Uma das condições necessárias para uma vida em sociedade é o controle dos nossos instintos. Crescemos aprendendo a controlar nossos impulsos e a representar papéis socialmente aprovados.
Na busca por aprovação e aceitação, muitas vezes, agimos conforme o que nós imaginamos que os outros esperam que façamos, comportamos para atender a expectativa do outro e deixamos nossas vontades e nosso “self” submersos.
Esse é o preço necessário para se viver em qualquer sociedade.
Dificilmente conseguimos distinguir o verdadeiro “eu” das pessoas, incluindo nós mesmos, de tão arraigado que o nosso papel social está no nosso modo de atuação. Mas, por vezes, a porção reprimida da nossa mente emerge, ditando o nosso comportamento.
Mas então, como poderíamos aprofundar o nosso conhecimento sobre as pessoas?
Há, pelo menos, três situações nas quais as pessoas se mostram como são, sem filtros sociais: situações de “stress”, momentos de relaxamento e quando estão livres do olhar do outro.
Sob situações de “stress”, não há tempo para representações sociais, a pessoa age por instinto, revelando o seu verdadeiro caráter e personalidade. Acuado pelo perigo iminente, não há tempo para que os filtros sociais possam atuar, deixando à mostra a sua verdadeira natureza.
No sentido oposto, mas com mesmo efeito, situações de absoluto relaxamento também são próprias para o descanso do nosso censor interno. De tão relaxado, ele baixa toda a sua guarda social e se revela por inteiro.
Temos também aquela situação onde a pessoa é totalmente anônima ou está supostamente fora do alcance do olhar do próximo. Para uns, isso será absolutamente indiferente, pois é a sua consciência que dita o seu comportamento, mas, infelizmente, para outros essa situação é sinônimo de carta branca para desrespeitar as convenções sociais.
No dia a dia da convivência social é pouco frequente presenciarmos ou vivenciarmos situações onde as pessoas, ou nós mesmos, somos expostos a qualquer uma das situações citadas. Porém, existe um esporte que nos proporciona várias maneiras de conhecer melhor a nossa natureza e a do outro.
Golfe é um esporte em que o jogador é o seu próprio juiz. Diferentemente da maioria de outros esportes, não há um juiz que acompanhe o jogo. Os mesmos são acionados somente em caso de dúvidas.
Essa particularidade é uma grande oportunidade para se testar o caráter dos jogador. Explico, a partida é vencida por quem embocar a bola nos 18 buracos em que a partida é disputada, em menor número de tacadas.
Suponhamos que a bola de um jogador ficou posicionada entre as raízes de uma árvore, impedindo uma tacada. Pela regra, o jogador pode declarar a bola injogável, pagar uma tacada de penalidade e reposicionar a bola numa superfície mais favorável. Porém, infelizmente, alguns jogadores, supondo que estão livres de olhares, preferem empurrar a bola com os pés em busca de uma área melhor e continuar o jogo, se livrando da respectiva penalidade.
Outra situação ocorre quando alguns jogadores contratam os serviços de um “caddie”, que é alguém que, além de carregar os tacos, pode oferecer um suporte técnico. Na dúvida, o jogador pode recorrer à opinião do seu “caddie”. Por vezes o jogador, após errar uma tacada, reclama que ele sempre dá sugestões erradas. É curiosa essa atitude, pois se suas indicações são regularmente equivocadas, porque o jogador insiste em contratar o mesmo “caddie”, continua perguntando e seguindo as suas recomendações? Para alguns, terceirizar o erro é a solução mais fácil.
Muitos gostariam de uma vida sem problemas: mas ela não existe. Uma lição importante que a prática do golfe nos proporciona é que a superação de uma situação adversa gera muito mais satisfação. O ponto é: o importante não é não cometer erros, mas como superá-las. Aprender a lidar e superar os problemas é um aprendizado que não tem preço. O golfe nos dá a oportunidade de vermos nossas reações, e as de outros, diante dos erros cometidos e quais as estratégias adotamos para superá-los.
Infelizmente são poucos os praticantes de golfe no Brasil, mas você pode exercitar o seu poder de análise em outras situações onde as pessoas estejam despidas da sua armadura social, e, assim, observar seu verdadeiro comportamento, superando as impressões epidérmicas iniciais.
Observe, analise e veja em quem você pode confiar a guarda de 1 milhão de dólares sem recibo.
Perguntado pela neta como poderia definir uma pessoa honesta, ele respondeu: “ é aquele que faz a coisa certa, independentemente de ter alguém olhando ou de uma recompensa.”
 
					






