O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, informou ao governo brasileiro, por meio de carta datada da última quarta-feira (9/07), a decisão de impor uma tarifa adicional de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA, com entrada em vigor prevista para 1º de agosto. Ainda não há confirmação de medidas de resposta por parte do Brasil, mas Trump já adiantou que qualquer retaliação gerará tarifas adicionais equivalentes.
A consultoria DATAGRO avalia que a medida terá um impacto negativo significativo nas vendas externas brasileiras de carne bovina, dada a relevância dos Estados Unidos como o segundo principal destino dos cortes bovinos exportados pelo Brasil, representando 12% do volume recorde embarcado no primeiro semestre deste ano.
No entanto, a DATAGRO pondera que, enquanto os exportadores brasileiros possuem flexibilidade para redirecionar cargas para outros mercados, os importadores norte-americanos podem enfrentar uma redução substancial na disponibilidade local da proteína. Um indicativo disso é o aumento da representatividade da carne brasileira nas importações totais dos EUA, que triplicou entre 2021 e 2025.
A análise da DATAGRO aponta que o impacto da tarifa tende a ser mais prejudicial aos americanos. Estima-se uma queda de aproximadamente 4% na demanda pela produção de carne bovina brasileira nos níveis atuais, um efeito que já tem sido precificado pelo mercado, como demonstrado pela recente queda nas cotações futuras do Boi Gordo na B3. Contudo, a dependência do mercado interno norte-americano pela carne bovina brasileira importada é maior, representando 5,4% da disponibilidade total. Essa maior relevância sugere que a nova taxação pode pressionar ainda mais a oferta local de gado e carne bovina nos EUA.
O principal produto exportado pelo Brasil aos EUA são os “beef trimmings”, utilizados na produção de carne moída, que representa metade do consumo per capita de carne bovina nos Estados Unidos. A DATAGRO destaca que a produção doméstica de carne moída nos EUA depende majoritariamente de fêmeas bovinas de menor qualidade, um animal atualmente escasso. Portanto, a tarifa atinge um pilar central do fornecimento de proteína bovina de base ao mercado americano.
A consultoria ressalta que mesmo a busca por fornecedores alternativos não deve suprir a lacuna, já que nenhum outro país se compara ao Brasil em termos de volume e preço. Apesar de a tarifa de 50% praticamente inviabilizar as exportações brasileiras de carne bovina para os EUA, a DATAGRO vislumbra que a limitação na oferta global pode abrir espaço para o Brasil em outros mercados, o que, a longo prazo, pode sustentar as vendas externas brasileiras de proteína bovina.