Por que alguns líderes confundem discrição com ausência de legado**
Durante minhas interações com executivos de alta liderança, uma resposta aparece de tempos em tempos:
“Sou low profile.”
A frase, dita com naturalidade, costuma vir seguida de uma recusa delicada a compartilhar trajetórias, aprendizados e visões. Mas há uma reflexão necessária — e urgente — por trás disso:
Será que manter-se “low profile” continua sendo uma escolha válida quando a ação de compartilhar conhecimento pode literalmente salvar vidas, inspirar jovens e abrir caminhos para quem nunca teve acesso a essas narrativas?
Low profile não é sinônimo de silêncio
Ser discreto é uma virtude. Humildade, sobriedade e foco no trabalho são marcas de grandes líderes.
Mas discrição não precisa significar omissão.
Ao dizer que prefere ser low profile, muitos líderes acreditam estar preservando a privacidade. No entanto, sem perceber, estão também privando milhares de jovens de modelos reais de superação, ética, coragem e visão estratégica.
No mundo atual — complexo, veloz, vulnerável — o silêncio das lideranças gera um espaço que será inevitavelmente preenchido por ruído, superficialidade e falsas referências.
O impacto que não aparece, não inspira
A trajetória de um executivo que saiu de uma infância simples, rompeu barreiras, liderou transformações, cuidou de pessoas e criou oportunidades… não é apenas uma história.
É um mapa.
E mapas salvam vidas.
Principalmente vidas de jovens que nunca tiveram alguém que lhes mostrasse o caminho.
Quando um líder decide não contar sua jornada, ele mantém sua biografia intacta, mas deixa de construir pontes para quem mais precisa.
A pergunta que permanece é:
low profile para proteger a própria imagem ou para manter protegido um desconforto interno sobre ser visto?
Legado não nasce do silêncio
Os grandes líderes da história não foram reconhecidos apenas por suas decisões, mas pela capacidade de compartilhar sabedoria.
- Quem ensina, multiplica.
- Quem compartilha, liberta.
- Quem conta sua história, abre portas para que outros também escrevam as suas.
Discrição é respeitável.
Mas legado exige coragem.
Quando a humildade vira desculpa
Muitos executivos dizem: “Minha história não é tão interessante.”
Mas isso raramente é verdade.
A humildade, tão admirável, às vezes esconde uma crença equivocada:
achar que só histórias grandiosas merecem ser contadas.
Na verdade, o mundo precisa justamente das narrativas humanas, reais, imperfeitas — porque é isso que conecta.
Low profile é uma escolha. Mas salvar vidas também é.
Se contar uma trajetória:
- inspira um jovem a não abandonar os estudos,
- ajuda alguém a tomar melhores decisões,
- reforça valores éticos num país que tanto precisa,
- fortalece a cultura de liderança responsável,
então talvez seja hora de questionar:
ser low profile é coerente com o impacto que esse líder já exerce?
O silêncio de hoje pode ser a ausência de inspiração amanhã
As próximas gerações buscam referências reais. Procuram líderes que não falam de cima de um pedestal, mas da vida como ela é.
E, por isso, fica o convite:
não se trata de autopromoção.
Trata-se de responsabilidade.
Trata-se de legado.
Trata-se de salvar vidas por meio da inspiração.
Afinal, nenhum líder chega onde chegou sozinho — e nenhum líder deveria partir sem deixar seu caminho iluminado para quem vem depois.






