Há 15 anos, cientistas definiram 9 “fronteiras planetárias”, limites físicos que a humanidade não deve ultrapassar se quiser permanecer numa “zona segura”. São os sistemas de suporte de vida da Terra.
Sob efeito das atividades humanas, seis destes “limites” já foram ultrapassados – alterações climáticas, deflorestação, perda da biodiversidade, inclusão de produtos químicos sintéticos (incluindo, os plásticos), escassez de água doce e o equilíbrio do ciclo do nitrogênio (ou seja, insumos utilizados na agricultura), nos últimos anos e, segundo o novo relatório do Instituto Postdam para a investigação do clima (PIK), publicado no dia 23/09/2024, um sétimo, a acidificação dos oceanos, está prestes a ocorrer num futuro próximo.
O que está bem é a recuperação da camada de ozônio, graças à proibição de substâncias nocivas, em 1987, e, a concentração de partículas finas na atmosfera está próxima do limiar, mas apresentou sinais de melhora, graças à medidas tomadas em alguns países para melhorar a qualidade do ar. (Publico, 2024).
O que claramente não é o caso do Brasil, com o país em chamas, com cerca de 60% de seu território coberto por fumaça das queimadas. O fogo nas florestas queima todo mundo, as chamas devastam a fauna e a flora e deslocam comunidades localmente. A fumaça desses incêndios viaja e chega aos pulmões de quem está bem longe, a milhares de quilômetros. (ClimaInfo, 10/09/2024).
No mais, o desmatamento, as queimadas, a garimpagem, o agropastoreio e a biopirataria representam alguns dos principais problemas ambientais enfrentados pelo bioma amazônico, que corroboram com o aquecimento global.
O desmatamento das florestas, somado à elavação das temperaturas preocupa os pesquisadores da saúde também por causa dos seus impactos na transmissão de doenças patogênicas. 70% das doenças infecionas circulam entre animais e humanos (zoonoses). Dentro disso, 72% são causados por patógenos da vida silvestre. Então, quando os ecossistemas são abalados, apresentam maior risco de transmissão de patógenos para humanos. (IEA, 2021)
Em 2018, um relatório da Organização Mundial da Saúde já alertava que 9 em cada 10 pessoas respiravam o ar contaminado. Um morador de São Paulo, por exemplo, perdia, em média 1 ano e meio de vida por causa da poluição, segundo o médico patologista Paulo Sadiva, professor da USP.
As mortes ocorrem, principalmente, devido à inalação dos gases e exposição a partículas finas que penetram profundamente os pulmões, sistema cardiovascular, podendo causar acidentes vasculares cerebrais, doenças cardíacas, câncer de pulmão, doenças pulmonares obstrutivas crônicas e infecções respiratórios, incluindo a pneumonia. (IEA, 2021).
Então, que desenvolvimento é esse? O que é evolução para você? É destruir a Amazônia e o meio ambiente a ponto de que você mesmo não tenha futuro? Em nome de uma evolução que é só destruição? Ou buscar o equilíbrio, de saber conviver com a floresta, e dela tirar o equilíbrio do clima, que serve para todo mundo, ter uma economia que seja sustentável? Esta é a reflexão que a Ivaneide Bandeira Cardozo da Associação de Defesa Etnoambiental nos convida a fazer. (Documentário da BBC, 2021).
A hora e a vez da economia regenerativa, ou seja, modelos de negócios que reduzem seus impactos negativos e se propõem a gerarem impactos socioambientais positivos.
Para isso, necessário se faz a mudança de paradigma, pois por décadas, extraímos recursos naturais, destruímos habitats críticos e geramos poluição. Essa relação de mão única é insustentável.
Logo, precisamos redefinir o equilíbrio, reinvestindo na natureza o máximo que extraímos dela. É hora de reconhecer o valor da natureza e, ao invés de uma abordagem linear em que as coisas são usadas e descartadas, precisamos aplicar o pensamento circular onde as coisas são continuamente aproveitadas. Questão de escolhas que fazemos.
O que podemos fazer?
Acelerar a transição global para fontes de energias limpas. Fortalecer a habilidade da natureza em combater as mudanças climáticas, com planejamento integrado, biodiversidade e carbono no mesmo patamar de importância, por meio da regeneração florestal. Produzir alimentos de forma mais sustentável. Criar fontes de água com resiliência climática.
Como?
O avanço do agronegócio no Cerrado, as mudanças climáticas, o desmatamento da Amazônia e a morte da vegetação próxima aos rios, todos esses fatores têm feito que haja perda de superfície de água em 8 das 12 regiões hidrográficas, em todos os biosmas do Brasil. A redução de água doce no país entre 1991 e 2020 foi de 15,7% (IDS, 2021).
Por isso, precisamos de consumo e produção sustentáveis globais, economias circulares e Soluções baseadas na Natureza, o que inclui: abordagens para a restauração e conservação de ecossistemas, serviços de adaptação climática, infraestrutura natural, gerenciamento de recursos naturais, entre outras.
O crescimento econômico também não pode ser perseguido separadamente de um ambiente saudável ou bem-estar social. Ou seja, ir além do PIB e NÃO explorar petróleo na margem equatorial do país.
Modelos econômicos devem levar em consideração as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, a diminuição natural de recursos e seu impacto na sociedade. Por meio de decisões integradas, o novo sistema de contabilidade deve levar em consideração as interligações e dependências entre meio ambiente e economia.
Por fim, precisamos de lideranças com ImPacto, lideranças na figura de CEOs e presidentes que estão mudando o jeito de pensar e fazer negócios em suas empresas, alinhando as práticas gerenciais e operacionais aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Além disso, envolvem pessoas em um propósito, que combina sonhos e desafios de desempenho, que estejam à frente de companhias que entenderam a importância da sustentabilidade para a evolução do negócio e vêm criando formas de inserir os ODS nas estratégias de suas principais áreas. As lideranças com ImPacto encampam um movimento de transformação dentro de sua própria empresa e aceitam integrar os ODS e a missão do Pacto Global internamente, em suas operações, com a sua cadeia de valor e pontos de contato. (Pacto Global Rede Brasil, s.d.)
Referências Bibliográficas:
BBC News Brasil. Investigação revela terras protegidas da Amazônia à venda no Facebook. 26/02/2021. In: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56211156 Acesso em: 01/04/2021.
ClimaInfo. Brasil em chamas: país tem cerca de 60% de seu território coberto por fumaça das queimadas. 10/09/2024. Disponível em: https://climainfo.org.br/2024/09/09/brasil-em-chamas-pais-tem-cerca-de-60-de-seu-territorio-coberto-por-fumaca-das-queimadas/
Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). O Brasil está secando. 23/08/2021. Disponível em: https://www.idsbrasil.org/noticias/o-brasil-esta-secando/
IEA – Instituto de Estudos Avançados. Mudanças climáticas e a pandemia de Covid-19 são crises convergentes, afirmam pesquisadores. In: http://www.iea.usp.br/noticias/mudancas-climaticas-e-a-pandemia-de-covid-19-sao-crises-convergentes-afirmam-pesquisadores Acesso em: 31/03/2021.
Publica. Acidificação dos oceanos será a 7.ª “fronteira planetária” a ser ultrapassada. São nove. Alterações Climáticas: 24/09/2024. Disponível em: https://www.publico.pt/2024/09/24/azul/noticia/acidificacao-oceanos-sera-7-fronteira-planetaria-ultrapassada-sao-nove-2105250
Pacto Global Rede Brasil. Liderança com Impacto. Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/lideranca-com-impacto/