. Precisamos  mudar essa lógica, queremos provar que  reconhecer e investir diretamente na potência das organizações periféricas como agentes de mudança é uma escolha excelente e estratégica”, afirma Erika Sanchez Saez, diretora-executiva do Instituto ACP.

Além disso, o Fundo POP propõe uma metodologia centrada no desenvolvimento institucional das organizações, entendendo que a capacidade de atuação de longo prazo depende de estruturas fortalecidas e gestão de qualidade. “Isso significa apostar na sustentabilidade e autonomia das organizações, e não apenas financiar projetos pontuais”, reforça Gelson Henrique, cofundador e diretor executivo da Iniciativa Pipa.

A diversidade de causas, linguagens e territórios das dez organizações selecionadas no primeiro ciclo do Fundo POP é uma das marcas da iniciativa. Estão contempladas organizações que atuam com direitos das mulheres negras, meio ambiente, cultura periférica, justiça socioambiental, segurança alimentar, entre outras frentes, em estados como Pará, Pernambuco (Recife), Bahia, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

Uma das selecionadas é o Grupo de Mulheres Negras Malunga, de Goiânia (GO), que celebra o investimento como um marco em sua trajetória. Com foco na inclusão e autonomia de mulheres negras, a organização trabalha pelo acesso a direitos fundamentais e a uma vida digna, especialmente para as mulheres em situação de vulnerabilidade. Agora, com o apoio do Fundo POP, o grupo busca enfrentar desafios como a sustentabilidade financeira, a transmissão de saberes entre gerações e a ampliação da equipe, com profissionais especializados e comprometidos com as questões étnico-raciais, fortalecendo o protagonismo das mulheres negras.

“Investir em organizações de base é fundamental para alcançar comunidades historicamente marginalizadas, que ainda enfrentam a falta de direitos básicos como acesso à água, energia e saneamento. Esses grupos conhecem as realidades locais e têm capacidade de propor soluções efetivas e políticas públicas que dialoguem com os territórios”, comenta Sonia Cleide Ferreira da Silva, fundadora do Grupo Malunga.

Outras organizações de diferentes regiões do país também foram selecionadas pela iniciativa. No Norte, o Coletivo Mirí, de Castanhal (PA), se destaca pela atuação em educação ambiental, pesquisa e construção de conhecimento. Já o Movimento Atitude Afro Pará, com sede em Belém (PA), valoriza as culturas de matriz africana, com foco na preservação e na circulação dos saberes ancestrais.

No Nordeste, a Salve Beberibe, em Recife (PE), mobiliza a população em defesa do Rio Beberibe e seus afluentes, enfrentando questões como descarte de resíduos, crescimento urbano desordenado e mudanças climáticas. Em Salvador (BA), o Instituto Pau Brasil promove cultura, educação e desenvolvimento sustentável, com foco na inclusão social e racial, na valorização das juventudes e na preservação da identidade local.

No Centro-Oeste, além do Grupo de Mulheres Negras Maluga, o IMUNE-MT – Instituto de Mulheres Negras do Mato Grosso, de Cuiabá (MT) também foi contemplado. A organização realiza ações afirmativas voltadas à inclusão e ao empoderamento de mulheres negras. A organização enfrenta questões sociais que impactam diretamente a comunidade negra, como saúde, educação, emprego, racismo e meio ambiente, com foco na Amazônia Negra.

Para Antonieta Costa, do IMUNE-MT, o Fundo POP tem sido, além do apoio financeiro, mas um instrumento que fortalece o olhar estratégico das organizações e garante condições para que seu trabalho tenha continuidade e impacto. “O POP traz uma coisa que é interessante, essa perspectiva do olhar, do direcionamento institucional, de um encaminhamento institucional que tenha foco no futuro, na juventude, na diversidade e nas crianças. É isso que a gente quer continuar fazendo. Sem o apoio do POP, acho difícil ter dado continuidade. Por mais que a gente faça, precisamos de apoio, e são esses instrumentos que são utilizados para a transformação social”, afirma.

Na região Sudeste, o Ippê – Instituto para Periferias, no Rio de Janeiro (RJ), atua na Zona Oeste da capital com foco em cultura, educação, segurança alimentar e geração cidadã de dados. A organização realiza formações, intervenções culturais e pesquisas sobre o território, conectando sociedade civil, poder público e iniciativa privada na luta por direitos e inclusão. Em São Paulo (SP), a Coletiva Emana fortalece meninas e mulheres por meio da arte, da reconstrução da memória e da promoção da autonomia.

Já no Sul do país, o MUNTU Artes Negras, de Porto Alegre (RS), promove o fortalecimento da identidade, cultura e direitos da população negra, especialmente nas periferias. Também na capital gaúcha, a Fluência Casa Hip Hop atua em Caxias do Sul incentivando o desenvolvimento comunitário e o empoderamento de grupos marginalizados por meio da cultura Hip Hop.

O lançamento e os primeiros repasses do Fundo POP representam um marco para o campo do investimento social no Brasil e os critérios de seleção foram pensados com o apoio de lideranças periféricas oriundas das 5 regiões, adotando práticas como linguagem acessível, processos horizontais e escuta ativa das realidades das organizações.

O modelo busca impulsionar as OSCs beneficiadas e influenciar outros fundos, institutos e fundações a repensarem seus modos de relação com organizações de base periférica, fortalecendo cada vez mais o ecossistema das organizações de periferias  no Brasil. “Esperamos que o Fundo POP sirva de inspiração para uma nova geração de financiadores comprometidos com a equidade, a justiça e o protagonismo de quem vive os desafios dos territórios periféricos na pele”, complementa Gelson, da Iniciativa Pipa.

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