Numa conversa recente, um jovem me falava do seu desejo por encontrar um trabalho do qual realmente gostasse e o fizesse feliz.
Nesse instante, não pude deixar de pensar na minha trajetória profissional e de todos os percalços que surgiram, e como estes acabaram definindo-a de modo muito distinto de qualquer plano que um dia tivesse feito.
Na tentativa de dar um pouco de luz à sua busca, compartilhei um pouco da minha jornada.
Quando as pessoas leem o seu currículo e as suas realizações nos “LinkedIn” da vida tendem a imaginar uma trajetória linear, muito bem planejada e executada, pois só vêm fotos de diferentes momentos da sua história e não o filme sem recortes.
Para começo de conversa, contei que abandonei o curso de Administração de Empresas e fui estudar Economia, porque não queria trabalhar como executivo.
Seguindo o meu plano, comecei minha carreira trabalhando como economista em um banco pertencente a um grande grupo industrial. Sem que tivesse solicitado, fui transferido para a seguradora do mesmo grupo. Na prática, me transferiram para evitar minha demissão. Eram outros tempos, a reengenharia só seria moda anos mais tarde.
Até então, não tinha a menor ideia do que fazia uma seguradora e também não estava claro qual seria o meu papel na empresa. Só me informaram que trabalharia na diretoria financeira.
O meu chefe, esporadicamente, solicitava um trabalho, o que ocupava uma parte do meu dia. Com tempo ocioso somado à minha curiosidade e inquietação, fui fuçando e criando, fazendo coisas sem esperar que me pedissem.
Ainda que aquela atividade não tivesse nenhuma relação com o que havia estudado, abracei e mergulhei fundo, fazendo sem saber exatamente no que daria. Tudo isso acompanhado de doses de indefinições, incertezas e dúvidas.
Dizer que foi tranquilo, não foi. Mas passado o momento inicial, consegui agregar valor à atividade financeira, criando todo um sistema de controle e monitoramento dos investimentos e fluxo de caixa da empresa, o que fez com que as dúvidas iniciais fossem dissipadas.
Depois deste início, a cada ciclo de quatro anos, sem que houvesse qualquer planejamento, fui assumindo áreas igualmente desconhecidas para mim, e esse ciclo prosseguiu até assumir a posição máxima em duas seguradoras.
A curiosidade e a vontade de aprender, me deram uma outra vantagem: eu tinha claro o que eu sabia e, mais ainda, o que eu não conhecia. E, o mais importante, tinha humildade para assumir o que eu não sabia, e me cercava de pessoas que tinham esse conhecimento, sem nunca deixar de reconhecer a sua contribuição. É incrível como um simples reconhecimento é capaz de mobilizar as pessoas.
E aquilo que não conhecia, eu me obrigava a ter o mínimo de conhecimento suficiente que me permitisse elaborar perguntas relevantes, mas sem a pretensão de ter as respostas.
Eu formulava as questões, o time respondia e a responsabilidade da decisão era minha. O sucesso era de todos e a responsabilidade do erro era minha. Foi um dos fatores chaves para a criação do espírito de corpo.
Meu pai me ensinou que quando você cria bem os seus filhos e alguém os elogia, não precisa dizer que foi você que os educou. Saberão que eles não se educaram sozinhos. Você só precisa de maturidade e auto confiança para ouvir o elogio em silêncio.
Por ironia, tudo isso aconteceu com alguém que trocou de faculdade para não ser executivo e por “acidente” terminou sendo transferido, a contragosto, para uma seguradora, diferente de tudo que poderia imaginar.
A vida não cabe numa planilha. Nunca desperdice uma oportunidade de aprender, pois ela lhe será útil em algum momento. Não fique à espera da onda perfeita, dê o máximo de si em cada onda que pegar.
Por fim não pude deixar de recomendar a leitura do discurso de Steve Jobs como paraninfo da turma de formandos da Stanford. Steve Jobs fala que muitas coisas não fazem sentido no momento que acontecem. Só farão sentido no futuro quando os pontos forem conectados. Mas, para isso, é preciso que você continue perseguindo os seus sonhos nos momentos difíceis.
Se valeu a pena? Como diria o poeta Fernando Pessoa : “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”