O LUPPA – Laboratório de Políticas Públicas Alimentares Urbanas – foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) como uma das iniciativas com impacto sistêmico na transformação dos sistemas alimentares, na recém-lançada publicação “Transforming Food and Agriculture through a Systems Approach” (Transformando Alimentos e Agricultura por meio de uma Abordagem de Sistemas, em tradução livre).
O programa é citado como exemplo de abordagem sistêmica e colaborativa para o desenvolvimento de políticas alimentares urbanas no Brasil, alinhando-se às recomendações da FAO para transformar os sistemas alimentares de forma integrada. Esse reconhecimento antecedeu o lançamento do relatório anual Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI) 2025, publicado no dia 28 de julho, durante a Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares, o 2nd United Nations Food Systems Summit Stocktaking Moment (UNFSS+4), promovido pelo UN Food Systems Coordination Hub, em Adis Abeba, na Etiópia, e que traz os números da fome no mundo e caminhos para a transformação dos sistemas alimentares .
O relatório “Transforming Food and Agriculture through a Systems Approach” ganha importância justamente por apresentar possíveis caminhos e soluções para os desafios que o SOFI deverá evidenciar, e a experiência do LUPPA destaca-se com sua comprovada capacidade de apoiar a transformação dos sistemas alimentares a partir das cidades e de um processo de aprendizagem sistêmica. “Enquanto o SOFI mostra o retrato da insegurança alimentar, o relatório lançado dias antes apresenta caminhos possíveis para superá-la, e o LUPPA está entre esses caminhos”, destaca Juliana Tângari, diretora do Comida do Amanhã e coordenadora geral do LUPPA.
Criado em 2021 pelo Instituto Comida do Amanhã, em correalização com o ICLEI Brasil, o LUPPA, que é uma plataforma colaborativa e um programa contínuo de aprendizagem, surgiu da necessidade de apoiar cidades a desenvolverem e aperfeiçoarem sua rota para a construção da Política de Segurança Alimentar e Nutricional. Desde então, tornou-se um catalisador de transformações locais, apoiando gestores públicos e a sociedade civil no desenvolvimento de políticas alimentares sistêmicas, colaborativas e estruturadas. Até este ano, já envolveu 59 cidades, e tem sido amplamente reconhecido por seu impacto na política pública alimentar municipal.
Voltado a formuladores de políticas e profissionais de sistemas agroalimentares, o relatório da FAO reúne experiências de diferentes países que adotam práticas colaborativas para enfrentar a insegurança alimentar, as mudanças climáticas e a desigualdade social. O LUPPA é citado como exemplo de mudança estratégica ao promover uma transição da aprendizagem isolada para a aprendizagem coletiva entre cidades brasileiras preocupadas com a segurança alimentar. Evidenciando como a “Aprendizagem coletiva entre cidades favorece o desenvolvimento de políticas alimentares integradas”, o documento apresenta as principais contribuições do programa a partir de quatro tópicos: mudança estratégica, ação prática, fatores facilitadores e resultados alcançados.
Entre as ações práticas do LUPPA que promovem esse aprendizado, estão encontro presencial (LUPPA LAB), mentorias e ferramentas desenvolvidas pelo laboratório, como a matriz de diagnóstico. A metodologia fortalece o pensamento e a ação sistêmica e ajuda as cidades a identificar gargalos e elaborar estratégias alimentares integradas e de longo prazo.
“Cada vez mais a FAO está indo para essa abordagem de valorizar as perspectivas sistêmicas, ao invés de tratar as ações de forma isolada, porque isso é essencial para a garantia dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)”, afirma Juliana.
Além do LUPPA, a publicação reúne iniciativas de diversos países que têm atuado de forma sistêmica, cada uma a partir de abordagens próprias. O Brasil aparece novamente como referência com o SISAN (Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) como referência de governança sistêmica de política alimentar.
O relatório SOFI, lançado durante a Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares (UNFSS+4), traz uma evolução dos indicadores globais, regionais e nacionais de insegurança alimentar e nutricional no mundo, sendo um retrato atual das dificuldades no alcance das metas dos ODS associadas à segurança alimentar e nutricional. O SOFI é o documento de referência onde se identifica quais países estão no “mapa da fome”, ou seja, que têm mais de 5% da sua população em estado de insegurança alimentar grave.
Uma das boas notícias trazidas pelo relatório, neste ano, é que o Brasil não está mais no Mapa da Fome. O resultado positivo é reflexo de decisões políticas que priorizaram a redução da pobreza, o estímulo à geração de renda, o apoio à agricultura familiar, o fortalecimento da alimentação escolar e a ampliação do acesso a alimentos saudáveis. Até o fim de 2023, cerca de 24 milhões de pessoas deixaram de enfrentar insegurança alimentar grave no Brasil, segundo dados da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), utilizada nas pesquisas do IBGE.
“Ano passado, houve uma abordagem um pouco diferente nas orientações de política pública do SOFI, com uma valorização, pela primeira vez de forma bem estruturada, de políticas públicas que tivessem uma abordagem mais sistêmica, que endereçasse mais questões e não apenas um único segmento de atuação. E, quando saiu esse resultado, eu lembro que pensei: que bacana ter saído isso no SOFI. O SOFI é sempre uma construção em evolução”, comenta Juliana.
Lançado anualmente, os dados do SOFI 2025 mostram que o Brasil ficou abaixo do patamar de 2,5% da população em risco de subnutrição ou de acesso insuficiente à alimentação, índice considerado fora do Mapa da Fome da ONU. O resultado, baseado na média dos anos de 2022, 2023 e 2024, representa uma virada significativa em apenas dois anos, já que 2022 ainda era considerado um período crítico para a fome no país. O avanço reflete o impacto de políticas públicas estruturadas e sustentáveis, como as que são promovidas pelo LUPPA.
Em 2023, o SOFI já havia citado o LUPPA como referência internacional, ao classificá-lo como um “food lab” (laboratórios alimentares voltados à construção de soluções para o ODS 2: Fome Zero e Agricultura Sustentável) com impacto na transformação dos sistemas alimentares urbanos e periurbanos.