Uma mudança necessária

Hoje em dia, vivemos três crises planetárias – aquecimento global, perda da biodiversidade e poluição, sem contar a recorrente crise do sistema capitalista. Mas qual seria o sentido dessas crises, senão o de fazermos uma reavaliação de nossas ações, buscando evoluir e transcender às mesmas?

Como diria Frederic Laloux, em seu livro “Reinventando as organizações”, o que desencadeia a transição de uma pessoa para um estágio de consciência posterior e mais complexo, vem sempre na forma de um grande desafio de vida, aquele que não pode ser absorvido a partir da visão de mundo atual. O que não seria diferente no ambiente corporativo. Para o autor, qualquer nível de desenvolvimento está bom, a questão é se esse nível de desenvolvimento está adequado à tarefa que temos em mãos.

Com a pandemia do Covid 19, vimos que não! Tratava-se de uma crise sanitária, capitaneada pela crise ambiental, que reverberou em crises econômicas, sociais e políticas não só das empresas, mas também dos países, das mais variadas formas, em uma mesma tempestade, mas cada qual, com diferentes tipos de embarcações.

E o que tudo isso tem a ver com o Capitalismo Consciente?

Tudo a ver, se pensarmos que o que está acontecendo é consequência da maneira de fazermos negócios: da visão utilitarista da natureza; da necessidade de ganhos imediatos; da ganância da maximização dos lucros, sem pensar na sustentabilidade ambiental e no impacto social; e do imediatismo de que tudo tem que ser para hoje, como se não houvesse amanhã.

De fato, não haverá amanhã, se continuarmos neste ritmo e, duvida-se até que as gerações futuras terão a oportunidade de desfrutarem de coisas simples como: ar puro para respirar, água limpa para beber e um planeta saudável para viver.

Então, fica a pergunta: que desenvolvimento é esse?

O fato é que já há estudos que comprovam que das zoonoses (doenças infecciosas que circulam entre animais e humanos), 72% são causadas por patógenos da vida silvestres, os quais, quando encontram os ecossistemas abalados, apresentam maior risco de transmissão para humanos. Consequentemente, as queimadas do Pantanal e os desmatamentos da Amazônia, acabam sendo um perigo, não só para a preservação dos ecossistemas e da conservação da biodiversidade, como para o surgimento de novas doenças. Segundo afirmam pesquisadores, “não resta a menor dúvida que as mudanças climáticas causam riscos à saúde, sejam eles direta ou indiretamente”, alertando que as mudanças climáticas e a pandemia do Covid 19, portanto, são crises convergentes (Tanaka, 2020).

Da mesma forma, estudos já se moveram para demonstrarem que, empresas humanizadas possuem clientes 240% mais satisfeitos e colaboradores 225% mais felizes, segundo estudos de Pedro Paro, pesquisador responsável pelo primeiro estudo “Empresas Humanizadas do Brasil” (Teko, 2021). As empresas que irão compor “O Fórum do Capitalismo do Amanhã”, termo criado por John Elkington, o pai do tripé da sustentabilidade, serão aquelas que irão além do lucro imediato.

Neste caso, acredita-se que o dinheiro deverá vir, não apenas de produtos sustentáveis, mas de produtos que, além de não causarem impactos negativos, apresentem resultados positivos, dentro de uma economia regenerativa. Que além de não fazerem uso de combustíveis fósseis, ainda promovam modelos de negócios mais compatíveis com as mudanças climáticas e demonstrem resultados regenerativos até 2050. Ou seja, trata-se de uma mudança de mindset desejável para enfrentar não só as mudanças climáticas em curso, mas a consecução da Agenda 2030, com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável(Voltolini, 2020).

Dito isso, uma empresa voltada ao Capitalismo Consciente, tem 4 pilares balizadores:

Um propósito maior, ou seja, uma razão de ser que transcende a questão do lucro. Se o lucro é importante? É claro que é importante, só não pode ser maior do que a vontade de fazer o que é certo, justo e responsável ambiental e socialmente.

Possui orientação aos stakeholders, ou seja, se preocupa com todos os públicos com os quais se relaciona, incluindo o meio ambiente, a base da nossa existência e de nossos processos produtivos.

Mas não se engane, isso só será possível por meio de uma cultura consciente (“walk the talk”), isto é, de valores claros, coerente com a nova realidade e o plano de ação da empresa, bem como de valores propagados dentro dos princípios de investimento responsável (PRI), apoiados pelo Pacto Global e visados dentro da ótica do ESG.

E, não menos importante, de uma liderança consciente, pois uma organização é feita de pessoas – para atender e resolver os problemas e dores do mundo -, criados e solucionados por pessoas. Com isso, só por meio de uma liderança inspiradora, com escuta ativa e que saiba engajar, compartilhar e retirar o melhor das pessoas é que os resultados acontecerão.

Mudança de mindset necessária:

Direcionamento para a criação de valor sustentável, a partir do Modelo de Hart e Milstein, 2004:

Fonte da imagem: – Milstein, M. B.; Hart, S. L. Criando Valor Sustentável, 2004.

Redução de custo e de risco. Combate à poluição, minimiza resíduos e emissões das operações atuais. Menos resíduos significa melhor utilização dos insumos, resultando em custos mais baixos de matérias-primas.

Reputação & Legitimidade. Integra a perspectiva do stakeholder nos negócios. O gerenciamento de produto passa a incluir o ciclo de vida inteiro do produto, dentro de uma ótica de economia circular, para melhor utilização de matérias-primas e recursos naturais (“cradle to cradle”).

Inovação & Reposicionamento. Representa a oportunidade para as empresas – especialmente aquelas que dependem fortemente de combustíveis fósseis, de recursos naturais e materiais tóxicos – reposicionarem suas competências internas em torno de tecnologias mais sustentáveis (tecnologia limpa).

Crescimento & Trajetória. Realiza uma forma de capitalismo mais inclusiva, caracterizada pelo diálogo e colaboração de via dupla, com os stakeholders anteriormente desprezados ou ignorados pelas empresas (ambientalistas, minorias, população rural pobre em países em desenvolvimento), ajudando na abertura de novos caminhos, por meio do mapeamento das necessidades não satisfeitas.

Se mesmo assim, você ainda tiver dúvidas?

A B3 (Bolsa oficial do Brasil: Brasil – Bolsa – Balcão), lançou o documento “Novo valor – Sustentabilidade nas empresas. Como começar, quem envolver e o que priorizar”, no qual foram dados 7 motivos para investir em sustentabilidade:

  1. Identificação de novas oportunidades de negócio (inovação).
  2. Geração de receita, adaptação de produtos e serviços para atendimento de novas demandas do consumidor, acesso a novos mercados, fidelização de consumidores.
  3. Redução de custos, otimização do uso de recursos naturais (água, energia e outros insumos) na produção, estabelecimento de parcerias e desenvolvimento de fornecedores.
  4. Produtividade e capital intelectual, atração e retenção de talentos, aumento potencial da força de trabalho.
  5. Mitigação de riscos, redução da exposição a riscos socioambientais, impacto sobre riscos operacionais, de mercado, financeiros e operacionais etc.
  6. Atendimento e antecipação de demandas legais.
  7. Melhora da reputação e da imagem.

Por tudo isso, o que você e sua empresa estão esperando para se adequar à nova realidade?

Abrace esta causa, faça a diferença na sua empresa, mude a maneira de fazer negócios – restaurando nosso relacionamento com o planeta e recuperando os danos a ele causados.

Referências citadas:

– B3 (Bolsa oficial do Brasil: Brasil – Bolsa – Balcão). Novo valor – Sustentabilidade nas empresas. Como começar, quem envolver e o que priorizar s/d. In: http://www.b3.com.br/data/files/1A/D7/91/AF/132F561060F89E56AC094EA8/Guia-para-empresas-listadas.pdf Acesso em: 05/11/2020.

– Laloux, F. Reinventando as organizações: um Guia Para Criar Organizações Inspiradas no Próximo Estágio da Consciência Humana (português). Editora Voo, 2017.

– Milstein, M. B.; Hart, S. L. Criando Valor Sustentável. GV-executivo, v. 3, n. 2, maio-jul, 2004. In: https://rae.fgv.br/gv-executivo/vol3-num2-2004/criando-valor-sustentavel Acesso em: 12/05/2021.

– Tanaka, L. M. Mudanças climáticas e pandemia são crises convergentes, afirmam pesquisadores. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA – USP), 15/12/2020. In: http://www.iea.usp.br/noticias/mudancas-climaticas-e-a-pandemia-de-covid-19-sao-crises-convergentes-afirmam-pesquisadores Acesso em: 12/05/2021.

– Teko, G. Conheça as empresas humanizadas no Brasil. HSM Management, 18/04/2021. In: https://www.revistahsm.com.br/post/conheca-as-empresas-humanizadas-do-brasil Acesso em: 12/05/2021.

– Voltolini, R. Elkington, os “cisnes verdes” e os capitalistas do amanhã. NeoFeed. Liderança Sustentável, 11/03/2020. In: https://neofeed.com.br/blog/home/elkington-os-cisnes-verdes-e-os-capitalistas-do-amanha/ Acesso em: 12/05/2021.

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