A inflação brasileira continuou bem acima da meta do Banco Central em sua leitura de meados de julho, conforme dados oficiais divulgados nesta sexta-feira. Esse cenário se apresenta às vésperas de uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para a próxima semana, na qual a expectativa generalizada é de que as taxas de juros sejam mantidas no patamar mais elevado em duas décadas.
A inflação acumulada na maior economia da América Latina atingiu 5,30% nos 12 meses até meados de julho, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice superou os 5,27% registrados no mês anterior e ficou ligeiramente acima dos 5,26% esperados por economistas em uma pesquisa da Reuters. O Banco Central do Brasil tem como meta de inflação 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, e as autoridades monetárias reiteraram o compromisso de trazer a inflação de volta a esse nível.
O Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 450 pontos-base entre setembro e junho, levando-a a 15%, o maior patamar desde julho de 2006. No mês passado, a instituição sinalizou uma pausa “muito prolongada” para avaliar os efeitos dos aumentos anteriores.
“Os números da inflação de meados do mês não dão aos formuladores de políticas nenhuma razão para considerar aumentar as taxas novamente”, afirmou Kimberley Sperrfechter, economista de mercados emergentes da Capital Economics. Ela projeta que as condições permitirão cortes nas taxas de juros por volta da virada do ano. O Copom, comitê responsável pela definição da taxa de juros, tem reunião agendada para os dias 29 e 30 de julho.
Considerando apenas o mês até meados de julho, os preços ao consumidor, medidos pelo IPCA-15, registraram alta de 0,33%, superando os 0,26% do mês anterior. A mediana das previsões da pesquisa Reuters indicava um aumento de 0,30%.
O IBGE informou que o aumento mensal foi impulsionado principalmente pelos custos com moradia, com a alta dos preços da energia elétrica, e pelos preços dos transportes, com o aumento das passagens aéreas. Por outro lado, os preços de alimentos e bebidas, um item de grande impacto no orçamento familiar, apresentaram queda pelo segundo mês consecutivo.
“O resultado de hoje não influenciará a decisão do Copom”, avaliou André Valério, economista sênior do Inter. “O Copom deve manter as taxas de juros inalteradas, reafirmar seu compromisso com o cumprimento da meta de inflação e não dar nenhuma indicação de quando poderá iniciar um ciclo de corte de juros.”