Entre julho e setembro deste ano, os fundos de venture capital (VC) fecharam 27 deals, totalizando um investimento de R$ 2,1 bilhões, alta de 23% no valor se comparado ao mesmo período do ano passado, quando foram investidos R$ 1,7 bilhão em 30 operações. Os dados são do relatório trimestral divulgado pela ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital) em parceria com a TTR Data.
Em valores, os maiores deals anunciados no período foram o aporte de R$ 350 milhões da General Atlantic e da Across Capital Partners na QI Tech — empresa que oferece infraestrutura para o setor bancário; a captação de R$ 147 milhões pela NG.CASH — plataforma de serviços financeiros voltada à geração Z — em uma rodada Série B liderada pela NEA (New Enterprise Associates), com participação da 17Sigma, a16z, Daphni, Endeavor Catalyst, Monashees e Quantum Light; e o investimento de R$ 100 milhões na ABC da Construção — rede varejista de materiais para acabamentos — realizado pela Dx Ventures, FIR Capital Partners, Redpoint Eventures e Spectra Investments.
Entre janeiro e setembro, os setores que mais receberam investimentos foram Tecnologia da Informação, com metade do valor (50,79%), seguido por de Serviços Financeiros (31,37%) e de Consumo, Produtos e Serviços (7,32%). Apesar da seca de IPOs no mercado brasileiro, os fundos realizaram 18 saídas neste período, sendo 14 via trade sale (venda para estratégicos) e 4 por secondary buyout (venda de fundo para outro fundo), totalizando R$ 2,88 bilhões.
“O trimestre nos mostra uma retomada do Venture Capital, o que logicamente precisa ser visto com bons olhos, ainda que a indústria de investimentos alternativos precise ser analisada no filme e não na foto de um período mais curto”, diz Priscila Rodrigues, presidente da ABVCAP.
A executiva analisa que o cenário macroeconômico doméstico segue criando desafios para as transações de VC, mas com bons negócios ocorrendo. “Na baixa liquidez e com juros altos, o capital fica mais estratégico e também força os empreendedores a estarem cada vez mais preparados para captar. Boas teses sempre terão investidores interessados”, comenta Priscila.
Além das dificuldades locais, o cenário global também é desafiador. O último relatório divulgado pela NVCA (National Venture Capital Association), revelou que a captação nos Estados Unidos foi a menor desde 2017. “Estamos vivendo um momento desafiador em nível global, o que tem se refletido até no mercado americano, referência mundial em venture capital. O Brasil acompanha essa tendência e segue demonstrando resiliência”, acrescenta.
Os fundos de private equity (PE) aportaram R$ 2 bilhões em 17 operações entre os meses de julho e setembro, um aumento de 33% no valor investido se comparado com o terceiro trimestre de 2024, quando 14 deals movimentaram R$ 1,5 bilhão. Já no comparativo com o segundo trimestre de 2025, quando foram investidos R$ 7,3 bilhões em 18 deals, houve uma queda de 72%.
“Vale destacar que o número de transações se manteve estável. Neste trimestre, foram realizados 17 deals, mas apenas três tiveram os valores divulgados. Portanto, o valor total das transações é muito maior”, ressalta Priscila. Isso ocorre porque são negócios entre empresas privadas, e muitas optam por não revelar o valor do investimento por razões estratégicas, o que dificulta o mapeamento do valor exato investido.
No segmento de private equity, os destaques do trimestre foram o aporte de R$ 640 milhões da General Atlantic na Starian Sistemas — empresa de software do Grupo Softplan; o investimento de R$ 556 milhões da Bessemer Venture Partners e da Cloud9 Capital na Canopy — plataforma de software para gestão de práticas contábeis; e o cheque de R$ 696 milhões da GEF Capital Partners e da Vinci Compass para a AGV Logística — especializada em tecnologia para operações logísticas.
O setor Energia recebeu 52,3% do valor total de investimentos do ano, seguido por Consumo, Produtos e Serviços (17,4%), Serviços Financeiros (7,4%) e TI (7,2%). Entre janeiro e setembro, os fundos de private equity realizaram 18 saídas, sendo 15 via trade sale e 3 por secondary buyout.
Os investimentos realizados pelos Corporate Venture Capital (CVCs) cresceram 16% se comparados ao mesmo trimestre do ano anterior. Entre julho e setembro de 2025, 18 deals movimentaram R$ 700 milhões. Já no mesmo período de 2024, foram investidos R$ 600 milhões em 17 transações.
No período, o setor de TI recebeu 50% dos investimentos, já as startups de Consumo, Produtos e Serviços, Serviços Financeiros e Healthcare ficaram com 17% cada.
As maiores operações de CVCs no trimestre em valor de investimento foram o aporte de R$ 200 milhões na A5X — nova bolsa brasileira de derivativos e futuros — com participação da XTX Ventures; o investimento de R$ 118 milhões na UME — plataforma brasileira de crédito e pagamentos via Pix — que contou com a participação da PayPal Ventures e da Globo Ventures; e o deal de R$ 100 milhões na ABC da Construção, realizado pela DX Ventures.
“Os dados levantados indicam que o mercado continua apresentando oscilações, influenciado pelos contextos político e econômico tanto no Brasil quanto no exterior, um comportamento semelhante ao observado em outros países analisados pela TTR Data”, comenta Wagner Rodrigues, diretor da TTR Data.
