A Guarda, insurtech que desenvolve seguros contra eventos climáticos extremos para produtores rurais, levantou R$ 4,5 milhões em rodada liderada pela Randon Ventures, com participação de nomes de referência no agronegócio, no mercado segurador e no ecossistema fintech, como José Kfuri (fundador das operações brasileiras de quatro tradings de grãos e ex-CEO da Marubeni Grãos Brasil/Terlogs), Rodrigo Botti (executivo da Lockton, ex-CFO do IRB e fundador da Terra Brasilis), Alan Chusid (fundador da Spin Pay, adquirida pelo Nubank), Johann von Sothen (cofundador da Solfácil) e o Colligo, clube de investimentos em AgTechs.
Fundada por Paula Mendes Caldeira (cofundadora da Plugify, empresa que tem a Porto Seguro como acionista e parceira estratégica) e Luiz Fernando Guerreiro (cofundador da Petlove, também investida pela Porto e referência nacional em digitalização de seguros pet), a Guarda nasce de uma combinação rara no mercado: experiência na construção de produtos digitais e em parcerias com grandes seguradoras.
Mais do que isso, a Guarda nasceu para solucionar uma lacuna central para o país. O agronegócio representa quase um quarto do PIB brasileiro, mas a adoção de seguro agrícola permanece abaixo de 10%, muito distante dos cerca de 40% observados em mercados desenvolvidos. Trata-se de um dos poucos mercados remanescentes de trilhões de reais ainda em estágio inicial, e a oportunidade é clara.
O problema também é urgente. Entre 1995 e 2023, eventos climáticos extremos geraram mais de R$ 330 bilhões em perdas ao agronegócio, o maior impacto entre todas as indústrias privadas. Em paralelo, o seguro tradicional não evoluiu o suficiente para impulsionar a adoção. Baseado em segurar produtividade (e não o clima) e profundamente analógico, seu desenho atual cobre, em média, apenas 60% da produtividade municipal, ignorando a enorme heterogeneidade do produtor brasileiro.
Além disso, para evitar fraudes, mantém custos elevados com longas diligências de contratação e acionamento, precificação complexa e perícias em campo. Some-se a isso uma burocracia com mais de 30 obrigações contratuais e a exclusão de quem mais precisa: produtores sem histórico, com cultivares não certificadas, áreas novas ou solo tipo 1.
A Guarda propõe um caminho completamente diferente. Em vez de produtividade, ela assegura exclusivamente o clima medido por dados de satélite. A empresa desenvolveu uma infraestrutura que combina dados de satélite, modelos climáticos avançados, inteligência artificial e simulações de gêmeos digitais para precificar risco climático com precisão. Sobre essa base tecnológica, construiu o primeiro seguro climático 100% digital para o agro no Brasil: com precificação instantânea, contratação online e indenizações automáticas em até 30 dias.
O objetivo é que a interface seja simples e transparente: o produtor escolhe o valor da indenização e o risco que deseja proteger; a Guarda monitora o índice climático por satélite; quando o gatilho é atingido, o pagamento é realizado automaticamente. O produtor acompanha, em tempo real, a evolução do índice (dias de seca, chuva acumulada ou outro parâmetro escolhido) tornando-se, na prática, o seu próprio perito. Isso elimina, na origem, o risco de fraude. Também possibilita precificação por geolozalicação e definação de máximo de indenização por produtor, neutralizando a seleção adversa. Como o processo elimina vistorias em campo e minimiza subjetividade, o seguro se torna acessível a qualquer produtor, inclusive aqueles historicamente excluídos pelo modelo tradicional.
A solução foi desenhada para escalar. Toda a jornada, da cotação ao acionamento, é digital, permitindo que o seguro seja facilmente embutido em fluxos já existentes, como crédito de custeio feito por cooperativas e revendas agrícolas. Em breve, a plataforma também emitirá propostas e apólices automaticamente, viabilizando modelos de seguro embarcado no momento exato da venda de insumos ou concessão de crédito.
O seguro paramétrico contra extremos climáticos é uma tendência global em rápido crescimento, já consolidada por empresas como aClimate Corporation, primeiro unicórnio do agro no mundo, e a Pula, investida pela Bill & Melinda Gates Foundation. O Brasil agora entra nessa trajetória. A expectativa é que a proteção climática se torne o padrão de gestão de risco agrícola nos próximos cinco anos, à medida que a volatilidade climática se intensifica e novas tecnologias tornam o seguro mais preciso, acessível e transparente.
A visão da Guarda é tornar a resiliência climática acessível a todos os produtores do país, de pequenas a grandes propriedades, com proteção rápida, justa e orientada por dados, não por burocracia. Com incentivos adequados, o Brasil pode elevar a penetração de seguro de um dígito para níveis próximos aos benchmarks internacionais, destravando um dos maiores mercados remanescentes de trilhões de reais e fortalecendo o setor que melhor representa o país no mundo. “O Brasil deve liderar o agro no mundo em todas as frentes. Falta liderarmos na frente de seguros, e estamos prontos para esse desafio”, afirma Paula.









