Metade dos rios brasileiros tem vazão comprometida, aponta estudo

A pesquisa analisou quase 18 mil poços em todo o território nacional

A superexploração das águas subterrâneas está reduzindo o fluxo dos rios brasileiros, comprometendo sua disponibilidade hídrica devido à transferência de água para os aquíferos. Um estudo publicado na revista Nature Communications revela que, quando há diferenças entre a água do rio e a do subsolo, cria-se uma força que faz com que a água dos rios escoe para baixo, agravando a escassez.

A pesquisa analisou 17.972 poços e indicou que mais da metade dos rios do Brasil estão em risco, com 55,4% apresentando níveis de água abaixo da superfície dos rios próximos. As regiões mais críticas incluem a Bacia do Rio São Francisco e Matopiba (área que engloba partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que dependem fortemente das águas subterrâneas para o abastecimento da população.

Esse fenômeno pode ter impactos severos na segurança hídrica e no ecossistema, especialmente em áreas onde os rios são fundamentais para a irrigação, o consumo humano e a biodiversidade.

As áreas mais afetadas incluem também a Bacia do Rio Verde, que totaliza 74% dos rios da região com perda de fluxo. Além disso, o Bioma Cerrado, que abriga importantes aquíferos, como o Guarani, é a principal área de expansão agrícola, e pode ter seus rios comprometidos pela mudanças no uso e cobertura do solo.

Os pesquisadores alertam que a perfuração indiscriminada de poços para irrigação agrícola e consumo privado é um dos principais fatores de impacto na redução do fluxo dos rios brasileiros. Um estudo brasileiro publicado em 2021 revelou que cerca de 88% dos poços no país são ilegais, agravando ainda mais a situação.

A extração descontrolada de água subterrânea pode levar à redução da vazão dos rios e até ao seu desaparecimento em algumas regiões, comprometendo a biodiversidade, o abastecimento humano e a produção agrícola. Especialistas defendem uma gestão mais rigorosa dos recursos hídricos, incluindo fiscalização, regulamentação do uso dos aquíferos e incentivo a práticas sustentáveis de captação e consumo de água.

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