Não, definitivamente o mundo não é mais como era antigamente. Cada vez parece mais claro que as organizações devem caminhar para um maior nível de evolução e consciência. A antiga premissa “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, não é mais válida.
Essa semana, o mundo dos negócios e da governança corporativa viu o retorno de um CEO que foi demitido pelo Conselho de Administração da Empresa, retornar ao cargo em menos de uma semana de sua demissão e, pior, remodelando o conselho de administração que o demitiu.
Para além dos fatos, o que isso demonstra? Que as organizações são organismos em uma imbricada rede de conexões e, ao administrar uma empresa, não podemos dirigi-la com um viés reducionista, compartimentado como simples partes de uma engrenagem, sem considerar que o todo é muito maior do que a simples soma das partes.
Mais do que isso, os novos tempos sinalizam organizações como organismos vivos, com ação e reação, e que não estão apartadas do conjunto da sociedade e, por isso mesmo, ações top – down, não podem ser tomadas sem explicações plausíveis, convincentes e amparadas em boas práticas de governança corporativa, tais como:
- Integridade: mantendo a coerência entre o discurso e ação e preservando a lealdade da organização e o cuidado com as partes interessadas, com a sociedade em geral e o meio ambiente;
- Transparência: disponibilizar para as partes interessadas, informações verdadeiras, tempestivas, coerentes, claras e relevantes. A promoção da transparência favorece o desenvolvimento dos negócios e estimula um ambiente de confiança para o relacionamento de todas as partes interessadas;
- Equidade: tratar todos os sócios e demais partes interessadas de maneira justa, levando em consideração seus direitos e deveres, necessidades, interesses e expectativas, como indivíduos e coletivamente;
- Responsabilização: prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, cientes de que suas ações podem não apenas responsabilizá-los individualmente, como impactar a organização, suas partes interessadas e o meio ambiente; e
- Sustentabilidade: considerar os diversos capitais: financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, natural, reputacional, no curto, médio e longo prazo. Nesse sentido, compreender que as organizações atuam em uma relação de interdependência com os ecossistemas social, econômico e ambiental. (IBGC. Código de Melhores Práticas. 6.ª edição, 2023).
Falo isso, pois o Conselho de Administração ao demitir o CEO e cofundador da empresa de tecnologia americana Open AI, Sam Altman, sua saída levou uma série de reações no mundo da inteligência artificial, bem como, uma possível demissão em massa, com a ameaça de seus colaboradores, caso Sam Altman não retornasse ao cargo (https://odia.ig.com.br/mundo-e-ciencia/2023/11/6744833-centenas-de-funcionarios-da-openai-ameacam-se-demitir-e-ir-para-a-microsoft.html)
Então, que fique claro, o Conselho de Administração, como guardião do propósito, dos valores, do objeto social da organização e de seu sistema de governança, ao definir sua estratégia corporativa, não poderá fazê-lo apartado das melhores práticas, pois além do dever fiduciário para com a organização, deverá gerar valor sustentável no curto, médio e longo prazo para a organização, seus sócios e demais partes interessadas e, não, gerar dilemas e um clima de insegurança e instabilidade organizacional.