Habilidades do Futuro e o Caso da Danone: convergência entre capital humano e estratégia ESG

Da inteligência emocional à inteligência artificial: o novo mapa das competências corporativas.

No contexto de rápidas transformações — digitalização acelerada, inteligência artificial, sustentabilidade e mudanças nos modelos de trabalho — as organizações enfrentam o desafio de antecipar não apenas quais tecnologias adotar, mas quais capacidades humanas serão críticas para prosperar. As chamadas habilidades do futuro (future skills) tornam-se pilares estratégicos para a competitividade e a resiliência corporativa.

A Danone, empresa global de alimentos e bebidas, já vem integrando essa aposta em capacidades ao lançar programas de upskilling e reskilling para sua força de trabalho, alinhando sua agenda ESG — especialmente no pilar “Pessoas & Comunidades” — com a construção de uma cultura de aprendizado contínuo.

Este artigo discute:

  1. Quais são as principais habilidades do futuro segundo literatura especializada
  2. De que modo a Danone vem atuando para desenvolver essas habilidades
  3. Desafios e implicações para outros atores (empresas, governos, educação)

Habilidades do Futuro: o que são e o que a literatura aponta

“Habilidades do futuro” são competências que vão além do domínio técnico pontual: englobam saber aprender, adaptar-se, pensar criticamente, resolver problemas complexos, lidar com incertezas e colaborar em ambientes híbridos e tecnológicos. Essas habilidades geralmente combinam dimensões cognitivas, digitais e socioemocionais.

Um dos marcos para esse debate é o relatório Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial (WEF), que identifica as competências mais demandadas nas próximas edições do mercado de trabalho. Por exemplo:

Além disso, em estudos de consultorias e management:

Alguns autores projetam que até 2030, uma proporção relevante das habilidades exigidas em muitas funções será diferente das atuais — exigindo requalificação e mobilidade contínua.

Principais habilidades destacadas

Podemos sintetizar algumas das competências mais recorrentes nos estudos:

Essas habilidades não são estanques: costumam se entrelaçar num perfil integrado de profissional ou organização.


O caso Danone: como a empresa articula habilidades do futuro à sua estratégia

A Danone é um exemplo interessante de uma empresa que está trazendo essas reflexões do mundo externo para o seu próprio capital humano, inserindo-as em sua agenda ESG.

DanSkills: pilar central de capacitação

Em março de 2024, a Danone anunciou o programa DanSkills, que tem como objetivo “upskill” (elevar competências) e “reskill” (requalificar) seus ~100.000 funcionários em todo o mundo para os empregos do futuro. FoodManufacture.co.uk+4danone.com+4danone.com+4

Alguns aspectos-chave deste programa:

Parceria com Microsoft e foco em IA

Mais recentemente, a Danone firmou parceria com a Microsoft para potencializar projetos de inteligência artificial internamente, inclusive com um programa chamado Danone Microsoft AI Academy. manufacturingdive.com+2aimagazine.com+2

Aspectos relevantes dessa colaboração:

Evidências nos relatórios da Danone

No Relatório Integrado 2024 da Danone, é mencionado que o DanSkills pretende tornar a empresa uma “learning organization” (organização de aprendizagem), com metas de upskilling/reskilling para todos os “Danoners” frente aos empregos do futuro. danone.com

Esse tipo de declaração corporativa reforça a coerência entre discurso e ação (pelo menos em meta). A sua concretização — especialmente em escala local/regional — ainda demandará acompanhamento.


Reflexões, desafios e recomendações

Lições e desafios

  1. Escalabilidade e execução local
    Grandes programas globais como DanSkills precisam enfrentar diversidade cultural, realidades regionais, barreiras de infraestrutura (como conectividade), diferenças de idioma e níveis de maturidade dos colaboradores. Ou seja, a dose local importa.
  2. Mensuração de impacto
    É fácil quantificar horas de treinamento ou número de participantes. Mas medir mudança de comportamento, integração de novas competências no trabalho real, resultado produtivo e retorno sobre investimento é mais desafiador.
  3. Alinhamento com estratégia de negócio
    As habilidades promovidas precisam estar conectadas aos rumos estratégicos da empresa (digitalização, sustentabilidade, novos modelos de produto, operações mais inteligentes). A Danone já sinaliza isso — por exemplo, ao vincular o DanSkills com suas metas ESG e com a parceria de IA com a Microsoft — mas isso exige que as lideranças de negócio e de RH falem a mesma linguagem.
  4. Cultura de aprendizado contínuo
    Não basta ofertar cursos: é preciso criar incentivos, rotinas de prática, espaço para errar e aprender, reconhecimento e integração com o cotidiano de trabalho. Muitas iniciativas falham por permanecerem como “programas isolados”.
  5. Inclusão e equidade
    Um programa de capacitação só pode ser verdadeiramente transformador se for acessível a todos os níveis da empresa e se favorecer a redução de desigualdades internas (por exemplo, não deixar para trás quem está em função operacional ou em locais remotos).
  6. Adaptação constante
    Como o “futuro” evolui rápido, o que é considerado uma habilidade emergente hoje pode se tornar “obrigatória” amanhã. Portanto, os programas precisam ter flexibilidade e atualizações constantes.

Recomendações para outras organizações


Conclusão

A era da mudança veloz exige que empresas e profissionais não apostem apenas no que já sabem, mas no que podem vir a aprender. A Danone aparece como um exemplo moderno de como integrar a agenda de ESG com a construção de habilidades do futuro, por meio de programas ambiciosos como DanSkills e de iniciativas em IA com a Microsoft.

O sucesso dessas iniciativas dependerá não apenas de recursos, mas de execução local, cultura organizacional, mensuração real de impacto e alinhamento estratégico. Outras organizações que buscam trilhar esse caminho podem inspirar-se no modelo da Danone, adaptando-o à sua realidade e propósito.

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