Kinea Investimentos divulga carta trimestral de ações

Gestora Kinea comenta importância de entender posicionamento do mercado Ricardo Reis/Divulgação

A Kinea Investimentos, uma das principais gestoras de recursos do Brasil, com cerca de R$ 130 bilhões sob gestão, divulgou sua mais recente Carta Trimestral de Ações, intitulada “Positioning”. O documento destaca a importância de compreender como está a posição de agentes de mercado em determinados ativos. Na análise da Kinea, os preços são, em grande parte, o reflexo das ações dos participantes do mercado, e não apenas de fundamentos ou opiniões.

O conceito de “positioning” refere-se à maneira como os participantes do mercado estão alocados em ativos específicos ou temas de investimento. Diferente do “sentimento de mercado”, que reflete o que os investidores dizem ou acreditam, o “positioning” revela o que eles efetivamente estão fazendo. Essa dissonância entre discurso e ação pode indicar oportunidades ou mesmo vulnerabilidades do mercado.

“Um gestor que ignora o posicionamento do mercado corre o risco de entrar atrasado em temas já saturados, de subestimar movimentos abruptos de reversão, ou ainda de superestimar a capacidade de um trade continuar a performar. Mas verdade seja dita, entender e, até mesmo, quantificar o positioning está longe de ser uma tarefa fácil”, destaca a carta da Kinea.

Poucos ativos refletem tão bem a sensibilidade ao positioning quanto a Petrobras. Houve uma clara redução de exposição por parte dos investidores diante da incerteza sobre política de preços, governança e intervenção estatal. A posição reduzida em Petrobras foi praticamente um consenso entre casas de análise e fundos fundamentalistas.

No entanto, após a eleição, e com a manutenção temporária de dividendos elevados e sinais de pragmatismo, houve uma reentrada tática por parte de alguns players, provocando forte recuperação das ações. O ativo, que chegou a ser negociado abaixo de R$ 25, subiu para R$ 37 menos de um ano depois. Esse caso mostra como o positioning excessivamente defensivo pode criar distorções de preço e oportunidades de reversão — mesmo em ativos que carregam ruídos políticos persistentes.

Outro exemplo da gestora são as teses de tecnologia e inteligência artificial no mercado americano, no final de 2024 e início de 2025. O posicionamento extremo em big techs— refletido nos fluxos para ETFs como QQQ (Nasdaq) levou a um ponto em que mesmo bons resultados já não conseguiam sustentar novas altas. Um lembrete de que o preço reflete não só expectativas, mas também o espaço restante para surpresa.

Os casos analisados mostram que o positioning atua como força amplificadora nos mercados. Quando todos estão do mesmo lado, o espaço marginal se estreita, e o risco de reversão cresce. Quando há desalinhamento entre convicção e alocação — como em temas fora do radar ou ativos negligenciados —, abrem-se oportunidades para um posicionamento contracorrente mais eficiente”, destaca a carta.

Um dos desafios é justamente medir o posicionamento do mercado, pois envolve dados que muitas vezes não são diretamente observáveis. Para isso, utiliza-se de proxies, como fluxos de capital para fundos e ETFs, dados de derivativos e volume de ações vendidas a descoberto. Além disso, análises de exposição setorial em grandes portfólios ajudam a identificar temas populares e a concentração de investidores em narrativas.

Para a Kinea, em um ambiente de mercados cada vez mais líquidos, conectados e reativos, o “positioning” se consolida como uma das variáveis mais relevantes para a tomada de decisão em gestão de portfólios. Entender como os agentes estão alocados, quais narrativas já estão precificadas e onde existe espaço para surpresa torna-se uma vantagem competitiva real.

A gestora conclui que, mais do que uma métrica, o “positioning” é uma lente que revela não apenas o que o mercado pensa, mas como está posicionado em relação a essas crenças. Para o investidor moderno, compreender o “positioning” não é mais opcional, é essencial.

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