Empoderar mulheres por meio do esporte é o objetivo da Mempodera, uma organização que oferece aulas de Wrestling (luta livre) e inglês e possui atuação em Cubatão, Itariri, Pedro de Toledo (SP) e São Luís (MA). Há sete anos, a meta é alcançada com êxito, e diversas meninas, de seis a 17 anos, participam das atividades e têm a oportunidade de se desenvolverem. Após completarem os 18 anos, há a opção de se manter na Mempodera e apoiar o desenvolvimento de outras adolescentes por meio da monitoria.
Esse foi o caso da Rayane Lima, que mora em Cubatão, com sua mãe e quatro irmãos, numa comunidade que segundo ela, “não é fácil e ninguém tem respeito com ninguém”. A jovem conheceu a organização ainda na escola. “Eu estava na sétima série e a Mayara e a Aline entraram na minha sala, foi quando eu vi que precisava fazer algum esporte. O que me motivou foi elas terem me mostrado que eu tinha potencial para fazer Wrestling. A Mempodera me ajudou a enfrentar muitos desafios e a nunca desistir dos meus sonhos. Eu até pensei, mas não fiz isso porque tem pessoas que me motivam. Aprendi que não podemos desistir fácil, pois na vida virão muitos desafios”, conta.
Empoderamento faz parte da metodologia da organização
A organização foi fundada por Aline Silva, a atleta brasileira, entre homens e mulheres, mais vitoriosa no Wrestling, e que também foi empoderada pelo esporte. Sua adolescência não foi nada fácil, principalmente por conta do acesso ao álcool, drogas, cigarros e até mesmo a casos que hoje ela entende como abuso. Aos 12 anos, teve seu primeiro contato com a luta, o judô. Quando mais tarde tentou largar o esporte, a mãe, não queria que ela o abandonasse, pois o esporte tinha feito com que Aline tivesse mudanças perceptíveis.
Em 2017, a Mempodera foi fundada, pois a atleta queria cuidar das meninas da forma que, anos antes, desejava ser cuidada. A organização possui uma metodologia feita com o apoio de diversos profissionais e oferece, além do Wrestling, aulas de inglês – que é uma forma de possibilitar novos acessos e oportunidades, pois apenas 5% dos brasileiros possuem o idioma como uma segunda língua, de acordo com um levantamento feito pela British Council -, e outras atividades com temas específicos e voltados para temas como abuso, saúde feminina, preconceito, economia, política, entre outros.
Hoje, a mãe, Lidia Silva, é gerente geral e diretora financeira da Mempodera, participando ativamente da mudança de vida de diversas meninas.
A autoestima, o empoderamento, o respeito e outros ensinamentos são assunto chave e abordados na Mempodera, tanto na rotina das aulas, quanto em oficinas que buscam também potencializar o desenvolvimento das famílias das participantes. As mudanças de cada participante incluem levar a atuação da organização para seus núcleos familiares, impactando diretamente dentro de casa, uma parte importante da perspectiva de cada atleta.
O esporte ativo na mudança
Quem também destaca o quão importante o esporte se faz na vida de quem o pratica, é Dayana Oliveira dos Santos Souza, professora de Wrestling da organização, mais conhecida como Daya. “O esporte pode sim transformar a vida de muitas mulheres, especialmente trabalhando a autoestima e o empoderamento delas de uma forma correta. Hoje, graças a Deus, temos mulheres tomando a frente em diversos esportes. Vemos que estamos crescendo e podemos fazer o que queremos, da maneira que queremos e nos colocar ou se qualificar tanto quanto um homem”.
Daya conta que quando começou a fazer a luta, ela e sua família tiveram que enfrentar diversos comentários, como “não é um caminho legal, ela tem que fazer ballet ou jazz”, mas ela manteve firme sua paixão pelas lutas e pelos esportes de contato. “Muitas vezes eu já desanimei, mas sempre teve alguém para falar: você consegue e você pode. Temos uma estrutura maravilhosa e que realmente me empodera. Seja na área de Recursos Humanos, na coordenação ou com a psicóloga. Isso me ensina bastante”, destaca, que ao entrar na Mempodera, conta que o que mais a encantou e motivou, foi a relação da organização com as meninas.
Atualmente, 15 professoras e monitoras fazem parte da organização e oferecem aulas para mais de 240 crianças e adolescentes que participam das atividades nos cinco núcleos espalhados por São Paulo e Maranhão. Ao todo, a equipe conta com 30 pessoas, sendo que 84% da equipe é formada por mulheres, que atuam nas mais diversas áreas, como comunicação, jurídico, gestão e coordenação, e a alta direção da organização é composta por mulheres negras.